por Sulamita Esteliam
Meu dia foi estragado por um vídeo que abri logo pela manhã, antes das seis, assim que liguei o celular que dormitava à mesa de cabeceira, ainda sentada na cama: violência policial contra uma mulher, grávida, dentro do que parece se uma delegacia em Bonito, no Mato Grosso do Sul.
Não fossem as imagens nítidas, seria inacreditável. A semana de trabalho já começa torta.
A mulher está algemada, sentada numa cadeira, e tenta se defender com os pés, enquanto leva socos e pontapés de um PM. Ela tenta se erguer, mais de uma vez, e o troglodita a empurra de volta, enquanto outro soldado ajuda a mantê-la alvo fixo das pancadas criminosas.
O vídeo foi gravado por câmeras de segurança do local, dura 20 segundos, que parecem uma eternidade. Cessa quando uma soldada, finalmente, interfere e contém o colega.
Na verdade é um quartel da PM, sabe-se ao ler a notícia completa. Os soldados estavam, portanto, em casa. E o uso da força é naturalizada, pois é a base do treinamento na corporação, criada pela ditadura civil militar de 64 para ser força repressora auxiliar.
Pouco importa que seja uma mulher. A gravidez é mero detalhe. Vai ver são filhos de chocadeira.
Impressiona a resistência da mulher contra a força da agressão brutal. Depois de tudo, ela ainda consegue manter-se de pé, refugando o controle das algemas e do braço de outro policial que tenta contê-la.
Ao ler a notícia, fica claro de onde vem a energia que a mantém no ataque, mesmo indefesa: ela tem uma criança autista, com 3 anos, para cuidar; e ela estava no hotel, e surtou pois estava com fome.
E foi por sua bebê que ela se alterou ao reclamar da demora de entrega da comida que ela pedira num restaurante da cidade. E acabou presa, pois a dona do local chamou a polícia.
O agressor preferencial é o segundo-tenente André Luis Leonel Andrea, comandante do 3º Pelotão em Bodoquena. Deveria ter sido preso em flagrante, ao rigor da Lei.
O caso não é de agora, aconteceu em setembro, mas só foi divulgado no fim de semana, originalmente pelo Campo Grande News. Ganhou a blogosfera progressista e as redes, a partir do tuíte acima.