Lula, Madonna e o Rio Grande do Sul: os sons e as águas de maio no Brasil em reparos

por Sulamita Esteliam

O tamanho e a diversidade do Brasil são desafiadores: dimensões continentais e ao menos três tipos de clima diferentes, qualquer que seja a estação do ano. O verão pode ser água e pode trazer seca. O inverno carrega geada ou enchente.

A falta de sensibilidade para o trato com o meio ambiente, a serviço da ganância, do consumismo e do desperdício; a ocupação desordenada dos espaços, estimulada pela desigualdade sócio-econômica fazem o resto. Consequências.

Implacavelmente, a natureza cobra pedágio, outro nome para imtempéries ou mudanças climáticas. Debaixo dágua, novamente, o Rio Grande do Sul se desmancha, e é óbvio que não é hora de apontar o dedo. É preciso buscar soluções compatíveis com o estado de emergência.

Solidariedade é indispensável (veja como ao pé da postagem), e aos governos, em todos os níveis, cabem providências para socorrer as vítimas, reduzir os danos, recompor os estragos.

Mas o futuro é aqui e agora, e é fundamental planejar o que queremos das nossas cidades para garantir a nossa sobrevivência. Porque a natureza se recicla e segue em frente, ao seu mister.

Lula reuniu a República em Porto Alegre, em pleno domingo, para buscar soluções compatíveis com o estado de emergência e com a responsabilidade de cada qual que partilha o poder. Não só de emendas e benesses vive o ser de colarinho engomado ou de salto agulha.

Reunião aberta à imprensa, com a presença do governador e prefeitos das cidades afetadas, o corpo ministerial afim, mais os comandos das Forças Armadas, do Legislativo e Judiciário, Tribunal de Contas inclusive.

Lula convidou, todos aquiesceram; parceiros e adversários. O tamanho da tragédia não comporta diferenças políticas, negativas nem pirotecnias. Muito menos jornalismo de fancaria.

Tudo é para ontem e desatar os nós exige compromisso de todos, inclusive para driblar exigências fiscais. Não cabem emergências nas previsões orçamentárias nem se moldam na camisa de varas do rigor fiscal. É uma lição para arejar e lavar consciências.

Na abertura da fala presidencial, mais uma vez, disse que buscou inspiração na sabedoria de Dona Lindu:

“Minha mãe dizia que o que os olhos não vê o coração não sente.”

Lula demonstra, uma vez mais, expertise política, inteligência emocional, jogo de cintura. É o tipo de político que lá em Minas, antigamente, se definia como “raposa felpuda”. E a garrotada pira.

A semana começa com um decreto legislativo assinado pelo presidente da República e enviado ao Congresso Nacional para exame a aprovação. Define estado de calamidade pública no Rio Grande do Sul até 31 de dezembro deste ano.

O anúncio teve caráter solene, presentes os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco. Ministros do governo e o e o ministro Edson Fachin, representando o presidente do STF, em viagem internacional.
Você tem direito de escolher se enxerga o copo meio vazio ou meio cheio, mas não pode deixar de aplaudir habilidades, sobretudo quando é usada para o bem de todos e a felicidade geral da nação. Assim como não pode negar a História.
Por exemplo, já que estamos em maio: é a primeira vez em oito anos, desde o golpe que derrubou a presidenta Dilma, que os trabalhadores e trabalhadoras brasileiros têm algum motivo para celebrar no seu dia.

  • Economia brasileira em crescimento
  • Retorno do crescimento do salário
  • Aumento do emprego com carteira assinada
  • Isenção do imposto de renda para quem ganha até dois salários mínimos
  • Queda da inflação
  • Aumento de investimentos
  • Anúncio da maior política de crédito da história para micro e pequenas empresas.

E houve celebração país afora. E o presidente da República, sindicalista de raiz, não se furtou ao convite da direção da sua classe para comemorar, no Itaquerão. Uma armadilha? Lula se ressentiu do tamanho da multidão; “precisa convocar melhor”, chegou a observar no discurso.

Naturalmente que ele sabe, todo mundo sabe, que o poder de articulação dos Sindicatos e das centrais sindicais foi minado pela quebra deliberada de sua capacidade de financiamento. Houve brutal retirada de direitos da classe trabalhadora, drástica redução do nível de emprego com carteira assinada.

É claro que o ex-sindicalista, fundador da maior central sindical da América Latina, não poderia recusar o convite, agora que é presidente da República pela terceira vez, com apoio do movimento de trabalhadores organizados.

Armadilha, repito, há quem diga. Prefiro empatia: quem sai aos seus não degenera, o bom guerreiro não foge à luta. E quem não gostar que se coce.

E para não dizer que não falei sobre Madonna, senhora insolência em verde e amarelo. Anfitriã generosa, dividiu o palco da princezinha do mar com estrelas tupiniquins do porte de Anitta e Pablo Vittar.

Megaespetáculo para um milhão e meio de pessoas de todos os matizes, dos sete cantos do país e da Latino-América. O maior banco privado do sistema financeiro nacional e uma cervejaria de renome bancaram. É mentira o uso de recursos da Lei Rouanet ou de verbas que deveriam socorrer o povo gaúcho.

Capturei no perfil da Madonna no Instagram um dos momentos icônicos, com Pablo Vittar e a bateria-mirim, com filhos e filhas das comunidades cariocas, sob o comando do mestre Little Black, artistas da terrinha:

Como se diz aqui em Pernambuco, botou para arrombar a senhora de 65 anos, sem medo de causar e de ser feliz. A canarinha perdida e a Bandeira do Brasil resgatadas com sucesso.

Valeu-se da chave de ouro para fechar: fez o eLe – da liberdade que desde sempre é seu outro nome, e de Lula, que também se traduz em desafios incomensuráveis.

Lula esfrega sua habilidade na cara da plutocracia tupiniquim e arautos de plantão, sem tirar o sorriso do rosto. A estrela pop internacional sacode sua irreverência, ousadia e talento nas fuças da hipocrisia verde-amarela-azul-anil.

Copacabana pode até desdenhar, mas nunca mais será a mesma depois de Madonna, assim como Búzios jamais esqueceu Brigitte Bardot. Pode-se até não gostar da voz e da obra da Madonna, mas o que não falta na mulher – que se define uma “bad feminist/feminista má” como resposta às críticas sobre a sexualização excessiva – é poder e atitude. E, afinal, gozar é melhor do que mugir.

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Postagem revista e atualizada dia 07.05.2024, às 16h: correção de erros de digitação e complemento de texto no último parágrafo.

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Discurso de Lula no 1ª de Maio

Nota conjunta CUT/demais centrais sindicais sobre o 1ª de Maio

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Fonte: via The Intercept Brasil

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Um comentário

  1. Tragédia no RS
    Quando são brancos e não os pardos das favelas ou os pobres do Brasil.
    É.
    A colheita acaba vindo.
    O humano pouco sapiens acredita que pode ‘domar’ a natureza.
    Ela se construiu ao longo de cerca de 4 bilhões e 500 mil anos.
    Os humanos pouco sapiens, ou, quem sabe, non-sapiens, com seus pouco mais de cem mil anos, arrogantes, acreditam poder domar a natureza.
    A cada dia mais evidente a tragédia desta espécie non-sapiens.

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