Quando os idiotas perdem a modéstia

por Sulamita Esteliam

Nelson Rodrigues tem razão: “os idiotas estão perdendo a modéstia”. Tomo emprestada a lembrança que mestre Ricardo Kotscho resgata, em seu Balaio, em crônica escrita na última segunda-feira. Fala a propósito da participação, escrota, do candidato Levy Fidelix no debate do domingo anterior, na Rede Record, em surto de homofobia explícita.

Aliás, o candidato do PRTB foi denunciado pela OAB ao Ministério Público Federal e ao TS, na terça, 30. A Comissão de Diversidade Sexual do Conselho Federal da Cidade pede direito de resposta e a cassação do registro de candidatura por injúria, manifestações depreciativas e incitação à violência contra a população LGBT.

Há quem avalie que a repercussão da fala do candidato só reforça o objetivo dele aos quinze minutos de fama. Até porque não tem a mínima chance de ser votado além do próprio núcleo familiar estrito – e olhe lá!

Pode até ser, mas essa gente precisa aprender que este país não é mais casa da mãe Joana, onde cada um faz o que quer impunemente. Até porque, tem verba pública alimentando o monstro – do fundo partidário e da publicidade no horário eleitoral.

Além do que, como observa Kotscho, e esta reles escriba concorda, plenamente: “A participação deste e de outros nanicos folclóricos na atual campanha presidencial serve apenas para demonstrar a falência do sistema político-partidário-eleitoral no nosso país.”

Mas não só. Às vezes nos esquecemos que a política é feita por gente, e o ser humano é um animal que tende a usar a faculdade do raciocínio pelo avesso. E nem faz questão de chuliar… Talvez creiam que nós, os eleitores, sejamos os idiotas.

E sempre tem um ingênuo ou imbecil de plantão disposto a acreditar e propagandear a mentira, a hipocrisia, a dissimulação e outros malfeitos de ocasião como se fosse o tampa da sabedoria. Felizmente, são armas de curto alcance.

De qualquer forma, urge um plebiscito oficial pela Constituinte Exclusiva para fazer a reforma necessária e mudar o sistema político do país. O povo já mostrou o caminho: quase sete milhões de pessoas votaram SIM na consulta popular realizada na semana da pátria.

Ainda que alienígenas queiram atribuir o resultado a “esquerdistas doidivanas que têm a pretensão de falar por 200 milhões de brasileiros”. Ou coisa que o valha.

É curioso que esse tipo de “analista” não tem o mesmo entendimento sobre as pesquisas eleitorais. Os institutos ouvem 2 mil e interpretada os indicadores como definitivos da intenção de voto da população. E todo mundo repercute – naturalmente quando favorecem o seu candidato.

De toda forma, quem frequenta as redes sociais, por diletantismo ou dever de ofício, sabe que o pudor, um sentido figurado para a modéstia, não é bem o princípio que rege a convivência por ali. É questão de oportunidade que, todos sabem, favorecem o exibicionistmo.

Seria esse o tipo de situação a que se refere o cronista pernambucano-carioca, que virou estrela em 1980.  Eis o original: “Existem situações em que até os idiotas perdem a modéstia.”

E olha que a fala do colega jornalista e escritor reflete a sociedade do seu tempo. Então, os meios de comunicação se restringiam à imprensa escrita, ao rádio e à TV: aos correios, telefone, telex, fax e que tais…