por Sulamita Esteliam
Hoje estou pior do que noiva às vésperas do casamento. Não há meio de conseguir me concentrar. Em dias assim, o melhor é não insistir em escrever, porque pode sair besteiras além da conta. E palavra escrita não tem volta.
Mas não posso deixar de registrar: depois de assistir ao último programa de campanha da Dilma 13, vou me obrigar a ligar a TV na Globo, agora à noite, para ver o debate, o último antes de a gente ir às urnas no próximo domingo.
Dá até agonia pensar: ainda há duas edições do Jornal Nacional antes, e nenhum horário eleitoral depois para desmontar as prováveis bandalheiras do debate – editadas ao gosto do patrão e na contramão da verdade.
Quem tem memória não se esquece do que ocorreu há 25 anos, quando das primeiras diretas para presidente. A notícia sobre o debate Lula x Collor foi manipulado ao bel prazer do hoje finado Roberto Marinho, de modo a prejudicar o candidato do PT.
Anos e anos passados, até a própria Globo admitiu “o deslize”, mas e aí…? Lembra-se do Zé Bolinha de Papel na eleição há quatro anos? Pois é.
A leitura do noticiário pela blogosfera, e a movimentação nas redes sociais mostram o nível do desespero da oposição. Está refletido nas páginas e manchetes dos veículos conservadores: mentiras e factoides de roldão. Nexo é o que menos importa.
Enquanto isso, o jornal inglês The Gardian, que vinha seguindo a trilha do contra da imprensa tupiniquim e internacional, publica artigo equilibrado sobre as razões da possibilidade de reeleição da presidenta Dilma Roussef.
Um dia a ficha cai, pelo menos na Inglaterra.
Vale à pena, ler, também: 1) O artigo do cientista político Juarez Guimarães, em Carta Maior; 2) O que escreve o colega Fernando Brito, no Tijolaço

Se o seu inglês está em dia, clique para ler no original o artigo do jornal inglês, assinado por Mark Weisbrot. Do contrário, esta reles blogueira usou seus parcos conhecimentos do idioma, com o auxílio luxuoso do dicionário e do tradutor online, para verter à língua pátria. Fique à vontade para corrigir
Transcrevo:
Por que Dilma Rousseff poderia ganhar a eleição presidencial do Brasil
O país tem noticiado problemas, amplamente, mas as melhorias na renda e nas condições de muitos trabalhadores significam vida melhor para um monte de brasileiros ao longo da última década
Quando a candidata Marina Silva passou à frente da atual presidenta do Brasil, Dilma Roussef nas pesquisas de algumas semanas atrás, houve um grande entusiasmo na imprensa de negócios dos Estados Unidos, e nos mercados financeiros brasileiros.
O Partido dos Trabalhadores de Dilma (PT) está no poder há 12 anos, e um monte de pessoas ricas e poderosas querem uma mudança. A sorte parecia favorecê-los: a economia brasileira, depois de ter diminuído consideravelmente nos últimos anos, entrou oficialmente em recessão este ano – algo que significaria o fim para muitos presidentes em exercício. Antes disso, houve protestos de rua sobre o aumento do custo dos transportes públicos e os gastos do governo na Copa do Mundo, e o próprio evento terminou em desastre com uma humilhante derrota por 7-1 para a equipe nacional para a Alemanha.
No entanto, Dilma se recuperou de cada golpe, e agora parece prestes a sair por cima nos dois turnos das eleições. Como isso aconteceu? Se ela for reeleita, pode ser porque a maioria dos brasileiros está olhando para o que foi feito nos 12 anos de governo do seu partido e, para aqueles de idade ou alfabetizada o suficiente para lembrar, comparando com o passado. Para a grande maioria, as mudanças são bastante surpreendentes.
Apesar da desaceleração dos últimos anos, e que reflete a recessão mundial a partir de 2009, o PIB do Brasil por pessoa cresceu a uma média de 2,5% ao ano entre 2003 e 2014. É mais de três vezes a taxa de crescimento durante os últimos dois mandatos do presidente Fernando Henrique Cardoso, que implementou políticas de “Consenso de Washington” e continua a ser um estadista muito bem visto na capital dos EUA. Antes de Cardoso houve uma década e meia de fracasso econômico ainda pior, e a renda per capta realmente caiu.
Este retorno ao crescimento, além do uso do orçamento governamental para aumentar os gastos sociais, reduziu a taxa de pobreza do Brasil em 55% e a pobreza extrema em 65%. Para aqueles em situação de extrema pobreza, o governo adotou o programa, de renome internacional, de transferência condicionada de renda – o Bolsa Família -, que começou com 10% da receita em 2003 e foi elevada a 60% em 2011. Um aumento robusto do salário mínimo – 84% desde 2003, além da inflação – também ajudou um pouco.
O desemprego caiu para uma baixa recorde de 4,9%; que foi de 12,3%, quando Lula da Silva assumiu o cargo em 2003. A qualidade do emprego também aumentou: o percentual de trabalhadores presos ao setor informal da economia encolheu de 22% para 13%.
A distribuição de renda no Brasil continua sendo uma das mais desiguais do mundo, mas houve progresso significativo aqui também. De 2003 a 2012, 40% da população, logo abaixo da classe média, quase duplicou a sua quota de ganhos de renda do país, em comparação com a década anterior. Isso veio à custa dos 10% mais ricos. Os pobres têm mais obviamente beneficiado com essa transformação da economia brasileira, e isso se reflete nas pesquisas. Mas não são apenas os pobres que melhoraram o seu bem-estar: com uma renda familiar média de apenas cerca de US $ 800, a grande maioria dos brasileiros passaram ter reajustes crescentes de salários, diminuindo o desemprego, mas também os benefícios da previdência social, que na década anterior tiveram aumento significativo.
Do ponto de vista das elites, esses ganhos que os trabalhadores comuns tiveram não são boas notícias. A lei que exige carga horária definida para empregados domésticos – categoria numerosa no Brasil, graças ao tratamento desigual, ao esmagamento – obriga a que sejam tratados como empregados formais, com jornada máxima de trabalho, salários mínimos e segurança social, foi outro aborrecimento recente para os “ricos “.
A contra-narrativa de que o país sob o PT está na estrada para a ruína encheu a mídia no Brasil, que é contra o governo, e a imprensa internacional. Nesta visão, a economia desacelerou, porque o governo não é suficientemente amigável para negócios. A inflação, atualmente no topo da meta de 6,5%, é muito alta, impulsionado por um mercado de trabalho que é visto como muito apertado, e o governo, argumenta-se, precisa cortar gastos. Outro tema da oposição na última eleição, que foi recentemente ressuscitado, é que o Brasil deveria ser mais amigável para com os EUA e sua política externa altamente impopular na região.
A realidade em torno da política econômica do Brasil é que o governo, desde o final de 2010, ouviu o “Deus mercado ” um pouco demais, elevando as taxas de juros e o corte de gastos, quando a economia estava muito fraca. Esperemos que esses erros não se repitam.
Se Dilma vencer, será porque a maioria dos brasileiros tem muito do que eles queriam quando votaram. Eles podem querer mais, e deveriam – mas é improvável que isso os façam optar por um retorno ao passado.