por Sulamita Esteliam
Tudo cessa quando um valor maior se levanta. Já usei esta frase aqui no blogue, em livre citação de Camões, ano passado, em outro contexto. Forçoso é retomá-la – emergindo a cabeça do trabalho, em meu retiro belohorizontino, provocada que fui pelo alerta da filha Carol, parceira das lides na comunicação. Trata-se da polêmica disseminada nas redes sociais em torno de anúncios homofóbico e anti-aborto, suprema criatividade do Instituto Pró-Vida PE, publicada em jornais pernambucanos.
Embarco, não obstante, noutro viés: situar as atitudes diversas dos jornais, pegos no contrapé pela reação social aos dois anúncios, publicados à guisa de alerta ao voto nas próximas eleições. Ambos aceitos por seus departamentos comerciais, e cada qual publicado, o homofóbico na edição da última segunda-feira da Folha de Pernambuco; o anti-aborto na edição do domingo, 02, do Diário de Pernambuco.
Primeiro, os anúncios, para quem não viu:


Como se observa, as duas propagandas fazem apologia ao preconceito, à intolerância, à discriminação, e trazem a assinatura do Pró-Vida PE, ONG religiosa com atuação em todo o país. Tudo em nome da propalada liberdade de expressão, como costumo dizer, essa rameira que a todos serve e a tudo justifica. Em nota divulgada em seu sítio, nesta terça, a organização prefere denominar seu ato de “exercício do contraditório” – aqui.
Em tempos de comunicação em tempo real, natural que os dois anúncios tenham repercutido, negativamente, nas redes sociais – uma vez que absurdos. Mas cada veículo respondeu à polêmica de maneira particular: a Folha PE, pediu desculpas públicas pela publicação, ressalvando que o jornal “sempre se pauta pelo respeito aos direitos humanos”, e mantém “diálogo constante com a comunidade LGBT” – aqui, inclusive na página do jornal no Facebook e no Twitter.
Já o Diário, o matutino mais antigo da América Latina, optou por repercutir a reação da ONG Leões do Norte – que se manifestou a partir do pipocar nas redes, e vai denunciar o Instituto Pró-Vida ao Ministério Público. Entretanto, passou, olimpicamente, ao largo da publicação comercial da sua edição de domingo – aqui.
Instado a se manifestar pela reportagem do G1 – olhem só! -, portal da Globo, o jornal disse que “o anúncio foi submetido e aprovado” por seu departamento jurídico. Simples assim. Não há, até a hora que escrevo, manifestação das organizações feministas e de defesa dos direitos das mulheres.
O outro periódico cotidiano de Pernambuco, o Jornal do Commercio, também repercutiu a história, associando-a à campanha, da Prefeitura do Recife, Pernambuco te quer, parodiada às avessas pelo Pró-vida – aqui. O que não deixar de ser surpreendente, uma vez, que os donos de jornais costumam se proteger – a ponto de botar jornalista na rua, quando este ou aquele ousa publicar as mazelas da “concorrência?” – ou, em outras palavras, exercitar o jornalismo.
Clique para ler postagens correlatas neste blogue sobre jornalismo e liberdade de imprensa e de expressão, aborto e homofobia: Aqui e aqui, aqui, aqui, por exemplo.
Belo texto.
Xêro procê uai.
Obrigada, Zé Carlos, vc generoso, como sempre. Saudades. Xêro, uai!
É Sulamita… É tudo muito hipócrita mesmo! Lembra-se da frase cretina e machista de, JAVIER MARTÍNEZ, Arcebispo não sei das quantas: ” SE A MULHER ABORTA, O HOMEM PODE ABUSAR DELA” A imprensa é uma faca de dois gumes…
Pois é…