
por Sulamita Esteliam
Vejo nas redes sociais a constatação de que o 1° de Maio Unificado, que reuniu em torno de 40 mil pessoas em Curitiba, sem contar as manifestações pelos sete cantos do Brasil e mundo afora, não existiu para a mídia venal. Sobretudo para as redes de TV, Globo à frente.
Direitos da classe trabalhadora, democracia, e Brasil soberano não são pauta do agrado da mídia golpista, que dirá a defesa de Lula Livre!
Nesse sentido, a tragédia do incêndio e desabamento de um prédio no centro de São Paulo, que abrigava 150 famílias, cerca 400 pessoas, foi providencial.
Gostaria de saber, Euzinha que sou abstêmica a narrativas tóxicas, como o PIG, as TVs em especial, lidou com as cenas explícitas de expulsão do mordomo usurpador golpista do cenário da tragédia, na manhã do Dia do Trabalhador.
Assista aos vídeos:
O vampiro que tomou de assalto o País, acha que o povo é o quê!?
Um bom contraponto para a celebração do ex-presidente Lula, reconhecido prisioneiro político e cuja liberdade é reclamada, alto e bom som, aqui e alhures.
O interessante é que no meio do dia, o colega jornalista Marco Aurélio Mello, ex-editor da TV Globo, hoje na TVT, postou no Facebook um texto premonitória da cobertura das TVs à tragédia.
Que deixou ao menos um morto, além de outras três pessoas estarem desaparecidas – leia a matéria da Rede Brasil AtuaL que inclui nota de solidariedade da CUT e vídeo com Guiherme Boulos, líder do MTST e pré-candidado do Psol à Presidência da República.
Ah, sim, o prédio pertence à União. E consta que até os anos 90 sediava a Polícia Federal em São Paulo.
Com autorização do autor, transcrevo a crônica referida, por que vai ao cerne do jornalismo praticado hoje no Brasil.

Incêndi0 em Primeiro de Maio, hummm
por Marco Aurélio Mello – no Facebook
Tragédias humanitárias como o desabamento do prédio na madrugada deste primeiro de Maio, no Centro de São Paulo, mexem com todo mundo.
Claro, não é para menos, afinal, são vidas em jogo.
Muitas vidas.
A curiosidade irá levar as pessoas à TV.
Serão horas e horas de audiência para deleite das emissoras.
Mais audiência, mais comerciais, mais dinheiro em caixa.
Mas como será feita a cobertura, o noticiário?
A mídia vai acompanhar o rescaldo, contar as vítimas e fazer o que eles sabem de melhor, explorar o drama, fulanizar o acontecimento.
Sicrana perdeu tudo.
Beltrano não teve tempo de sair com a criança.
Um anônimo se comportou como herói, ao desafiar as chamas e resgatar feridos.
Bombeiros superaram o cansaço e trabalharam sem trégua.
Serão várias pautas sensacionalists e várias histórias edificantes.
Mas não pense você que a ideologia não estará presente.
Os moradores serão tratados como invasores.
Serão chamados de negligentes.
Teriam sido avisados dos riscos e preferiram ficar.
Aparecerão laudos da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros atestando a precariedade das instalações.
Parte da sociedade dirá: – Tá vendo, bem feito, quem mandou eles estarem lá?
Haverá criminalização dos movimentos sociais, ao mesmo tempo em que as autoridades ficarão isentas de responsabilidade.
E o dono do imóvel?
Ah, este será blindado.
Ninguém nem saberá seu paradeiro.
Talvez apareça um advogado dizendo que estava tomando providências necessárias para reintegrar o imóvel, mas sabe como é, a Justiça é lenta…
E ficará tudo por isso mesmo.
Quem irá atrás dos levantamentos que mostram que a especulação imobiliária está expulsando os moradores pobres do Centro, onde está o emprego e a renda (gentrificação)?
Quem vai dar voz, entre tantos outros, à Raquel Rolnik, ou ao Nabil Bonduki, especialistas em urbanismo.
Quem irá demonstrar que o direito à moradia digna está na Constituição Federal e na Declaração Universal dos Direitos daPessoa Humana?
Quem terá culhão de afirmar que há hoje na cidade de São Paulo, segundo estimativa dos movimentos de luta por moradia, cerca de 400 mil imóveis fechados?
Ninguém atenta para os números?
Então tá.
400 mil moradias abrigariam a população de uma Piracicaba inteira, ou toda Bauru, ambas no interior de São Paulo, ou uma Maringá, no norte do Paraná.
Isto se a gente colocar um indivíduo em cada imóvel.
Se a gente considerar a média de três moradores para cada casa então seriam as três cidades juntas!
Já estou até vendo os desdobramentos.
O candidato à presidência pelo PSOL, Guilherme Boulos, tido como um dos herdeiros políticos de Lula, terá sua imagem desgastada, por associação aos “invasores”.
E, mais, estará aberta a temporada de despejos no Centro da cidade, promovidos por um prefeito em mandato tampão, o Covinhas, que vai fazer a alegria de muitas famílias proprietárias de imóveis esperando a valorização chegar na região central da maior cidade da América Latina.
Família cujos sobrenomes nos lembram donos de TVs, de jornais, empresários, políticos e socialities.
Sim, aquelas 500 famílias que mandam no Brasil.
A propósito, quem vai cobrir os atos de primeiro de Maio, em todo o Brasil, contra a Operação Lava Jato e em apoio à libertação de Lula?
Cortina de Fumaça?
Incêndio criminoso?
Nunca saberemos.
Mais tarde viemos a saber que o prédio pertence à União (obrigado Filipe Difini), o que é desolador. (Atualizado às 12:14)
(M.A.M.)