por Sulamita Esteliam
Poupei-me do noticiário sobre o sequestro que terminou com a execução do sequestrador do ônibus na Ponte Rio-Niterói. Ando muito à flor da pele e com o estômago extremamente sensível. Inaugurou a série de coisas ruins que desabam sobre nossas cabeças esta semana, mais uma neste Brasil que deixou de ser Deus como um dos seus.
Mas é impossível não ver a foto do governador Witzel vibrando com a ação homicida de sua polícia. Não dá para fugir da realidade de que este foi apenas um dos mais das 800 pessoas abatidas no estado que teima em empanar com a barbárie as belezas naturais com as quais foi brindado.
Pior de tudo é constatar que ações como essas encontram respaldo entre nós. Há gente, e não é pouca pouca gente, que aplaude execução de seres humanos como política de segurança. Vamos e estamos mal, muito mal…
E a charge do amigo Cau Gomez, publicada originalmente no Jornal A Tarde, de Salvador, para variar, vai ao ponto. Obrigada.Dito isso, e já no apagar das luzes desta quarta-feira, transcrevo artigo de Cid Benjamin publicado pela Forum, que traduz, já no título, o que quero dizer. Sim, “A sociedade está doente”!
Buenas!
A sociedade está doente
Cid Benjamin: “Que o governador agisse assim, não foi surpresa. Que não houvesse uma dura reação da sociedade, é preocupante. Mais grave do que um governador psicopata é termos uma sociedade conivente com a psicopatia”

O que manda o bom senso quando ocorre um sequestro como o de terça-feira (20) num ônibus na Ponte Rio-Niterói? Negociar, negociar e negociar. Cansar o sequestrador, mostrando-lhe que o mais sensato é a rendição. Para tal, múltiplas iniciativas podem ser tomadas. Convocar psicólogos e especialistas em negociação, levar a família e pessoas do entorno do sequestrador para auxiliar no convencimento etc. E ter paciência, muita paciência.
Claro, se há ataque a algum refém ou algum gesto do sequestrador que coloque em risco imediato a vida de alguém, justifica-se que seja “abatido”, para usar uma expressão ao gosto do governador Wilson Witzel. Mas o fato de o sequestrador ter amarrado as mãos dos reféns e estar com gasolina não configura essa situação.
Não se configurou risco mediato aos reféns. O sequestrador chegou a sair do ônibus e ficar a poucos metros dos policiais, conversando com eles.
Por isso, erra quem afirma que a polícia agiu corretamente ao matá-lo. Aliás, não foram tiros característicos daqueles disparados por um sniper. O sequestrador recebeu seis disparos, um deles na perna. Em geral, o sniper, quando entra em ação, faz um único disparo, certeiro, imobilizando o alvo.
Assim, ao contrário do que tem sido dito, não foi uma ação correta da polícia, do ponto de vista profissional.
E pergunto eu: a polícia não dispõe de armas que disparam projéteis com tranquilizantes, semelhantes aos usados por alguns caçadores? Se não tem, deve providenciá-las.
A ação policial na ponte foi algo bem ao estilo cowboy do governador.
E, depois, o comportamento de Witzel, foi chocante.
Morto o sequestrador e encerrado o episódio, o governador entra num helicóptero, vai ao local acompanhado de assessores que filmavam sua performance e sai dando pulos e socos no ar, como fazia Pelé ao comemorar um gol.
Em seguida, anunciou a promoção por bravura (!!!!) dos policiais envolvidos na operação. O que é isso se não o estímulo à letalidade das ações policiais?
É espantoso como as críticas a esse comportamento doentio ficaram restritas às redes sociais.
Que o governador agisse assim, não foi surpresa. Já é conhecido o seu estilo.
Que não houvesse uma dura reação da sociedade, é preocupante.
Mais grave do que um governador psicopata é termos uma sociedade conivente com a psicopatia.