
Precisei desligar geral, porque sofri uma pane no fim de ano. Cá estamos de volta.
Passei meu aniversário e mais dois dias num hospital em Beagá – no PA, Pronto Atendimento no jargão médico-hospitalar. Ninguém merece.
É que meu plano de saúde, voluptuoso no Nordeste, só dispõe do convênio de um convênio, capenga, em terras mineiras.
Meu contrato é apartamento, o hospital que me foi indicado para a emergência é pequeno e não tinha vaga. Não quiseram correr o risco de me botar numa enfermaria.
E não tiveram coragem de seguir a recomendação do convênio-ponte, uma associação nacional de hospitais: “Não receba, mande pro SUS”
Não havia transferência possível pelo meu plano, “ilustre desconhecido” nas plagas mineiras, segundo alegaram. E os médicos não me liberaram para tomar medicação em casa enquanto aguardava autorização para os exames, porque meu caso seria grave.
Risco por risco, correram o pior: deixaram-me em condição de indigência, no quesito acomodação. Uma tarde e noite em cadeira, sem medicação, porque não havia diagnóstico. Mais dois dias e duas noites em uma maca com colchonete de 5 cm de altura.
E é claro que alguém vai ter que pagar por isso…
O maridão, meu anjo da guarda, que praticamente me obrigou a procurar ajuda médica, moveu céus e terra, por telefone e internet, para obter autorização para os exames.
Ao fim e ao cabo, para facilitar, pagamos a ressonância em instituição indicada pelo hospital, sob garantia de ressarcimento via plano. Aguardamos.
E a filha Carol baixou a sertaneja, legal, com a direção da casa que me hospedou contrariada. Quando argumentaram que “eram as acomodações possíveis”, ela nem pestanejou: “Experimente colocar sua mãe para dormir três dias nesta maca…”

O que não tem remédio, remediado está, não obstante. Minha porção Poliana entrou em campo para me salvar e equilibrar os humores. Queria mesmo é cair fora dali o quanto antes.
E o fiz, com direito a bilhetinho e abraço carinhosos de gente da equipe de enfermagem… E pedido de desculpas da direção.
Sobrevivi.
Banheiro único para pacientes, homens e mulheres. Uma vergonha inadmissível.
Comida só deu as caras no terceiro dia. Nunca pensei que pudesse degustar, com tamanho prazer, carne de soja com chuchu…
Depois de jejuar por 36 horas, à espera de autorização para a ultrassonografia, convenhamos, transmutou-se em verdadeiro manjar.
O desjejum matinal é de chorar: não passa de um magro café com leite e pão com margarina – dizem que falta uma molécula para plástico -, que eu detesto.
Nem uma frutinha, tipo banana ou laranja, para contar a história. Ponho-me a imaginar o papel do alimento, da nutrição na recuperação de pacientes …
Quase vou a nocaute outra vez.
Ou como diria meu saudoso tio Dino, aquele que escolheu meu nome: “vi minha avó pela greta, dançando chá-chá-chá de biquini, muchacha… Barbaridade!
Cenário dantesco. E depois falam do SUS.
Exame de sangue para lá, ultrassonografia para cá, ficamos com o diagnóstico (?) inicial: colecistite, ou inflação da vesícula. Ou não.
E eu nem tomava conhecimento da dona bruta, que só se manifesta quando em surto.
Bilirrubina nas alturas, enzimas hepáticas quadruplicadas, leucócitos de ponta-cabeça. “Barro biliar’ espesso, como volume amorfo em movimento” sugeria entupimento do canal de ligação da vesícula com o fígado, o que terminou não se comprovando.
E Euzinha amarelinha, que nem galinhada com açafrão.
E com fome.
E os braços, e as mãos picadas por todo lado, tudo roxo e dolorido.
Chamaram a infantaria: dois potentes antibióticos entraram em ação e em menos de 48 horas todas as taxas haviam se normalizado.
Coisas que só acontecem com a dona Sulamita.
O velho combatente, entretanto, mesmo antes do assalto medicamentoso, não sofrera alteração de forma ou volume.
Também seus companheiros de batalha, pâncreas e baço, se mantiveram de pé, intactos. Da mesma forma os rins e a bexiga quedaram-se incólumes.
Como é possível!?, perguntavam-se os médicos, estupefatos também pelo fato de que sou uma ex-lupótica.
Ora, dizem que lupus (tive o eritematoso, não o sistêmico) não tem cura. E estou há 16 anos sem medicamento e sem crise, e os exames dão todos negativos.
Desta feita, não havia qualquer tumoração e nem sinal de cálculo na vesícula. Se houve ou se não houve alguma coisa entre eles dois, ninguém sabe, nem a colangiorressonância foi capaz de explicar…
Tudo na mais perfeita ordem. Ou quase.
A cirurgia é mais do que recomendável. Nada garante que não sobrevenha nova crise, e muito menos que eu tenha a mesma sorte.
O bom é que pude deixar para fazê-lo no Recife, e com mais conforto e assistência. Santa ironia!
Cabe registrar o acerto da equipe médica, apesar do espanto. Gente jovem, firme e desabrida.
Aqui, aonde cheguei na madrugada da quarta, 10 já visitei um cirurgião e estou na fase das providências burocráticas e de segurança para o procedimento cirúrgico.
Quero resolver logo, vem aí o Carnaval.
Até que se extirpe a dona vesícula, recomenda-se passar longe de comida gordurosa: nada de torresmo, pé-de-porco, galopé, mineirinho valente (canjiquinha com bacon e linguiça), rabada, tropeiro, feijoada, tutu de feijão, pastel frito, bolinho de feijão… muito menos mortadela.
Não que faça parte do meu cotidiano; minha dieta é equilibrada. Mas me permito o que é tudo de bom, e parte obrigatória na passagem pelas Gerais.
Claro que tracei tudo o que tinha direito. Exatamente como faço a cada temporada nas Alterosas.
Talvez a culpa seja de um antioxidante que a geriatra daqui me receitou, apesar de avaliar, com base nos resultados de uma bateria de exames, inclusive ultrassonografia abdominal – a primeira em 62 anos de idade – que eu estava “ótima”.
Minha teoria é de que acabou provocando o derramamento de gordura, azedando o processo… Os médicos não descartam a possibilidade, embora não tivessem elementos para comprova-lo.
Ou, quiçá, a resposta esteja mesmo na definição de um amigo: “Chegou a hora dela…”, a vesícula.
Assim, sob profundo mal estar, e sobre-cuidada por todas as partes, peguei leve já a partir do Natal, a festa Cristã – e a minha festa,que deu no que deu.

Ganhei o direito de celebrar outros aniversários, três quilos mais magra. E minha Poliana, mais uma vez, é grata.
Sorte é que a cervejinha está liberada, e ando tirando a forra do prejuízo das celebrações de fim de ano.
Saúde e alegria para este novo ciclo.
Não por acaso, faço questão de retomar o blogue nesta sexta-feira, 13.
Muito Axé para tod@s nós.
E fora, temer!
Vê se anula logo, STF!
Não sabia dá saga toda. Melhore logo. Vejo grande.
Estamos na torcida por outros 28 de dezembro. Boa sorte Sula.
Salve, Sula. A tal mineira.