por Sulamita Esteliam

A semana começa com notícias tristes e de causar indignação e agonia: a economia segue de ponta-cabeça e a fome volta a assombrar a população mais vulnerável. Juntas, involução social mais depressão econômica carregam para o fundo do poço empregos, a segurança e vidas.
Leio na Folha de São Paulo, via Blog do Sakamoto, que a mortalidade infantil voltou a crescer no Brasil desde 2015. Por conta da síndrome do vírus Zika, mas também devido à “estagnação de programas sociais e redução os investimentos em saúde”.
As políticas públicas voltadas para a redução das desigualdades foram capadas pelo desgoverno, já de entrada, com o congelamento de recursos para a área por 30 anos, a tal PEC do teto. Daí a redução de cerca de ‘1 milhão de famílias beneficiadas pelo Bolsa Família, uma redução em torno de 13% no volume de recursos aplicados, por exemplo.
Na Agência Pública, entrevista de uma semana atrás, com o pesquisador Francisco Menezes, do Ibase e da ActionAid Brasil, alerta que o Brasil pode voltar a figurar no Mapa da Fome da instituição, já neste ano de 2018.
O levantamento relativo aos anos de 2015 a 2017 mostra que o país voltou ao patamar de 12 anos passados no que diz respeito ao número de pessoas em situação de extrema pobreza. Significa mais de 10 milhões de brasileiros e brasileiras nessa condição. Menezes participa da elaboração do relatório anual da ONU:
“Isso nos leva a crer que aquela correlação pobreza versus fome sugere fortemente que a gente já está, neste momento, numa situação ruim, que deve aparecer com os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares — POF — do final de 2018”, traduz o pesquisador.
Boa parte desse investimento social foi para o ralo. Chega a ser criminoso.
Quem nunca passou fome ou nem, como Euzinha, viu de perto o rastro da peste, não sabe o que vem a ser. Jamais me esquecerei de uma família que conheci em Veredinha, zona rural de Turmalina.
Em 1985, no Vale do Jequitinhonha, esta velha escriba, então repórter de O Globo, levou um soco no estômago ao constatar, a olho nu, o que um estudo da Faculdade de Medicina já dizia em números frios: a miséria causa cegueira, nanismo e pode levar à debilidade cognitiva e mental, além da decadência física.
A morte em tais circunstâncias, que me perdoe o Todo-Poderoso, é o menor dos males.
Mas o melhor é apostar na vida. E tudo começa pela tomada de consciência, do individual para o coletivo. E é o que se propõe um grupo de pessoas oriundas dos movimentos sociais, de organizações e redes não governamentais, a partir de Pernambuco.
Cerca de 90 pessoas vão é cruzar o País em dois ônibus, numa caravana para chamar a atenção da sociedade e do poder público para esse revés que atinge, sobretudo, as pessoas do semiárido. Gente que mal tocou no patamar de vida digna, e já está ameaçada de voltar a comer o pão que o diabo amassou com o rabo, se tanto.
De Caetés, terra do ex-presidente Lula, no Sertão pernambucano, dia 27 de julho, até Curitiba, na Vigília Lula Livre, passando pela Bahia, Minas Gerais, São Paulo. A Caravana do Semiárido Contra a Fome retorna por Brasília, aonde chega dia 05 de agosto, para pautar o assunto na Suprema Corte.
O peso simbólico e afetivo dessa trupe, que percorre os caminhos de Luiz Inácio menino pelo Brasil, e depois de Lula para o cadafalso curitibano, com o auxílio cruel do supremo, não tem preço.
Aí é que você, que se importa e tem alguma condição de ajudar, entra: contribuindo para a campanha de financiamento coletivo que está no ar na agência Benfeitoria. A meta é arrecadar R$ 23 mil para começar, valor mínimo a ser alcançado até 10 de agosto.
Clique para conhecer os detalhes e doar, se quiser e puder.
O dinheiro será usado para bancar as despesas com logística, hospedagem e alimentação para dessas pessoas – agricultores e agricultoras, lideranças, técnicos e jornalistas,
Mas, primeiro, assista ao vídeo: