por Sulamita Esteliam
Na noite da sexta-feira, antes de cair no berço, preparei os apetrechos para sair bem cedo e não perder nenhum lance do terceiro ato de protestos do #3JForaGenocida, no Recife.
A concentração estava marcada para 9:00 horas na Praça da Democracia, no Derby, assim apelidada desde as manifestações contra o golpe em Dilma Rousseff, em 2016.
Camiseta do Eu Acho é Pouco, o dragão guerreiro do Carnaval de Olinda, contra as maldades do poder discricionário, máscaras PFF20, garrafinha de água, castanhas para mastigar e não marear, o cartazete usado quando da primeira e segunda doses da vacina.
Estrearia a “faceshield” que Paola, a filha do maridão, trouxe dos states para gente, ano passado; ela própria, que nos visita, me ajudou a montar, entre mil recomendações de cuidados.
Afinal, tomara a segunda dose há menos de uma semana, e a imunização ainda não se completara. Julio me avisara que não ia se arriscar: “O coisa ruim não vale a minha vida”.
Fui dormir feliz e ansiosa. Enfim, voltaria a pisar nas ruas, juntar forças para expulsar a peste que nos desgoverna. Tão plugada, que meu relógio biológico me traiu.
Acordei ainda estava escuro. Liguei o celular e conferi: 4:00 horas. E nem precisava, o segundo voo da madrugada acabara de troar sobre a minha cabeça; o primeiro é às três.
Fui ao banheiro e voltei para a cama para dormir um pouco mais. Só voltei a pegar no sono quando a chuva recomeçou, indecisa se manteria o desaguar em toró ou ficaria naquele escorrer lento e monocórdico…
Hipnos chegou vacilante. Então, Morfeu me tomou pelo braço e me chamou para bailar. Quando me cansei de serpentear entre estrelas, a marcha já seguia pela Avenida Conde da Boa Vista, rumo à Praça da Independência, a Pracinha do Diário.

Tive que contentar-me em acompanhar e repercutir pelas redes.
As ruas se coloriram de vermelho, verde, amarelo, lilás, multicores em polifonia de vozes por vacina no braço, comida no prato e pelo fim do desgoverno que nos mantém reféns da fome, do desemprego, da inflação absurda, do desespero de olhar pela janela e pensar que amanhã pode ser você a não acordar.
No Recife e nas demais oito capitais do Nordeste, o protesto foi maior e diverso do que no 19 de junho.
Em meio às bandeiras e palavras de ordens de partidos de esquerda e militantes dos movimentos sociais as alfaias costumeiras. A elas se juntaram a percussão indígena, artistas populares de vários quadrantes e gente sem militância orgânica.

“A cultura em favor da vida e contra esse governo corrupto e genocida”, como bem define à reportagem do Marco Zero Conteúdo, o coordenador dos Bacamarteiros do Cabo de Agostinho – link ao pé deste texto.
O grupo se encarregou do desagravo, em contraponto à violência policial no ato de 29 de Maio. Demonstração ruidosa às margens do Capibaribe, em frente ao Cine São Luiz, marco postado na Rua da Aurora, ao fim da Ponte Duarte Coelho.
Em Brasília e todas as capitais do Centro-Oeste as manifestações certamente contribuíram para aumentar o incômodo ao ocupante indesejado do Palácio do Planalto.
O Rio de Janeiro, como a simbolizar que uma cidade com sua história não pode ter dono, uma multidão marchou pela Av. Presidente Vargas, desde o monumento a Zumbi dos Palmares até a Igreja da Candelária.
Em São Paulo tomou as duas pistas dos 2.800 metros da Avenida Paulista.
Belo Horizonte, mais uma vez, não negou fogo, e levou milhares a cobrir o percurso da Praça da Liberdade à Praça da Estação, pelo caminho mais longo, pegando a Av. Amazonas à altura do Mercado Central, com forte presença da Geração 68.
E assim foi em Vitória, Porto Alegre, Curitiba, Florianópolis e nas capitais do Norte do Brasil. Atos significativos também aconteceram em outras cidades país afora.
Dia 24 tem mais. Espero não cair na esbórnia do sono de cobra d’água, sob pena de parecer desculpa esfarrapada.
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Fontes requisitadas:
Vídeos: Mídia Ninja, Coletivo Alvorada MG, Equipe Liana Cirne, vereadora PT Recife, MZ Conteúdo
Marco Zero Conteúdo
Público mais amplo e plural no ato contra Bolsonaro no Recife