por Sulamita Esteliam
Lula está na capa da Times, e é tratado com o líder de projeção internacional que é. Nos moldes em que estampou sua capa, em anos passados: com Mahatma Ghandi, o pacifista indiano; com o ativista norte-americano anti-racismo; Martins Luther King, com o combatente do apartheid sul-africano, que se fez presidente, após libertar-se da prisão, Nelson Mandela.
E o que faz o jornalismo comercial tupiniquim?
Pega seu ódio pelo ex-presidente brasileiro, ex-lider sindical, ex-metalúrgico, ex-retirante nordestino, pardo e pobre, embrulha na vira-latice corriqueira e leva de roldão a prestigiada revista estadunidense na sua pequenez: “a Times é irrelevante”.
É a versão B da parábola da raposa e as uvas: pega com as calças na mão por tentar enconder os frutos da estação, capturados e apresentados pela concorrência, diz que eles estão podres.
Ou, nas palavras do escritor, e também jornalista, Fernando Morais, no Twitter:
“Se Lula andar sobre as águas, a mídia brasileira vai dizer que Lula não sabe nadar”.
Sabotar os fatos é a especialidade dos que defendem a liberdade de imprensa para praticar o “sim, senhor, não senhor” de quem lhe paga os salários. Nassif usa a palavra “cativos”. Euzinha digo que são penas e gargantas de aluguel – regiamente contatados, diga-se;
Ocorre que “o jornalismo corporativo brasileiro não se cansa de passar vergonha. É uma espécie de “farol ao contrário”: tudo o que eles enunciam representa exatamente o contrário da realidade.”
Não podem criticar o Coisa-Ruim.
A definição, sob medida, é do colega Luiz Nassif, editor do jornal GGN, um dos mais prestigiosos da mídia independente deste quadrante no hemisfério sul. Pioneiro no jornalismo econômico de mercado, foi editor da Folha e até da Veja; contra essa última, enfrentou demandas judiciais de peso, por escancarar o esgoto jornalístico em que a antiga carro-chefe da abril se tornou.
Jornalista de respeito, não tem medo de dizer a verdade nem de arcar com as consequências de suas posições. E faz jornalismo mesmo quando o patrão quer o contrário. Há caminhos para divergir: argumentos profissionais e até comerciais, muitas vezes, fazem prevalecer o bom senso.
Quando não funciona, a porta da rua é a serventia da casa. Euzinha mesma, sem o brilho e a visibilidade de um Nassif, sempre fiz bom uso do direito de pegar o boné. Até que me cansei de dar murro em ponta de faca e pulei o balcão.
Pois na abertura de seu programa de análise no Youtube desta noite, Nassif bate-papo com o linguísta Gustavo Conde sobre o baque que a entrevista de Lula anda provocando na mídia venal.
Na apresentação escrita, no GGN, escreve:
“A execração de Lula por conta de sua fala sobre o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky na revista Time merece um prêmio à parte de pior jornalismo do planeta. A leitura é fantasiosa, a obsessão é humilhante e a prepotência beira o ridículo. Não bastasse, estes jornalistas cativos amplificaram o efeito político devastador do enunciado de Lula – que pode até acelerar o fim da guerra.”
Até porque, na entrevista Lula não diz mais nem menos do que sempre disse quando se trata do conflito entre Rússa e Ukrânia, lembra Gleizi Hoffmann, presidenta do PT. Diante da manifesta “dor de cotovelo” dos “analistas” da mídia nativa, ele escreveu no Instagram:
“Desde o início do conflito Lula se posicionou contra a invasão e criticou os que estimularam o confronto, como fez em outras situações. Não há novidade no que ele disse à Time.”
O que Lula sempre disse é sobre a insensatez da guerra, em plena era nuclear. Ele critica Putin pela invasão da Ukrânia, mas critica também o ocidente pela postura deliberada: ao invés de trabalhar pela paz, dá corda ao presidente ukraniano para desgastar a Rússia, mesmo à custa do sofrimento do seu povo.
Assino embaixo. Mais não digo nem escrevo.
Deixo o link do vídeo do GGN:
A imprensa burguesa brasileira não perde a chance de criticar Lula. Promove fake news oficial com apoio do grande capital, inclusive financeiro, sem nenhum pudor profissional. Vergonhoso.