
por Sulamita Esteliam
Domingo pela manhã, as mulheres caminharam pela beira-mar de Boa Viagem, Zona Sul do Recife, em ato pelo fim da violência contra a mulher. Em Beagá, minha Macondo de origem, também houve passeata com o mesmo propósito, a partir da Praça da Liberdade até a Av. Afonso Pena, no centro da cidade.
No Brasil, 26 cidades se mobilizaram e a ação se deu também em outras partes do mundo. Mulheres, e homens também, de todas as idades, se vestiram de laranja, cor escolhida para simbolizar a causa dramática, com caráter epidêmico aqui, acolá e alhures.
Os atos, organizados pelo Grupo Mulheres do Brasil, antecipam o encerramento dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra a Mulher, campanha global iniciada em 26 de novembro, Dia Internacional de Combate à Violência de Gênero. E que finda dia 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, aniversário da Declaração Universal de Direitos Humanos.
O objetivo é conscientizar a sociedade para a emergência de se dar um basta ao flagelo que é a violência, de qualquer espécie, sobre a mulher.
Não é só o feminicídio irremediável na inaceitável estatística de um mulher morta a cada duas horas. É a inadmissível constatar que ocorre um estupro a cada 20 minutos no Brasil, e que mais da metade dos casos sejam de meninas de até 13 anos de idade. Em 62% de todos os registros a vítima tem até 18 anos.
Isso sem contar o que não é denunciado, ou não é tipificado devidamente, dado a omissão ou mau preparo dos agentes públicos.
E o que é pior, as violações não ocorrem porque andam por aí seminuas, a qualquer hora do dia ou da noite: a violência se dá no recôndito do lar, por parentes ou gente próxima da família.
Informações do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com base em 2018; o ano em que mais se violentou mulheres neste país, desde 2007, quando se iniciou a coleta sistemática de dados. Estão em reportagem da Folha SP, de 04 deste mês.
O silêncio, por qualquer motivo só faz perpetuar o mal.
A grande notícia no Recife é que novembro foi o mês em que não se teve registro de feminicídio em quaisquer dos 184 municípios pernambucanos. Palavra da secretária da Mulher do estado, Silvia Cordeiro. Ela garante que a universalização do acolhimento e proteção de mulheres vitimas de violência em todo Pernambuco explicam.
É auspicioso saber que a integração de políticas públicas se revelam em segurança de fato. Há nada menos do que mil mulheres sob risco de morte incluídas na rede de proteção pública. O dado fala por si.
A solução começa em casa, pelo exemplo. Mas, sobretudo, é fundamental educar de forma igualitária meninas e meninos, em casa e na escola. Quebrar a cultura é trabalho de longo prazo, mas é preciso começar já.
É o que tenho repetido exaustivamente em meu périplo para divulgar o meu livro Em Nome da Filha, que conta uma história de um relacionamento abusivo levado à última consequência, o feminicídio.
A história é real, narra, em forma de romance, um crime anunciado, que se concretizou também pela omissão do Estado pernambucano.
É um alerta para a impossibilidade de uma relação que rima amor com dor, que machuca, tortura e mata. É um chamado para se quebrar mais e mais os silêncios que alimentam a violência, para a necessidade de se meter a colher, sim – famíliares, amigos, vizinhos.
Não se pode ser cúmplice, em hipótese alguma. Denuncie! Busque ajuda. Disque 180 em qualquer lugar do Brasil.
E este não é um problema de mulheres, nem se justifica que o apelo parta, sempre e quase tão somente, dos movimentos feministas. Este é um problema da sociedade, diz respeito a todos nós, mulheres e homens.

Com foco nesta ideia, aparentemente simples, é que nesta segunda se lançou em São Paulo a campanha #a_gente, iniciativa do Núcleo de Gênero do MP-SP do Ministério Público de São Paulo e da plataforma Free Free. – plataforma que acolhe mulheres em situação de vulnerabilidade social e resgata a autoestima através da moda.
O objetivo é ampliar o leque de agentes sociais que falem a seus grupos sobre o tema que nos aflige a todos.
A campanha #a_gente fala de todas e todos nós. É da união de nossas potências que podemos provocar a mudança que #a_gente quer ver no mundo. Cada pessoa com suas vivências e experiências, agregando expertises diversos e complementares ao coletivo. No fim das contas, somos seres humanos, mulheres e homens, reunindo esforços para construir um mundo com menos desigualdade e violência de gênero.
#a_gente fala sobre nós, numa jornada coletiva por um mundo livre, sem a dor da violência e da desigualdade. #a_gente é quem atua pela mudança, e gente representa todos e todas nós. Vem com #a_gente?
#a_gente vence
#a_gente transforma
#a_gente muda”
#a_gente ama
#a_gente liberta”
Leio na Universa, via Agência Patrícia Galvão. Euzinha tenderia a dizer “demorou”. Mas a inciativa chega em boa hora.
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Em tempo: meu portátil continua com vontade própria, só acessa quando tem vontade, que nem sempre coincide com a minha disponibilidade ou condições de temperatura e pressão. Daí a intermitência na postagem. Sei que posso contar com sua compreensão. Obrigada.