por Sulamita Esteliam
Roberto Dias, ex-diretor de Lojística do Ministério da Saúde, entra para a história das CPIs como o terceiro convocado a ser enquadrado com o “teje preso!” Nem é preciso dizer que o episódio finalizado com o “pode levar” e encerrar a sessão, levou as redes sociais ao delírio no início da noite.
O “otário” levou a “marreta” à cabeça – na expressão do próprio presidente da CPI do Genocídio, Omar Aziz (PSD-AM), chapéu que lhe cobre a cabeça.
E a Gabriela Biló, fotojornalista a serviço do Estadão capturou o exato instante da marretada. Euzinha bem que gostaria de abrir a postagem com a foto, mas não posso bancar direito autoral, então, incorporo do Twitter,e agrevo o comentário que lá deixei. Fala!
Antes dele, dois servidores públicos sazonais foram presos em flagrante em CPIs diversas: o ex-presidente do Banco Central, Chico Lopes, na CPI dos Bancos, em 1999, no mesmo Senado, e o ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta, na CPI do Banestado, em 2004.
O primeiro por obstrução à Justiça e por desacato à autoridade, e o segundo por neste motivo, unicamente. Lopes foi levado direto para a Polícia Federal de Brasília. Passaram-se algumas horas até que os advogados pagaram fiança de R$300, e foi liberado.
Então, quem primeiro usou a expressão “teje preso!” foi a então senadora Heloísa Hele (PT-AL), quando o presidente do BC se recusou a assinar o termo de compromisso como testemunha. O então presidente da CPI, Bello Parga (PFL-AM) acatou a sugestão.
Portanto, erra quem diz que o senador Omar Aziz, presidente da Comissão peca por autoritarismo quando decretou a prisão por perjúrio, e determinou à Polícia Legislativa: “Pode levar!”
Ele até pode ser criticado, mas unicamente por demorar a tomar a atitude completamente coberta pelo regimento de CPIs: a testemunha jura dizer a verdade e , se mentir, pode ter prisão em flagrante decretada pela maior autoridade da comissão, que é seu presidente.
E Roberto Dias foi pego com a boca na mentira, mais de uma vez durante as sete horas que duraram seu testemunho. A começar pelo fato de insistir em dizer que foi casual o encontro dele e do coronel Marcelo Branco, ex-diretor de Logística na gestão Pazuello no Ministério da Saúde, com o cabo da PM-MG, Luiz Paulo Dominghetti num restaurante do Shopping.
Um áudio do denunciante, que teve seu celular apreendido enquanto depunha, semana passada, prova exatamente o contrário, dois dias antes de reunião para tratar do assunto na sede do Ministério.
O depoente foi avisado pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL) de que as informações disponíveis contrariavam o que ele dizia, em vão.
“Quem vai assinar é o Dias. Quinta tem uma reunião pra finalizar com o ministério. Nós estamos tentando tirar do OPAS [Organização Panamericana da Saúde] para ir para o Dias direto. Essa conversa que eu estou tendo contigo é em off. O Dias vai ligar para o Cristiano [CEO da Davati no Brasil] e conversar com o Herman [Cardenas, CEO da Davati] ainda hoje (…). Já cientificando a turma que a vacina está à disposição do Brasil. Se o pagamento for via AstraZeneca, melhor ainda”.
No depoimento da semana passada, o policial afirmou que nesse jantar, Dias teria pedido propina de US$ 1 por dose do lote, pouco crível, de 400 milhões de doses de vacina Aztrazeneca por ele ofertados.
Dominghetti foi convocado à CPI depois da denúncia em entrevista publicada pelo jornal Folha de São Paulo. Ele se diz representante da empresa Davalti Medical Supply, com sede nos Estados Unidos.
A Dalvati diz que ele é vendedor autônomo, mas admite que serviu como intermediário da negociação da empresa com o governo, apresentando Roberto Dias.
O laboratório que produz a AstraZeneca afirma que não tem intermediários no Brasil, que só faz acordos para fornecimento de vacinas com governos e organizações multilaterais, nunca para o setor privado ou outros níveis de governos.
Osmar Azis foi questionado pela bancada governista na CPI e também pela oposição e pelos chamados independentes, por não ter dado ordem de prisão a outros mentirosos que testemunharam na comissão.
Como o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, o ex-secretário de Comunicação, Fábio Wajngarte, por exemplo.
O presidente lembrou que os pinóquios do laranjal estavam armados de habbeas corpus que não os obrigavam a responder às perguntas. E foi taxativo:
— Não aceito que a CPI vire chacota. Nós temos 527 mil mortos e os caras brincando de negociar vacina! Ele está preso por mentir, por perjúrio, e que a advogada me processe, mas ele vai estar detido agora pelo Brasil.
E doravante, garante, é assim que vai ser: mentiu, “teje preso!”
Demorou!
Mas é evidente que há muito mais caroço nesse angu e, claramente, a CPI já os identificou o propinoduto, que vai além dessa e de outras compras frustradas, como a Covaxin, via Precisa/Biotech, “laranja da Global”, nas palavras de Humberto Costa (PT-PE).
Uma verdadeira briga de foice entre dois grupos de influência, digamos assim, na Saúde: o político, ligado ao ex-ministro de Temer e atual líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR), que teria indicado Dias, e o militar, da horda de Pazuello.
Aliás, disputa sugerida pela senadora Simone Tebet (MDB-MS), que pediu acareação entre Dias e o coronel Elcio Franco, ex-diretor-Executivo do Ministério da Saúde, homem da confiança de Pazuello.
Ele teria exonerado auxiliares do ex-diretor de Logística, trocando-os por militares, e também teria pedido a cabeça de Dias, teoricamente por irregularidades na compra de testes de Covid:
– O contrato da Covaxin está eivado de irregularidades, e a corrupção na compra da vacina já está comprovada. Está claro que houve uma disputa entre os núcleos político e militar em torno do propinoduto. Os militares queriam tomar conta do galinheiro.
A esse respeito, vale muito ler os comentários do colega Fernando Brito, no Tijolaço, que linco ao pé da postagem.
Omar Azis, que definitivamente estava com a mulesta nesta quarta-feira, se recusou a trocar acareação pela prisão em flagrante:
“Não vou fazer acareação entre dois mentirosos. Ele (Roberto Dias) está preso, pode levar! E a sessão está encerrada”.
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Fontes requisitadas para além das redes sociais:
Agência Senado
Tijolaço
O dia na CPI: ‘Chaoéu de otário é marreta’
DCM
Ex-presidente do Banco Central e ex-prefeito de São Paulo foram presos em CPIs