
por Sulamita Esteliam
A energia da rua mexe com a gente inteira.
É como o frevo, entra na cabeça, depois toma o corpo e acaba nos pés.
E haja pés, e haja coração. Quinta-feira prenha de emoções.
Recife foi lindo, como sempre. E como sempre o povo faz a festa, segura o espetáculo. Há um artista dentro de cada um, e a rua é palco imenso e generoso.
O Brasil inteiro brilhou e gritou em coro de milhares, numa só voz: #NãoVaiTerGolpeNuncaMais!
No aniversário 52 anos do golpe civil-militar, que mergulhou o País em 21 de ditadura sangrenta, o nosso bom e velho Chico Buarque, do alto do palanque no Rio de Janeiro, resume o sentimento da Nação: “Não, de novo não. Golpe nunca mais.”
Em terras pernambucanas, o Coletivo Geral pela Democracia dos alunos de graduação da Universidade Federal Rural de Pernambuco mostrou para que serve o conhecimento da História. Formou uma ala inteira em homenagem aos mortos e desaparecidos da longa noite de terror pós-64, sob os coturnos.
Por mais que não estejamos sob risco de intervenção militar, embora haja quem a evoque, é sempre bom lembrar do que o totalitarismo é capaz.
Necessariamente, o arbítrio não veste farda, e muito menos somente de padrão verde oliva.
No Brasil, o fascismo é, e sempre foi, multifacetado; enverga quase sempre um colarinho, branco ou preto ou cáqui e, nos últimos tempos, é chegado numa toga, e não resiste a uma câmera e a um microfone.Essa consciência é coletiva, desconhece gênero e perpassa gerações. As ruas o mostram.
O povo não é bobo. E esse impeachment é golpe.
E Dilma fica, porque merece respeito, e em respeito à Constituição.
E a Globo apoiou a ditadura, é a própria ditadura, e mente.
A juventude nos redime com a presença indispensável, e nos resgata, também na irreverência, característica da nossa gente.
É direto ao ponto, sem frescuras e aparatos. A verdade é dura, a gente bem sabe.
Essa gente jovem sabe ser agradecida, também. Sabe resistir e sabe provocar. Sabe energizar.
É revigorante constatar que não há mais lugar para a juventude abúlica, como afirmava Darcy Ribeiro, forjada na opressão.
Sim, nós temos sucessores, e ainda estamos aqui.
Os golpistas não passarão!
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Postagem revista e atualizada às 23:10h: correção de sexta-feira para quinta-feira (prenha de emoções), terceiro parágrafo, e novamente em 05.04.2016: Universidade Federal Rural de Pernambuco; “(…)haja quem a invoque (a intervenção militar)”.