
por Sulamita Esteliam
No Dia Internacional dos Direitos Humanos, o Brasil deveria celebrar intensamente os 51 anos de revogação do AI-5 – Ato Institucional número 5, de aterrorizante memória da ditadura civil-militar que nos roubou 21 anos de evolução democrática.
Deveria, assim mesmo no futuro do pretérito. Apesar dos boquirrotos desejos de uns e outros que habitam as estruturas do poder arcaico. Mesmo sem a caneta barata que só traduz deboche.
A anti-institucionalidade vigora. Direitos sociais, trabalhistas, políticos e econômicos estão castrados. Assim como se instala a desfaçatez, a justiça do inimigo e o terror de Estado sob o estímulo de quem o habita.
Neste 10 de dezembro, mais do que sempre, está no ar a pergunta que não pode calar: direitos humanos para quem!?
Quem mandou matar Marielle Franco e por quê!? Quem é o terceiro homem no carro dos executores da vereadora e do motorista Anderson Gomes?
Onde está a polícia que não responde? Cadê o Ministério Público que não diz a que veio no caso?
Pipocam perguntas, também com relação à matança de indígenas e povos originários. Quem financia as balas e porretes que põem fim às vidas de lideranças importantes para a afirmação de cidadania e respeito?


Nesta terça, caiu mais um do povo Tuiuca, em Manaus. Foi espancado no dia 02 de dezembro, socorrido ao hospital, não resistiu as ferimentos na cabeça e morreu no domingo, 8. A informação é do Jornal GGN.
Humberto Peixoto, que trabalhava no Cáritas Arquidiocesana e assessorava a Associação de Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro (AMARN) .Tinha 37 anos, era casado e pai de uma criança.
É a quarta liderança indígena assassinada em Manaus neste 2019, que parece não querer terminar.
Os outros são: o cacique Francisco de Souza Pereira, dia 27 de fevereiro, aos 53 anos, em conflito na comunidade de Urucaia; Willame Machado Alencar, o ‘Onça Preta’, 42 anos, em conflito no Cemitério dos Índios, em 13 de julho’; Carlos Alberto Oliveira de Souza, Makpack, 44 anos, dia 6 de agosto, em conflito também no Cemitério dos Índios.
Todos executados a tiros. Todos moradores da periferia de Manaus ou ocupações sob o jugo do narcotráfico. Todos não se deixavam intimidar pelo equivalente local às milícias, além de traficantes.
O balanço preliminar da Comissão Pastoral da Terra, indica 2019 como o ano em que mais se matou indígenas em conflitos no campo no país em 11 anos: sete mortos, quando em 2018 foram dolis. Também este é o ano em que o número de conflitos pela terra cresceram assustadoramente, fazendo até agora 27 vítimas fatais.
No sábado, 7, dois caciques Guajajara foram tocaiados e assassinados a tiros próximo à aldeia El Betel, Terra Indígena Cana Brava, no município de Jenipapo dos Vieiras, no Maranhão: Firmino Praxede Guajajara, da TI Cana Brava, e Raimundo Belnício Guajajara, da TI Lagoa Comprida. Outros dois indígenas feridos foram socorridos ao hospital já estão fora de perigo.
Membro da mesma etnia, o líder o líder Paulo Paulino Guajajara foi assassinado na TI Araribóia, também no Maranhão., dia 1º de novembro. No mesmo ataque, outro indígena, Laércio Souza e Silva Guajaraja foi alvejado, mas sobreviveu.
Outro indígena executado, desta vez no Amapá, foi Emyra Waiãpi, aos 69 anos, no conflito Waiãpi/Aldeia Mariry, em Pedra Branca do Amapari (AP).
Enquanto isso, o des-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, frustrou as expectativas de diálogo e deixou a COP-25 , quase fugido, após discursar. Antes, se recusara a prestar homenagens às lideranças indígenas assassinadas na Amazônia.
Negligência e estimulo formam o caldo de beligerância cozinhado a altas temperaturas, a partir do des-governo.
Em entrevista à Rádio Brasil Atual, o coordenador-regional do Cimi no Maranhão, Gilderlan Rodrigues da Silva vai ao ponto:
“As terras indígenas, que estão na área da Amazônia, estão sofrendo cada vez mais com invasões potencializadas por esse discurso presidencial que ele tem feito desde a sua campanha. Logicamente isso também (ocorre pela) certeza da impunidade, porque uma coisa vai levando à outra, até então vários que cometeram crimes contra os indígenas não foram responsabilizados e isso também garante, potencializa, essa violência contra os povos indígenas na região”.
Deixo você com Sônia Guajajara, coordenadora-executiva da Apib – Articulação dos Povos Indígenas no Brasil: