por Sulamita Esteliam


A manhã de sábado no #BlogProg foi dedicada à troca de experiências entre blogueiros/as e ativistas digitais. Em um dos vários grupos, coordenados por jornalistas/blogueiros experientes, uma mulher se apresentou:
– Não sou blogueira nem ativista digital. Sou o que vocês chamam de “coxinha”. Fui leitora da Veja, não sou mais. A Folha também já não me serve. Vim ouvir, saber como funciona o outro lado…
No intervalo para almoço no primeiro dia de atividades do #4BlogProg, logo após a palestra de Lula, encontrei uma jovem coleguinha mineira em frente ao hotel. Trazia o rosto afogueado e o olhar duro, de quem acabara de passar por forte contrariedade.
Perguntei-lhe o que tinha havido, e ela respondeu indignada: “É esse babaca do repórter da Globo. Acredita que flagrei ele dizendo para o cinegrafista que tinha que ver como ia editar o que haviam gravado…?”
Limitei-me a dizer: é assim mesmo que funciona, no mínimo, ele cumpre ordens.
A garota não é jornalista, e talvez por isso não tenha dado ao repórter, pouco mais que um menino, o benefício da dúvida. Ele poderia estar se referindo à dificuldade de sintetizar para a televisão o volume, a diversidade e a qualidade do conteúdo da palestra do ex-presidente.
Lula havia falado cerca de hora e meia – sobre comportamento da mídia, sobre a pauta negativa, sobre a negação da política, sobre a Copa, sobre a virulência dos ataques aos governos petistas, sobre a grosseria, o desrespeito para com a presidenta da República; sobre a importância de não calar-se diante dos ataques, sobre ser imperioso contar para os jovens, que só conhecem o Brasil de agora, como as coisas eram antigamente – e nem tão antigamente assim. Se ainda não viu, ouviu ou leu, clique aqui e aqui.
Não é tarefa fácil, também para o repórter.
Principalmente se ele, supondo-o fiel ao dever profissional, pretendesse uma matéria equilibrada, atenta aos fatos, sem dar chance a qualquer má intenção. Poderia. Como poderia, também, mais provável, ter recomendação explícita para fazer assim e não fazer assado.
No grupo do qual participei, obriguei-me a pedir a palavra para, dentre outras coisas, manifestar meu desconforto com as agressões verbais e até físicas a jornalistas em pleno exercício do trabalho. Há casos de morte, como a do cinegrafista atingido por um rojão em protesto no Rio, em fins do ano passado.
Confundem o trabalhador com o veículo. Ainda que não sejam poucos os coleguinhas que se deixam enredar, e portanto se confundem com o patrão; ou mesmo querem ser mais realistas do que o rei.
Também são poucos, muito poucos, os jornalistas que exercem o direito à cláusula de consciência, do nosso Código de Ética, antídoto contra malfeitos. Equivale a pedir o boné, o que significa que o emprego vai ou fica junto com os princípios.
Caçaram nosso diploma, os salários da grande maioria são aviltantes. Jornalista é alvo de assédio na redação e tornou-se alvo de achincalhamento na rua. Tanto quanto o PT, somos Geni.
Não há nada que justifique violência.Todavia, disse Euzinha na oportunidade: somos blogueiros de esquerda, e o são, ou se acham e se dizem, parte dos manifestantes de rua. E o ser de esquerda implica solidariedade e generosidade, respeito pelo outro e pelo trabalho do outro.
O caso da mulher que ficou sem mídia, e busca os alternativos, e o episódio do repórter global, perdido no dilema da síntese ou da ética, ilustram bem a que nível de desgaste chegou a imprensa nativa. Ainda que muita gente ainda se deixe emprenhar pelos ouvidos.
Assine o Projeto de Lei da Mídia Democrática. Saiba mais aqui e aqui, neste blogue.
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Postagem revista e atualizada às 17:21 horas.
Pois é caríssima companheira Sulamita, no rádio também somos tolhid@s de veicular a entrevista completa ou a notícia dada tal qual constatamos! Ora, muitas emissoras quando não são atreladas à política dominante, são de propriedade de políticos dominados! Nossa linguagem é repassada distorcidamente, e o que é pior, o público nem percebe se pro bem ou se pro mal da informação!!
Usando nossa linguagem de gênero no rádio, vez por outra ouço do meu diretor/programador, alertas sobre o que eu digo a@s ouvintes… O que comprometemos? O nosso emprego!
Costumo dizer para @s colegas, que enfrentamos um leão por dia. É o nosso chefe “rangindo” como um leão, quando fugimos das regras impostas!
E assim caminha a comunicação da evolução! Porque a velha mídia já não serve mais, né não?
Abraços blogueir@s
Bom senso, ética.Adorei seu texto analítico e bem explicativo.Pelo visto foi mais de que bom este encontro de blogueiros.Você não poderia faltar mesmo.Que bom que foi proveitoso mana.