A CPI, a demolição, o encantamento, o jogo político e o que pode estar além das aparências…

por Sulamita Esteliam

Então, falemos de CPI: com o genocídio em marcha batida para 500 mil almas sugadas pelo Covid-19, cepa indiana em tour de descaso pelo país, a terceira onda batendo à porta, o assunto é inescapável.

Quanto mais que a Comissão Parlamentar de Inquérito tende a se tornar o maior espetáculo da Terra – para o bem e para o mal.

Especialmente quando são mulheres as testemunhas, os distintos senadores parecem perder o prumo.

Nise Yamaguchi foi demolida na CPI – Foto: Jefferson Ruddy/Agência Senado/Pública

Que o diga a oncologista Nise Yamaguchi, a doutora cloroquina. Ela integrou o gabinete paralelo, já identificado pela CPI do Genocídio, ao que tudo indica o orientador das políticas de alimentação, não de combate, do vírus. Assista ao vídeo publicado pelo Metrópoles:

A doutora Yamaguchi precisava ser desmascarada, e o foi. Contudo, assistiu-se uma exibição de grosseria desnecessária, beirando o machismo. Daquelas de inspirar vergonha alheia.

Acabaram cedendo espaço para críticas evitáveis, que não ajudam em nada a levar adiante a missão de dar um basta na hecatombe que nos assola.

Claro que o Conselho Federal de Medicina, aliado do desgoverno quando defende autonomia para profissionais receitarem tratamento precoce, não ia deixar passar batido. E tome nota de repúdio.

Há exceções de comportamento na CPI, e só confirmam a regra.

A médica infectologista Luana Araújo e o advogado e também médico, José Carlos Araújo, seu pai – Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado/Pública

Luana Araújo, a infectologista mineira é um capítulo à parte. Sem dúvida prestou grande serviço à causa da CPI ao demonstrar o negacionismo e a fábrica de mentiras no trato com a pandemia do Coronavírus.

Ela que passou brevemente pela Secretaria Extraordinária de Combate à Covid-19 do Ministério da Saúde. Seu brilho deixou os inquiridores deslumbrados – à esquerda, ao centro e à direita -, e a plateia virtual embasbacada.

Todos de quatro. Machos alvoraçados e fêmeas se sentindo representadas. Brasil afora.

Como é possível!? A pergunta cutucava as mentes e corações descompensados.

Um pessoa desse nível, tão assertiva, tão conhecedora de seu ramo, tão profissionalmente ética, tão jovem, tão bonita, ser dispensada em meio a uma crise sanitária que clama por ação positiva, eficiente e eficaz!?

Euzinha mesma cheguei a ver luz. Igualmente, me perguntava: como uma pessoa desse naipe aceita trabalhar no desgoverno do capiroto-genocida!?

À CPI, ela disse que admira e respeita o trabalho do médico Marcelo Queiroga, atual ministro da Saúde. Relatou que ele, ao informá-la da dispensa, ao fim de duas semanas, teria dito claramente que não estava a seu alcance definir sua efetivação.

Em miúdos: não passou no crivo político, talvez por que tenha se mostrado disposta a fazer o correto; e o ministro da Saúde segue decorativo, mas disposto a ceder a imagem.

Mas como, repito, uma pessoa desse jaez vai parar no desgoverno do inominável?

Bom lembrar que as redes têm memória. Por mais que se tente limpar as pegadas, ficam rastros. Vai que…!

A moça é multi-talentos. É do tipo geninha, desde criança. Bem-nascida e bem cevada. Tem vozeirão afinado, canta em inglês impecável, tem disco gravado e tudo o mais. Toca piano, essas coisas de quem nasceu em berço explêndido.

Entretanto… nada é perfeito.

Como diria minha avó, que era analfabeta de pai e mãe: a esmola ou o lustro, quando é demais, tome tento!

Olha só o que diz o professor e historiador Fernando Horta, em postagem instigante no Twitter, que transcrevo na sequência:

Parece óbvio, mas não é. De fato é “cooptação das elites”, o descreve Fernando Horta a seguir, agora em transcrição do texto – ao pé, deixa um link para quem quiser se aprofundar na teoria:

(…)

Aí vem o objetivo deste fio. Há muito tempo as potências do mundo tentam conservar um domínio sobre os outros povos que não seja pelas armas. O domínio pela força é caro e frequentemente colhe insucessos. O domínio pelo consentimento é barato e duradouro.

A principal técnica para isso é a “cooptação das elites”. Existem muitos trabalhos de sociologia sobre isso e muitos projetos assim hoje no mundo. Vou dar três exemplos históricos.

No final da segunda guerra os EUA criaram no Panamá a chamada “escola das américas”. Supostamente uma academia militar para “cooperação e troca” de conhecimento, mas que era na verdade uma forma de moldar ideologia.

Os militares selecionados iam para lá e “aprendiam” a odiar povo e esquerda. Aos poucos, os militares que voltavam desta experiência foram reputados como “mais capazes” e tinham suas promoções aceleradas e eram colocados em postos de comando por supostamente serem mais capazes.

A escola das américas garantia o selo de “capacidade” distintivo nas forças armadas e foi de lá que saíram todos os planejadores do golpe de 64. Cooptação das elites.

O mesmo aconteceu com a chamada “escola de Chicago” e o neoliberalismo. Os EUA criaram um “programa” para receber jovens economistas recém formados para fazer “mestrado e doutorado” em Chicago. Com tudo pago.

Estes estudantes não eram os mais inteligentes, ou os mais capazes, mas estavam entre aqueles com um vazio interior grande, capazes de assimilar o que quer que os seus financiadores quisessem. Surgiram os “Chicago boys”.

Jovens com pouca ou nenhuma retidão ética ou moral e sem nenhum compromisso coletivo que eram alçados a categoria de “gênios” e quando voltavam aos seus países ocupavam cargos decisórios importantes e colocavam o plano dos seus financiadores em prática.

Quem tiver dúvida sobre a não distinção, em termos de inteligência ou competência, entre os “Chicago boys” e seus colegas que ficaram em solo pátrio, basta saber que a anta do Paulo Guedes foi um “Chicago boy”. Cooptação das elites.

O mesmo faz hoje as fundações do Lehmann e outros milionários brasileiros com gente como a Tabatha Amaral. Todos sabem que há toda uma politicagem que envolve doações para a universidade e interesses para abertura de “programas” que recebem estudantes da américa do sul, África …

Essas pessoas não podem ser incapazes, mas estão longe de serem as melhores dos seus países. São escolhidas pelo vazio ético e a falta de compromisso nacional e social. A partir daí saem da experiência no exterior com o selo de “diferenciadas” para a população do seu país.

Em realidade, elas são diferenciadas em favor dos financiadores e não para os povos que as recebem de volta. elas são “diferenciadas” porque trazem ideologias diferentes e são dóceis à figura das potências dominantes. E isso é uma forma barata de colonialismo cultural.

A fala de Luana enfatizando que foi a “única” que recebeu determinada honraria da John Hopkins tem pouca importância nos meios acadêmicos, mas dita por ela é parte da construção da aura de “diferenciada”. Ela foi escolhida por ser bolsonarista. E se desiludiu.

Que bom que ela acordou ética e moralmente (será?) mas o caso dela não pode esconder toda uma política social de cooptação das elites que acontece neste exato momento e que tem como representantes pessoas do quilate de Tabata e Kim Kataguri.

Aprendi uma regra no meio acadêmico: se o Dr. vier antes do nome ele serve para nos mostrar que o ego vem antes do coletivo e não raro demonstra muito mais um artifício para esconder falhas de formação do que uma condecoração por mérito e esforço.

Quem é doutor de fato, não gosta de ser assim chamado e fica envergonhado que lhe chamem por uma coisa que a imensa maioria passa a vida discutindo consigo mesmo se está à altura do título.

Uma segunda coisa que aprendi neste mundo da “torre de marfim” é que se os livros da pessoa chegaram antes dela no exterior, ela tem valor pelo que produziu. Se ela chegou lá antes dos livros, desconfie. Lembre-se da antiga e bem sucedida estratégia da “cooptação das elites” ,

E lembra também que isso não acontece só na academia. Acontece na arte, na política e etc. Em toda atividade cujo ego e a vaidade estejam intrinsicamente ligadas ao sucesso, esta estratégia internacional funciona com efetividade. Não criemos heróis que lutam pelos outros.”

https://twitter.com/FernandoHortaOf/status/1400646757239898114?ref_src=twsrc%5Etfw

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