por Sulamita Esteliam
Bom, já era tempo de retomar o blogue. Na última postagem, há mais de uma semana, quebrei o repouso, e esperava antecipar o retorno, mas não foi possível, a bem da minha recuperação. Assim, limitei-me a acompanhar, compartilhar os fatos e a dar pitacos pelas redes sociais, mais amáveis às minhas condições pessoais e habilidades com o smartphone. Sei que compreende.
Isso posto, vamos ao que interessa.
Começo pelo resgate da semana que passou e do primeiro dia desta que se inicia.
O melhor do fim de semana foi o coro de milhares no LulaPaloozza, ôps!, LoolaPallooza em São Paulo. O guitarrista de um conjunto de rock solou o refrão do hino das campanhas presidenciais disputadas por Luiz Inácio. Afinal foram cinco, e ele só foi eleito na quarta tentativa, e reeleito na quinta vez.
“Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula…/Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula lá…!”
Todo mundo conhece, até quem odeia o sapo barbudo, e só não canta quem não quer. Mas aquele ror de gente, a colorir o Estádio de Interlagos, a maioria com certeza de jovens, cantou, a plenos pulmões.
Quer saber, fico muito, mas muito feliz mesmo em saber que, certamente, uma dessas vozes é da minha filha, uma delas que foi para o festival.
Agora, é de se supor que a cantoria deve ter deixado muitos por aí p… da vida. Suponho que até alguns presentes, emersos dos tempos dos protestos verde-amarelos, mais amarelos que verdes, patos pixulecos e camisas da CBF.
Então, não se pode querer que a arte, a música, a diversidade sejam prerrogativas da esquerda, ou estejam restritas a portadores do bom senso político.
Certo é que o vídeo postado no FB/Dilma Bolada viralizou.
Boa antecipação do que está por vir.
Não se trata de profecia, até porque não temos a graça do Messias redivivo entre nós. Além do que, depois do apocalipse golpista, poucos hão de recordar-se que Deus é brasileiro.
Desconfio, não obstante, que as trombetas ameaçam virar contra os tocadores e os arautos do caos. Ou, como já escrevi diversas vezes aqui no blogue, a turba golpista foi com tamanha sede ao pote, que trincou o instrumento, e estamos a um triz de quebrar de vez.
A retomada do regime de escravatura, com a aprovação da terceirização ilimitada, flagrantemente inconstitucional, e a ameaça que paira sobre o direito à aposentadoria pelo sistema público disparou todos os alarmes.
Mais do que o congelamento do orçamento social por 20 anos. Talvez pela compreensão que possibilita a natureza humana, desde os primórdios atrelada ao pão nosso de cada dia.
O tal umbigo da sobrevivência própria e da família, não apenas do Zé povinho, mas da classe média desarvorada. Salário e benefícios assegurados na CLT, para o que resta de emprego e possibilidade de futuro.

E por falar em classe média, deram xabu as manifestações do domingo, 26. O protesto insano, “em defesa da Lava Jato e em favor das reformas”. Convocado pelos ditos “movimentos” que ajudaram a implantar o vale-tudo, a lambança ampla geral e irrestrita neste Brasil gigante em decomposição.
Não vou nomeá-los “pingados” em respeito aos bichanos. Curioso é o eufemismo da manchete da Folha no dia seguinte: “menos gente”. Um fiasco, isso sim – que mereceu foto no alto de página, com direito a espetada em Lula e Dilma na legenda. Parceria é parceria.
Somados todos os quadrantes, não resultam numa Monteiro do dia de São José.
No domingo anterior, a cidade do sertão paraibano virou um mar de gente para saudar Lula, Dilma e o desaguar do São Francisco no Açude Poções.
Que dirá do 15 de março, o (re) despertar da gente trabalhadora, que carrega este país no lombo, e que volta às ruas dia 31, espera-se com muito mais gana e num crescente.
Enfim, caiu a ficha de que o 1% representado pela camarilha que tomou de assalto o país quer é reconduzir o gado ao matadouro.
O tempo urge, mas antes tarde…
Depois das mulheres em multidão, no 8 de Março, e do milhão e meio, por baixo, do dia 15, em Monteiro, foram 100 mil nas ruas numa cidade de 30 mil habitantes. E engarrafamento-monstro na rodovia de acesso.
Fora os caminhantes do entorno.
Consta que, agora, um promotor, mais um, ávido por seus 15 minutos de fama, ameaça investigar.

No mudinho dessa gente que se acha diferenciada – e que é regiamente paga com o meu, o seu, o nosso dinheiro -, não cabe a vontade e a iniciativa do Zé Povinho.
“Saía gente de tudo enquanto é lado, brotavam dos matos à beira da estrada em profusão”, conta aos alunos uma professora universitária que nunca botou fé em Lula. Convidada por uma amiga, foi lá conferir, de curiosa. E voltou espantada com o fenômeno.
Às vezes meus botões se perguntam em que planeta algumas pessoas vivem…
“Não é só carisma, é identidade. E ele em carro aberto, a pé, no meio do povo. Qualquer um pode matá-lo a qualquer momento…!”, espanta-se.
Imagens e simbolismo solenemente ignorados pela mídia venal.
Não surpreende. Até porque, seria passar recibo ter que comparar o fenômeno Lula e a inauguração popular com a nulidade do mordomo usurpador golpista e a patética inauguração oficial.
O povo que vaiou o ocupante da cadeira em que colocara e reconduzira Dilma, sucessora de Lula, foi ao delírio ao vê-los e tê-los ao alcance da mão.
Reconhecimento à dupla que tornou possível o “milagre” das águas do Velho Chico molhar o chão tórrido da caatinga.
No Semiárido do Nordeste, não se vê chuva há cincos anos. Salvam o milhão e meio de cisternas construídas pelos governos Lula e Dilma. Uma invenção do sertanejo tornada política pública, e que garante água potável a 4,5 milhões de pessoas na região em área equivalente a quatro vezes o Reino Unido.
Lula encarou o desafio de transpor o Rio chamado da Unidade Nacional. Sonho de antanho, promessa que vem do Império, jamais realizada.
Ele conta, no discurso, e ninguém prestou atenção, que foi o velho Arraes quem o aconselhou a tomar para si o encargo. Miguel Arraes, avô de Eduardo Campos, morto no avião que explodiu na campanha eleitoral de 2014.
O cearense que governou Pernambuco, foi deposto pela ditadura civil militar, e retornou nos braços do povo que o idolatra. Outro sertanejo preocupado com a gente humilde. Seu símbolo era um chapéu de palha.
Dilma viabilizou a maior parte do empenho, 94%, e liberação das verbas para o investimento de R$ 9,6 bilhões na transposição: 86% da obra do Eixo Leste foram concluídas até abril do ano passado, mês antes da abertura do processo fraudulento do impeachment que a depôs.
Significa que, do investimento total de R$ 9,6 bilhões nas obras da transposição, R$ 7,95 bilhões foram executado, dos quais 72% durante a gestão Dilma Roussef. Ela deixou empenhados, reservados, 94 % dos recursos necessários à conclusão da obra.
Os aquedutos que somam 477 km de extensão vão garantir abastecimento a 12 milhões de habitantes que vivem em 390 municípios dos estados de Pernambuco, Paraíba, via Eixo Leste, entregue; e Grande do Norte mais Ceará, via Eixo Norte, em construção.
De Floresta a Sertânia, ambos em Pernambuco, foram 217 km para chegar a Monteiro, em nove estações elevatórias que, somadas, equivalem a um edifício de 96 andares. É possível fazê-lo em seis meses, como ventilou o desgoverno?
Piada pronta.
São José, o padroeiro das famílias descamisadas e de pés descalços ou em alpercatas não compareceu com chuva no domingo que celebra seu dia, a prenunciar bom inverno.
Mas tocar Lula, abraçar Dilma, e enfiar os pés ou mergulhar naquela água improvável, hidratou a alma e a esperança de que um dia tudo pode vir a ser, a tornar a ser, diferente.
Só que para isso, precisamos retomar nosso país. Não podemos esquecer que vivemos sob golpe permanente. É preciso restabelecer o Estado democrático de direito, o respeito às regras do jogo, o primado da Constituição.
Ganhar as ruas não só para protestar contra o desmonte da Previdência Social e dos direitos trabalhistas, para pressionar o Congresso, que já deu provas o suficiente de que trabalha de costas para o povo.
Mas com os senhores deputados e senadores, a gente acerta no voto. Isso, se as eleições de 2018 forem mantidas.
É fundamental pressionar quem está com a bola do jogo, o STF. Só a Corte, que sabemos é parte do golpe, pode desfazer o nó que se tornou o Brasil.
Não é possível que no grupo dos 11, não reste meia dúzia com um mínimo de prurido moral, de escrúpulo, de respeito à Constituição que lhes cabe defender.