500 dias de Lula preso político: resistência, solidariedade e esperança

por Sulamita Esteliam

Cartas têm sido instrumentos de comunicação do ex-presidente Lula nestes 500 dias de sua prisão política. Ele escreve e as recebe em profusão. Claro, as visitas semanais e as entrevistas, obtidas em princípio por via judicial, também têm cumprido o papel de chave da cadeia injusta a quem vem sendo submetido o presidente mais amado – e também mais invejado e odiado – do Brasil.

Nesta terça, Lula recebeu carta da Vigília Lula Livre versando sobre os 500 dias de resistência e enfrentamento das arbitrariedades. E ele agradeceu a solidariedade e a persistente e resiliência de mulheres e homens dos 7 cantos do Brasil quem se mantém no acampamento ou em casas provisórias no Bairro de Santa Cândida em Curitiba, desde o 7 de abril de 2018.

Transcrevo as duas cartas, ambas divulgadas no sítio lula.com.br
 
“Vigília Lula Livre, 20 de agosto de 2019

Querido presidente Lula,

‘Estamos todos juntos 
Sozinho nunca estive 
O Lula vale a luta 
queremos Lula Livre’, uma das canções do início da Vigília.

Em 500 dias, sabemos o que é o exercício de repressão contra os movimentos populares e contra a esquerda; sabemos o que são as madrugadas frias em Curitiba, na Praça Olga Benário, em acampamentos ou nas casas improvisadas da região; sabemos o que significou o avanço da direita, do golpismo e das forças antinacionais e antipopulares, que enfrentamos diariamente na Vigília Lula Livre.

Em 500 dias, sabemos o que é apertar as mãos das principais lideranças nacionais e internacionais, estar ao lado das organizações socialistas da África, da social-democracia europeia, do sindicalismo estadunidense, de ex-presidentes de cinco países, todos preocupados com o risco que a sua prisão representa para a democracia mundial. Sabemos na pele e em nossa origem o que é a intolerância da elite brasileira, seu caráter racista, fascista, antinacional, que enfrentamos nas eleições que lhe foram retiradas de direito.

Hoje estamos na Vigília Lula Livre, mas não só. Estamos em comitês em várias cidades do país, estamos em faixaços nos viadutos e rodovias, estamos nas praças e ruas dialogando com uma população que já sente os efeitos de tantos golpes e retiradas de direitos.

Seguiremos organizados por Lula Livre, que hoje é o principal símbolo da recuperação da democracia e da recuperação do projeto nacional e de direitos sociais.

Aqui estamos, combatentes em 500 dias e quantos mais forem necessários. Aqui estamos, forjados em dores, mas também em alegrias, a de que nós não perdemos nossa capacidade de amar e sonhar com um outro país.

Um fraterno abraço 
Até a vitória, sempre!

Vigília Lula Livre”

Agora, a resposta de Lula à Vigília por sua libertação:

O Comitê Nacional Lula Livre produziu um vídeo sobre as visitas que o ex-presidente recebeu nesse período – muito além de familiares, amigos, advogados e religiosos, o espectro de visitantes vai de catadores de papel a um Prêmio Nobel, ex-chefes de Estado, lideranças dos movimentos sociais, políticos, artistas, intelectuais e outras personalidades internacionais. A lista é imensa – aqui as principais.

A presidenta Dilma Rousseff, primeira e única, também se manifestou a respeito em postagem em seu sítio oficial e em vídeo divulgado nas redes sociais.

Vai na mesma linha do artigo, publicado originalmente no jornal Folha de São Paulo, nesta data, assinado pelas presidentas do PT e do PCdoB, pelos presidentes do PSol e do Instituto Lula e por dirigente do MST. Aponta as injustiças e as consequências, inegáveis, dela para a democracia e para o Brasil:

“A prisão injusta de Lula permitiu a ascensão de um governo comprometido com o autoritarismo, o desmonte da educação pública e da universidade, o arrocho de salários e direitos, a renúncia da soberania nacional, a destruição do meio ambiente, o ódio, o preconceito e variadas sandices antipatrióticas.”

Dilma enumera as ilegalidades que compõem a condenação e o encarceramento de Lula, alvo final do golpe jurídico-parlamentar=midiático que a depôs da Presidência da República.

“O resultado é vergonhoso: um inocente está preso e um neofascista despreparado está no poder.

Só haverá justiça com a anulação do julgamento e a absolvição de Lula.”

Vai ao ponto nevrálgico que adoece a nação e que indigna o mundo. Ainda mais quando afirma:

“#LulaLivre é um imperativo moral, uma exigência civilizatória, um ato de justiça que o Judiciário não pode negar a um inocente. Mais ainda quando o inocente é o único capaz de pacificar o país.”

O A Tal Mineira transcreve a íntegra do texto assinado pela presidenta:

Lula preso e a democracia ferida

Prisão ilegal do ex-presidente completa 500 dias. #LulaLivre significa paz e democracia para o Brasil.

20/08/2019 10:27

por Dilma Rousseff

Um poema do pastor Martin Niemöller, que inspirou Bertolt Brecht e Eduardo Alves da Costa, tornou-se símbolo da crítica à indiferença diante do nazismo. Nos momentos históricos em que valores estão em jogo, a indiferença torna-se dramática e leva ao caos. Valeu para a Alemanha dos anos 1930, vale hoje.

“Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me,
porque, afinal, eu não era comunista.
Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me,
porque, afinal, eu não era social-democrata.
Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei,
porque, afinal, eu não era sindicalista.
Quando levaram os judeus, eu não protestei,
porque, afinal, eu não era judeu.
Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse.”

A prisão de Lula completa nesta terça-feira 500 dias de ilegalidade e de ofensa ao Estado democrático de Direito. Representa o desrespeito às garantias constitucionais, ao devido processo legal, à presunção de inocência e aos direitos humanos. É uma ameaça. Se Lula está preso ilegalmente, qualquer um pode ser. Tudo começou quando fui derrubada pelo golpe de 2016, sem que houvesse cometido crime.

Ali está o ato inaugural de um processo de destruição da democracia. E ficou por isso mesmo.

Exceto pelos progressistas e democratas, diante do golpe e da prisão de Lula, quando era urdida uma injustiça contra um inocente, muita gente deixou de reagir. Sua única transgressão é ser o maior líder popular da história do Brasil. Agora, depois das revelações do site The Intercept, todos sabem que Lula foi vítima de uma trama para destruir sua reputação e roubar sua liberdade.

O juiz que o condenou foi o mesmo que grampeou um telefonema entre mim e o ex-presidente e vazou o áudio para a TV Globo. Crime grave, alvo apenas de suave reprimenda. E ficou por isso mesmo.

O mesmo juiz que condenou Lula validou delação arrancada sob coação de um empresário que, antes, havia dito que o ex-presidente era inocente. Arrancada por intimidação, tal delação foi a base da condenação. E o abuso prevaleceu.

Para emprestar sentido à sentença, o juiz alegou que condenava Lula por “atos indeterminados”. Até mesmo a Lava Jato confessara não ter provas. Mas também esta extravagância judicial prevaleceu.

Com Lula já preso, esse juiz suspendeu as próprias férias para coagir a Polícia Federal a descumprir decisão de desembargador que mandara libertá-lo. E, como nas situações anteriores, o abuso não foi corrigido.

Em 2018, na semana do 2º turno, o juiz vazou delação rejeitada pelos procuradores, assegurando a vitória da extrema-direita. E a Justiça não tomou qualquer providência.

Após a eleição, o juiz foi convidado a se tornar ministro do presidente eleito graças às suas interferências ilegais. E ficou por isso mesmo.

Agora, o mal está feito. O Brasil está sendo devastado por um governo neofascista na política e neoliberal na economia, encabeçado por um presidente escatológico e intolerante. Flagradas suas parcialidades, o juiz e os procuradores que se uniram em conluio para condenar Lula, destruir a economia e atropelar a Justiça negam o inegável. Desmentem o indesmentível.

O resultado é vergonhoso: um inocente está preso e um neofascista despreparado está no poder.

Só haverá justiça com a anulação do julgamento e a absolvição de Lula.

#LulaLivre é um imperativo moral, uma exigência civilizatória, um ato de justiça que o Judiciário não pode negar a um inocente. Mais ainda quando o inocente é o único capaz de pacificar o país. Livre para promover entendimento, Lula levará o Brasil a unir as forças sociais, sem exclusões, numa frente pela democracia, pela soberania e pelos direitos do povo. Tal frente vai buscar a saída para a crise institucional, política e econômica em que Brasil foi jogado pelo golpe de 2016, pela prisão de Lula e pela eleição de Bolsonaro.

#LulaLivre é um grito de esperança para que deixemos de ser um país conflagrado, contaminado pelo ódio e governado pela insensibilidade, para voltar a ser uma nação viável, socialmente justa e generosa com o seu povo.

#LulaLivre significa paz e democracia para o Brasil.

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