‘Clique no Banner’, ou como a pandemia pôs em risco a civilização ocidental’: crônica de Elma Almeida

por Elma Almeida*

Um ano, um mês e alguns dias depois que apareceu a pandemia, descubro o Spotfy. Escapei, até agora, de cair no abismo que já tragou 3 milhões de habitantes do planeta Terra.

“Clique no banner e se joga” virou meu mais recente mantra de sobrevivência. Pra alguma coisa serviu a apropriação dos meus dados, dos meus gostos e desgostos, das minhas idéias políticas e religiosas espalhados nas redes.

O Spotfy me brindou com uma playlist de música francesa. Elas, as francesas, ditaram vários traços da minha história de mulher, branca, moradora da periferia do  mundo.  Sério, não entendo, todo esse esforço para esconder este pequeno detalhe das nossas vidas: somos sim da perifa.

Assim recebemos os fortes impactos da bomba que explodiu  na Ásia e se alastrou pela Europa/EUA. Ninguém está impune. Coisas estranhas aconteceram com todos. Por exemplo, me dei conta irremediável da minha idade, confirmada na lista de prioridades para vacinação: idosa acima de 70 anos.

Bingo!

No começo, logo no começo da pandemia, levei um tombo na rua. Caí de joelho e “ninguém” veio me acudir. Todos andavam meio anestesiados pelo choque. Afinal, o vírus tinha chegado à Europa. Itália caiu, França caiu. E levaram na queda parte do pensamento  da nossa Civilização Ocidental. Começou uma busca mundial para entender o por quê deste desastre. Alemanha caiu, Bélgica também. E os bancos? E os organismos internacionais?

Meu joelho demorou pra sarar. Muita massagem, óleo essencial e , claro, um bom relaxante muscular. Logo que me liberava do joelho direito, levei outro tombo, agora no quintal, e torci o tornozelo esquerdo. Esquerda e direita balançam sobre nossas cabeças de maneira, cada vez mais, furiosa. O coronavírus se alastra pelas periferias também de maneira furiosa.

Pra escapar, tenho plantas, verde, canteiros e vasos. Tenho o Tai Chi, as respirações e meditações, as lives do Instagram, os canais do YouTube, o mundo falando pelo Twitter, as aulas do Zoom, os encontros virtuais do Duo para falar com a família, os amigos, para grupos de estudo e oração. Estamos todos em busca de respostas para todas as nossas listas de perguntas.

A questão mais recente, depois das duas doses previstas da Coronavac,  é uma conjuntivite que atacou meu olho esquerdo. Sem Netflix, sem Zap, parei no SpotFy e encontrei minha nova estratégia de sobrevivência até a próxima parada. A música salvou meus dias. Tive de interromper na leitura do livro “O Cérebro Triuno”. Resolvi ler sobre o cérebro para tentar entender como chegamos até aqui.

Uma coisa é certa, aprendemos várias palavras e experimentamos todos os tons da palavra saudade.

*Elma Almeida é jornalista, mineira, radicada na capital federal. Trabalhou em várias redações em Minas, São Paulo e Brasília. Foi gerente da Record-BSB e gerente-Executiva da TV NBR no governo Dilma Rousseff. É terapeuta holística, mestra em Tai Chi Chuan e acupunturista.

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