por Sulamita Esteliam
Estava com saudades da contundência da amiga Berta Lopes, e você? Eis que estou na terrinha e ela resolve nos dar o ar de sua graça, depois de longo silêncio.
O A Tal Mineira agradece, penhoradamente.
Dia da hipocrisia
por Berta Lopes – Especialmente para o A Tal Mineira
A mesa diretora da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), provavelmente pela primeira vez, não institui recesso na segunda-feira, dia 14 de agosto, véspera de um feriado. A justificativa é que a data é do calendário municipal, o que nunca foi obstáculo para decretar recesso em todos os anos, pelo menos da última década.
Internamente, comenta-se que é medo do que a imprensa e a “opinião pública” vão dizer. Interessante que suas excelências não tem menor pudor em votar auxílio-moradia e outras vantagens que os transforma em uma casta cada vez mais distante do povo que os elege e que pode pensar e falar mal da Casa por ter emendado ao feriado de terça uma segunda enforcada.
Os diretores, ocupantes da mesa, determinaram que todos os servidores, recrutamento amplo (RA), terceirizados e adolescentes trabalhadores comparecessem ao trabalho neste meio feriado. Mas a agenda só anotava uma atividade, que não é propriamente uma atividade legislativa. Os moradores de áreas inundadas e ou desapropriadas para a construção de barragens reunidos no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) acamparam na ALMG em protesto contra o leilão das usinas de Jaguara, Miranda, São Simão e Volta Grande, previsto para setembro. O acampamento começou às 8 h.
Meia hora mais tarde, o presidente da ALMG, que determinou dia útil, não estava em seu gabinete e na agenda não constava nenhuma representação – eufemismo para atividades externas do chefe do Legislativo.
Se os diretores e demais deputados têm medo do que o “povo” vai falar, deveriam ter mais medo da repercussão de uma medida como a de hoje. Mandam os que obedecem, mas não comparecem ao trabalho.
Mais que medo, homens e mulheres públicas devem respeito e satisfação à população e ao dinheiro público. Esta segunda-feira enforcada vai expor a hipocrisia dos parlamentares mineiros de várias formas. Vai mostrar que manter as aparências não engana mais. Não se vê, até agora, um único deputado na Casa. Servidores, RA, terceirizados e adolescentes trabalhadores vão ficar olhando o relógio esperando o tempo passar até dar a hora de bater o ponto de saída. Se não há atividade legislativa, não há muito o que fazer.
Ascender luz em oito estruturas, ligar ar-condicionado e, cinco, elevadores em três prédios é mais caro do que estabelecer o recesso. Esta conta foi feita pelo diretor-geral, Cristiano Félix dos Santos Silva, quando ainda era diretor de infraestrutura.
Para checar se os deputados compareceram ao trabalho, hoje, clique no link e acesse os gabinetes de todos os deputados : https://www.almg.gov.br/deputados/conheca_deputados/index.html
E este é o link para conferir se os ocupantes da Mesa cumpriram sua própria determinação:
https://www.almg.gov.br/a_assembleia/mesa/index.html
Caso os deputados queiram o respeito do público, deveriam adotar o planejamento, a gestão de recursos e de pessoas. O calendário de feriados deveria ser publicado no início de cada ano, com os recessos preestabelecidos. O distinto público tomaria conhecimento e saberia com antecedência os dias de não funcionamento da Casa.
Os servidores e trabalhadores não querem e não precisam ganhar dias de folga de graça, podem pagar por eles, trabalhando minutos a mais em dias determinados.
E as línguas nervosas seriam contempladas. Ficariam quietas dentro da boca. E o público seria tratado com respeito. E os excelentíssimos deputados não precisariam instituir, a cada recesso não dado, o dia da hipocrisia.