
por Sulamita Esteliam
Confesso que chorei ao assistir a cerimônia de encerramento da primeira Olimpíada no Brasil, a 31ª da era moderna. Não só pela beleza plástica, pela alegria focada na influência cultural nordestina, com Jackson do Pandeiro, Mestre Lua e o Maestro Spok, dentre outros. E, no final, tudo acaba em samba, com gente do mundo inteiro se esbaldando sob a chuva.
Chorei pelo meu País, meu Brasil brasileiro, sufocado no clima golpista, que dói e contrasta com a generosidade da festa, com o espírito esportivo que não mais habita entre nós.
Chorei pela injustiça política que está por trás da omissão dos nomes daqueles que tornaram o congraçamento possível: Lula, que trouxe o evento para o Brasil; Dilma Roussef, que garantiu os investimentos em infraestrutura que o beneficiaram.
Esporte também é política. Foi através da política que os Jogos Olímpicos vieram para o Brasil. E é através da política que irão para Tóquio em 2020. E em nome da política que o primeiro-ministro Japonês, Shinjo Abe, emergiu de um tubo no centro do Maracanã, fantasiado de Super Mário, herói de videogame famoso fabricado em seu país.
Ser fosse o Lula a fazê-lo seria esculhambado ampla, geral e irrestritamente. Mas o primeiro-ministro japonês, como Lula, não se importa de pagar mico e de fazer o que precisa ser feito para promover seu país, ao invés de entregá-lo a qualquer preço.

Enquanto isso, o interino usurpador se esconde atrás da própria pequenez, representada na festa pelo presidente da Câmara, que nem pode ser anunciado. É o tamanho ao qual querem reduzir o Brasil: ao reino da mediocridade.
Chorei pela mesquinharia da cobertura da mídia venal, que olimpicamente ignora a verdade truculenta, nas ações de poder e nas ruas; que passa ao largo da resistência ao golpe nos próprios estádios olímpicos. Ela que ajudou a promovê-lo.
Falta vergonha. Sobra vira-latice.
A mesma mídia que esconde a barbárie policial no dia a dia das populações periféricas do Brasil, das comunidades cariocas, mineiras, paulistas, recifenses, das famílias desalojadas do seu habitat para a Olimpíada passar.
Chorei pela covardia nossa cotidiana.
Chorei pela vergonha de um País tão bonito, rico, de um povo tão criativo, ter que submeter-se à escória política, pela fraude, pelo desrespeito, pela omissão e conivência.
A História não perdoa os covardes.
Pouco vi dos jogos olímpicos. Sei que perdi a festa, mas não sei torcer contra. Sou daquelas que acham que, com todas as contradições, nossa gente merece um pouco de alegria. Nem só de pão vive o homem.
E nossa gente humilde, espelho da nossa diversidade e riqueza, é a grande responsável pelo brilho do Brasil nos jogos. Inclusive nos resultados. Vem delas a maioria das 19 medalhas conquistadas na competição: sete ouros, seis pratas, seis bronzes.
Dentre os atletas laureados, 17 são patrocinados pela Bolsa Atleta, programa dos governos Lula e Dilma. Como a carioca Rafaela Silva, o primeiro ouro desta edição, no judô. Mulher, negra e pobre. Mulher guerreira. Invisível para a mídia local, que padece o velho e triste, mas risível, complexo de vira-latas.
Assista à beleza do vídeo The Power of Gold | Rio Olympics 2016 | The New York Times:
Enquanto isso, foi ao ar no domingo à noite, a enésima entrevista da presidenta legítima Dilma Roussef a uma emissora de televisão, nacional e internacional. Desta vez ao repórter Roberto Cabrini, do programa Conexão Repórter, do SBT.
A entrevista foi gravada no início do mês, e não houve a preocupação em atualizar informações importantes. Por exemplo, de que Dilma vai ao Senado defender-se pessoalmente, dia 29, no julgamento de impeachment que começa dia 25, e que deve durar cinco dias, no mínimo.
Sem tirar o mérito do jornalista de exercer seu ofício de perguntar, digamos que ele tem um estilo rebuscado, dramático de fazê-lo, e também de reportar. As perguntas são carregadas, na tentativa de mostrar isenção; o tom é acusatório, entretanto. Jogo de cena.
O texto é carregado, força a barra para provar determinada tese. Beira o burlesco. Só que a edição precisa da fala da entrevistada, e a resposta contradita a narrativa, capciosa para dizer o mínimo.
Listo algumas frases de Dilma Roussef:
“Cometi muitos erros. Inclusive não ter percebido que ia ser traída do jeito que fui.”
“Eu não sou fria, seca e insensível. Eu sou uma pessoa firme, que não se abala com a primeira pedra no caminho. Não jogo a toalha jamais.”
“Meu governo não está e nunca esteve envolvido em corrupção.”
“Sou vítima de um julgamento fraudulento, usado politicamente para fazer uma espécie de eleição indireta. Considerando que o programa deles não passa pelo escrutínio popular.”
“Não vou renunciar. Não vou dar a eles esse gostinho.”
“Realisticamente, eu lutarei até o fim.”
Não assisti na TV, porque apaguei cedo, de exaustão; tive uma semana pesada de trabalho, e o fim de semana dedicado a cozinhar para amigos. Dois prazeres que não excluem o cansaço, todavia.
Busquei no Youtube a íntegra da entrevista para compartilhar aqui. Assim,quem, como eu, não pode ver ontem, tem a oportunidade de assistir.
Amanhã há de ser outro dia.
***************
Postagem atualizada às 20:59: inclusão das fotos. E novamente em 23.08.3016, às 17:23: correção dos links dos vídeos; inclusão dos parágrafos 5 e 8; inclusão da última frase no parágrafo 7. Com minhas desculpas pelas falhas.