
por Sulamita Esteliam
Topei com o comentário do Eric Nepomuceno, autor, tradutor e jornalista, no Nocaute, o blogue do Fernando Morais, outro escritor e jornalista brasileiro premiado. Na verdade, uma crônica, vertida também em texto.
Escreve com o sentimento que nos habita, nós que amamos o Brasil e Lula: apreensão, tristeza, indignação, desalento.
Um vazio, não só de poder, como ele aponta, mas a exacerbação de um poder sobre o outro, no caso o Judiciário, como Euzinha já escrevi aqui várias vezes, e ainda ontem. A República inexiste, está ao rés do chão.
De todo modo, é oco de pertencimento, um esvair de esperança – aquela velha senhora que nos alicerça década, após década, entra golpe, sai golpe, sobe e desce governo.
Crise após crise, bandalheiras de toda sorte, abuso sobre abuso, e estamos de novo em Estado de Exceção. Pior, governados por uma quadrilha que nos tirou o ar e a âncora.
Tenho lutado contra o desalento, mas há que ter nervos e coração de aço, devo concordar.
Ao vídeo e ao texto, enquanto decido a linha e o ponto que vou tricotar nesta quinta, quiçá depois…
Há um vazio de poder no Brasil, uma economia em crise e um estado de exceção
por Eric Nepomuceno – no Nocaute
Bom, aconteceu o que era esperado, no sábado Lula foi preso. Foi levado para Curitiba.
A exemplo de milhões de brasileiros, estou em um misto de tristeza e indignação por essa arbitrariedade, por essa violação da constituição. Sobretudo, por causa dessa farsa, eu continuo buscando uma prova daquilo que Lula é acusado.
Agora, ao mesmo tempo eu tenho também uma apreensão, um quase medo, sobre o que vai acontecer. Não estou me referindo só o que vai acontecer com o Lula mas o que vai acontecer com o Brasil.
O quadro que a gente tem hoje, pra mim, é muito nítido. Você tem uma Corte Suprema dividida, encabeçada por uma senhora magistrada que é manipuladora, ela manipulou claramente para colocar o Lula “na boca do canhão”.
Por uma outra magistrada que vota contrário ao que ela pensa. Eu nunca vi isso na vida. Tentei entender o que ela falou, na verdade a única coisa clara pra mim é: “é contra minha convicção mas eu vou votar”. Por favor! O mínimo de integridade.
O ministro Gilmar Mendes chegou a ser indelicado, que no caso dele não é surpresa pra ninguém, mas francamente indelicado. Quer dizer, aquela casa não tem comando.
Há um vazio de poder no Brasil. Temer não manda em nada, ele negocia. Ali é um mercado de troca de interesses, seu governo acabou.
Há um vazio de poder no Ministério da Justiça…
O que se constata é que existe um vazio de poder. O Temer não manda em ninguém, a Polícia Federal, que em nome de uma autonomia, que seria desejável e louvável, age totalmente fora de controle, e não é de hoje.
O Ministério Público ganhou. Chegamos em um ponto em que um procurador pede a um juiz para que acelere a prisão do Lula para acabar com a ameaça de onipresença. Traduzindo para o português quer dizer o seguinte: “o Lula estava falando demais, se mexendo demais, então prende logo para acabar com isso”.
Existe uma economia em crise, na segunda-feira após a prisão do Lula o Dólar explodiu, o Euro explodiu, a bolsa despencou – são os especuladores de sempre que mexem. O quadro é muito complicado.
A única voz que se levantou com firmeza durante esse episódio inteiro, além do Lula é claro, foi a voz do comandante do exército, o general Villas Bôas. E eu acho que nós das nossas comarcas, da nossa América, quando a voz da caserna começa a se ouvir além do normal é hora de temer. Sobretudo quando estamos nas mãos de um camarada chamado Michel Temer e sua quadrilha.
Eu tenho muito claro o sentimento de apreensão. A qualquer momento essa extrema direita desbordada, está descontrolada, e ela conta – é evidente que conta – com a cumplicidade por omissão da Polícia Militar do Paraná. Que sabe agir na hora de jogar bomba de gás, de dar tiros de borracha em crianças, em senhoras e senhores, etc.
Mas quando os facínoras de um troglodita chamado Jair Bolsonaro dispararam rojões contra o helicóptero, onde está o Lula mas também policiais federais, aí não acontece nada.
Tempos de breu, tempos de breu. Eu não achei, canso de dizer isso, que se eu fosse voltar a essa altura da minha vida, em um estado que cada vez mais claramente é um estado de exceção, um estado de temer.