por Sulamita Esteliam
É…, a gente sul-americana até achava que havia superado a sina de republiquetas de bananas. Mas aquela ideia de avanço democrático, social e geopolítico, com um mínimo de redução da desigualdade, elevação da autoestima e soberania tornou-se um pesadelo do lado de baixo da Linha do Equador.
À exceção da Argentina, que já superou o malogro da guinada à direita, e do Chile onde o povo desperto obriga o recuo do governo nas perversidades sócio-econômicas.
O que acontece na Bolívia no momento é mais do mesmo: golpe civil-militar, orquestrado pela direita que se acha dona da bola e não sabe perder o jogo. Com requintes de crueldade, diga-se. Queimar casas de adversários é medieval, para dizer o mínimo.
Nesta terça, com Evo Morales a salvo, depois de renunciar e ser alvo de caça, exilado no México, a segunda vice-presidente do Senado, Janine Añes, da direita golpista, se autoproclamou presidenta da casa e do País.
Síndrome de Gaidó, o Juan venezuelano oposicionista inconsequente, que acabou se dando mal. mas jogou seu país no limbo; com todas as criticas que se possa ter ao governo de Nicolas Maduro.
“Eu denuncio à comunidade internacional que o ato de autoproclamação de uma senadora como presidente viola o Constituição Política de Estado da Bolívia e as regras internas da Assembléia Legislativa. O golpe se consuma com o sangue de irmãos mortos pelas forças policiais e militares usadas para o golpe.”
Morales mostra que está disposto a resistir, denunciando o achaque a que seu país e sua gente está submetido.
Nem é preciso dizer que o Brasil do capiroto e da negação de política externa foi o primeiro a país a reconhecer a golpista que ora dá cara à usurpação. É de fazer corar o bobo da corte.
Ou não. Não se descarta, inclusive, que o dedo do desgoverno brasileiro esteja metido no buraco do golpe urdido nos Estados Unidos, e que queria a cabeça de Morales espetada numa lança em praça pública.
As elites latino-americanas são mesmo assim: robôs a serviço do império e da sua própria ganância. Vira-latas do Tio Sam, dispostos a matar seja quem for para servir ao dono. Tudo, em nome de Deus.
Parêntesis: não estou bem hoje, como não estava ontem. Parece que fui capturada por uma dessas viroses bravas. Mal me aguento de olhos abertos, e a luz da tela do portátil beira o insuportável. A ver como evolui.
Devo comentários sobre a libertação de Lula e suas repercussões, mas terá que ficar para depois.
Por ora, transcrevo, matéria do sítio do Barão de Itararé, sobre o exílio político de Evo Morales, que foi obrigado a renunciar à Presidência da Bolívia para tentar minorar a violência contra seu povo e salvar a própria vida.
No México, Evo Morales pede fim da violência e diz que seu delito é ‘ser indígena e anti-imperialista’
Após superar diversos obstáculos diplomáticos em uma verdadeira saga aérea, o avião militar mexicano que transportava Evo Morales aterrissou, na tarde desta terça-feira (12), no aeroporto internacional da Cidade do México. Acompanhado de seu vice-presidente, Álvaro García Linera, e de sua ministra da Saúde, Gabriela Montaño, Evo Morales desceu da aeronave e foi direto ao microfone. Em pleno aeroporto, Evo já deu indicativo de qual será seu papel durante o asilo político: denunciar o golpe, coordenar a resistência e, vivo, dar continuidade à luta do povo boliviano por igualdade e justiça social.
Por Felipe Bianchi
“Lamentavelmente, a Polícia e as Forças Armadas se somaram ao golpe. Nos últimos dias, queimaram tribunais eleitorais, atas e documentos das eleições. Queimaram sedes sindicais e casas de líderes políticos e sociais. Saquearam e queimaram a casa de minha irmã. Saquearam minha casa em Cochabamba e tentaram saquear uma outra casa, pequena, que tenho – meus vizinhos a protegeram, o que agradeço”, relatou. Segundo o mandatário boliviano, que renunciou ao cargo dois dias atrás (10/11), tudo ocorreu com a vista grossa de quem deveria assegurar a paz e a ordem, além de “mentiras” e “descaramento” de prefeitos e governadores da oposição. “Faço um novo apelo para que não haja mais derramamento de sangue e enfrentamento”, clama o líder índigena.
Ao explicar a aceitação da oferta de asilo por parte do México, Evo fez grave denúncia sobre os bastidores da cruzada para capturá-lo: “Sábado, dia 9 de novembro, quando chegávamos à Cochabamba, um membro da equipe de segurança do Exército me informou, me mostrou, para que eu mesmo pudesse ler, mensagens que tentavam suborná-los, para que me entregassem por 50 mil dólares”. A direção do Movimiento Al Socialismo (MAS), força política liderada por Evo Morales e Álvaro García Linera, soltou um comunicado, também nesta terça (12), revelando que estava em curso um sofisticado plano de “magnicídio”, visando a captura e o assassinato de Evo. O documento deixa claro que a decisão de Evo não foi de cunho individual, tendo passado pelo crivo coletivo do partido, ciente do grave risco ao qual seu líder estava exposto.
“Estamos muito agradecidos ao governo mexicano. O presidente do México [Andrés Manuel López Obrador] salvou nossa vida e a do povo boliviano. Irmãos e irmãs, governo mexicano, agradecemos muito a recepção. É importante estarmos com vida, o que nos permite seguir lutando com o nosso povo. Por isso, Marcelo Ebrard [chanceler mexicano, retratado na foto à esquerda], agradeço por me salvarem a vida.”, diz.
“Enquanto eu estiver vivo, seguimos na política. Enquanto tivermos vida, seguimos na luta”, sentencia. “Estamos certos de que os povos do mundo têm todo o direito de lutar por sua libertação. Achei que tínhamos acabado com a discriminação, a opressão e a desigualdade, mas ressurgem grupos que não respeitam a vida e muito menos a pátria. Se algum delito cometi, é ser indígena. Se algum pecado cometi, ao ser presidente, foi termos implementado programas sociais para os mais humildes, buscando mais igualdade e mais justiça. Só haverá paz quando garantirmos a justiça social, disso estou mais convencido que nunca. Nosso delito, nosso pecado é sermos anti-imperialistas. Que o mundo inteiro fique sabendo: não é por este golpe que vou mudar ideologicamente”.
Evo voltou a destacar o fato de que seu governo alcançou resultados extraordinários na redução da extrema pobreza e que os ataques partem de quem não aceita o “processo de câmbio”, que tem como uma de suas principais bandeiras a distribuição de renda. “Isso que está passando em nosso país vai fortalecer a luta dos povos na Bolívia e, talvez, no mundo”, opina.