A pandemia, o oportunismo, a cegueira, a ganância e os danos à saúde coletiva

por Sulamita Esteliam

No começo, “agimos como se a pandemia fosse acabar em três meses”. E já se vão dois anos, quatro cepas e milhões de vidas perdidas.

No início, dizia-se que a Ômicron era branda e anunciava o princípio do fim da era do Coronavírus. E e a brandinha mata, em média, 800 pessoas no Brasil por dia, 10 mil no mundo, três milhões de casos diariamente.

“E isso não é aceitável. A pandemia não acaba sem um planejamento a longo prazo.”

Palavras do pesquisador brasileiro Ernesto Marques, em entrevista imperdível no Marco Zero Conteúdo, concedida a Maria Carolina Santos – linco ao pé da postagem

E os idiotas de plantão em campanha contra a vacina para crianças no Brasil. No Rio de Janeiro, por exemplo, apenas três de cada 10 crianças agendas comparecem ao posto de vacinação.

Nesta quarta, o diretor-presidente da Anvisa, Barras Torres,  entregou à Comissão de Direitos Humanos do Senado um dossiê com 458 ameaças de morte e intimidações à equipe de funcionários da Anvisa. Tudo porque a agência recomendou a imunização infantil a partir dos 5 anos.

E isso porque a Anvisa cumpre seu papel, o dever de recomendar a proteção das nossas crianças. Ameaças que partiram dos seguidores do Coisa Ruim, replicadores do seu discurso genocida.

Não se trata de política, é caso de polícia, mesmo.

E é assunto para o STF, que aliás já se pronunciou a respeito, determinando o desgoverno que cumpra a Lei. O que significa fornecer os imunizantes necessários à cobertura vacinal da população, crianças incluídas, e incentivar a vacinação em massa.

Não é uma escolha, a vacina é obrigatória como proteção individual e coletiva. E quem não se submeter paga o preço, seja na própria saúde, seja em forma de sanções e restrições sociais.

No caso das crianças, está na lei: o ECA determina a obrigatoriedade da vacinação nos casos recomendadas pelas autoridades sanitárias – aqui, leia-se Anvisa.

Pais, mães ou responsáveis que se omitirem, portanto, cometem crimes e podem ser presos por violar seus deveres de proteção a vulneráveis.

Dou graças à oportunidade de ter meus netos vacinados. Todos menos a pequena de 4 anos. E torço para que venha logo a recomendação para as crianças abaixo dos 5 anos.

É impressionante como certas pessoas não conseguem usar um mínimo de racionalidade, mesmo quando ela pode significar a opção entre viver ou morrer.

Ernesto MarquesZikaLab - Foto wwwpublicheath.pitt.edu
Ernesto Marques nos laboratórios da Universidade de .Pitsburgh – Foto:wwwpublicheath.pitt.edu/MZ Conteúdo

Pincelei alguns pontos que considero essenciais na entrevista ao Marco Zero do cientista Ernesto Marques, pernambucano de origem, formado em Medicina pela UFPE, e desde 2009 professor na Universidade de Pittsburgh na Inglaterra.

“Ainda não temos a solução definitiva contra o coranavírus, temos soluções emergenciais.”

“O ‘Santo Graal da história é produzir uma vacina universal contra o coronavírus. E há várias estratégias em andamento”, que possam impedir que o vírus escape à resposta imunológica se modificando. Isso pode demorar, porque “são bem mais sofisticadas do que as vacinas que temos hoje”.

O tempo para desenvolver a vacina universal,

“como sempre, depende da quantidade de investimento e do interesse. (…) A não ser que exista uma falha real do produto atual, o investimento em um novo produto não é mais tão atraente porque o mercado é menor, a expectativa de lucro é menor”.

“O êxito na produção da vacina de uma forma tão rápida não foi graças ao desenvolvimento de agora. Isso foi graças ao desenvolvimento que vem sendo feito há 30 anos. Em 1995 já se fazia vacina de adenovírus.”

A repórter pergunta: “Então, o que faltava era esse investimento que teve nesses dois anos?”

E o cientista responde:

“Exatamente. Foi aí que se pegou a tecnologia que tinha sido originalmente feita muitos anos atrás, e continuava evoluindo, mas apenas nos bastidores da ciência. E, quando receberam a injeção grande de recursos, essas tecnologias estavam prontas pra deslanchar. E foi um sucesso.”

Nova pergunta sobre a necessidade de investimento para se ter respostas a várias questões que permanecem sobre a ação e os efeitos do Coranavírus no organismo humano, e a resposta lacradora:

“Em termos de desenvolvimento de vacinas, as pessoas falam tanto em teorias da conspiração, mas a vacina não é um produto farmacêutico que dá lucro. O que dá lucro é vender remédio pra tosse, pra desentupir nariz, sonda pra intubar, respirador, isso é o que dá dinheiro. Tomar uma dose de Pfizer que o Brasil comprou por US$ 10, não. Quanto gasta uma pessoa doente em casa com sintomas leves de covid-19? É mais do que R$ 50, R$ 60. Se juntar todo o investimento feito na indústria farmacêutica, 97% é dedicado a desenvolver remédio. Só 3% é dedicado a vender, a produzir, a desenvolver novas vacinas. Isso já diz tudo. Vacina é um investimento longo, de grande risco, caro. E que sofre esses preconceitos de alguns grupos sem justificativa.”

A mais pura tradução do capitalismo. E de como a ignorância alimenta o vírus e as burras da indústria farmacêutica.

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Acesse a íntegra da entrevista.

Na Fórum, os detalhes da audiência no Senado com o presidente da Anvisa.

Vale conferir também a matéria sobre o enquadramento do STF ao desgoverno sobre vacinas.

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