Mariana: a tragédia de vidas interrompidas pelo descaso e pela impunidade

Foto: Gustavo Ferreira/Jornalistas Livres
O que sobrou do distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, depois do rompimento de duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco  – Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
por Sulamita Esteliam

No rastro da indignação com a suspensão temporária do processo criminal contra as empresas responsáveis pela tragédia humana e ambiental em Maria – Samarco, Vale do Rio Doce e BHP Bilinton – divulgada esta semana, o El País Brasil dá lição de Jornalismo à mídia nativa, das Gerais e do País. Apurou que, quase dois anos após o desastre, as donas da barragem rompida não pagaram as multas impostas pelo desleixo criminoso.

A lembrar que a onda de rejeitos que destruiu o povoado de Bento Gonçalves, distrito da cidade histórica, matou 19 pessoas e deixou um cenário de lama e destruição ao longo de 600 quilômetros de Minas e do Espírito Santo. E todas as vidas interrompidas pela irresponsabilidade, desleixo e covardia – de quem partiu e de quem ficou.

A edição brasileira do jornal espanhol aponta, a partir de levantamento junto ao Ibama e outros órgãos ambientais no âmbito dos dois estados afetados:

“Das 68 penalidades, que totalizam quase 552 milhões de reais, 67 estão em fase de recurso. Apenas uma, parcelada em 59 vezes, começou a ser quitada: o valor corresponde a 1% do total.”

E questiona, e com razão, a morosidade das punições, exemplificadas no não pagamento das multas.

Registra a quase infinita possibilidade de manobras jurídicas a postegar até a prescrição as ações penais, criminais e financeiras. Naturalmente que, para quem, como as empresas envolvidas e seus executivos, pode remunerar regiamente bons advogados.

Sem descartar a capacidade de seduzir e influenciar magistrados, como demonstram fatos recentes em processos, como por exemplo, decorrentes da famigerada Lava Jato, em todas as instâncias.

Não é o caso das 800 famílias atingidas, dentre elas aquelas que tiveram seus entes queridos engolidos pela lama e dejetos; um corpo, inclusive, jamais foi localizado.

Aliás, sobram exemplos de não é o caso. Para citar mais um: o ex-catador de latinhas, Rafael Braga, que mais uma vez teve seu habbeas corpus negado pela Justiça. Preto, pobre e favelado, seu caso é uma aberração, prova clara do racismo institucional,  particularmente, quando comparado com o tratamento reservado ao filho de desembargadora do Mato Grosso, Breno Fernando Solon Borges.

Rafael Braga, para quem não sabe, é preso político, o único das manifestações de junho 2013,  no Rio de Janeiro. Acusado por ser portador de um frasco de pinho sol e outro de água sanitária, foi condenado a 5 anos de prisão por “porte ilegal de artefatos incendiários”.

Em janeiro do ano passado, cumprindo regime aberto, com tornozeleira eletrônica, foi novamente preso por soldados da UPP do morro da Vila Cruzeiro, e acusado de tráfico de drogas, que segundo testemunhas e sua defesa não portava.

A palavra dos policiais, tanto no episódio da condenação, como na volta ao encarceramento, foi o suficiente. Embora até as areias de Copacabana saibam que plantar provas não é exatamente um exceção quando se trata da polícia do Rio.

No caso do processo criminal contra as mineradoras em Minas, foi suspenso porque a defesa de dois dos 22 diretores denunciados pelo Ministério Público – inclusive o presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, e o diretor Kleber Terra -, alega que houve escuta telefônica fora do prazo legal. O MP contesta. O juiz determinou que a companhia telefônica forneça informações que esclareçam as dúvidas.

Clique para ler a íntegra das reportagens do El País Brasil sobre o calote das multas e sobre a suspensão do processo.

Isso para não falar de AhÉCim, Rocha Loures, o mordomo usurpador que ocupa o Planalto e toda a camarilha que o cerca e protege.

 

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Postagem revista e atualizada às 22:56hs: substituição de palavras repetidas em diferentes parágrafos; complementação de raciocínio intertrompido  no 12º parágrafo. Com minhas desculpas.

 

 

 

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