A matéria humana, a violência e o obscurantismo em diálogo contemporâneo

por Sulamita Esteliam

O aperreio é tanto que só hoje me lembrei que 29 de Outubro é Dia Nacional do Livro. Devo dizer a vocês que, exatamente nesse dia aprovei a capa do meu novo livro: Em Nome da Filha, uma história sobre violência contra a mulher, ambientada em Pernambuco, onde resido há 21 anos e alguns meses.

Novo é bem força de expressão, porque o livro estava na gaveta há exatos 13 anos. Finalmente, consegui uma editora, mas, por enquanto, é tudo que Euzinha posso dizer. Em breve teremos novidades sobre prazos de edição, campanha de pré-venda, tempo e calendário para lançamento.

Dito isso, vou aliviar um pouco e publicar um poema inédito, bem-guardado na gaveta há coisa de cinco anos. A despeito disso, fala muito destes tempos.

Não, não é meu. É do colega mineiro Carlos Barroso, dublê jornalista e poeta. Recebi pelo Messenger, no primeiro dia do resto de nossas vidas e a propósito dele.

A foto é de instalação poética do próprio autor, que esteve em cartaz na mostra de arte e poesia visual Além da Palavra 2, encerrada no dia 25 deste mês na Casa dos Contos, em Ouro Preto, Minas Gerais.

O título da instalação, OBSCURANTISMO, a meu ver, dialoga perfeitamente com o poema.

 

OBSCURANTISMO - tronco de árvore de poda - Carlos Barroso
OBSCURANTISMO (tronco de árvores de poda) – Carlos Barroso

MATÉRIA HUMANA

De que matéria é feito o homem?

A matéria do inefável

Ou a aversão ao fato?

Do dito até que seja maldito

A matéria do indizível

De que origem é feito o homem?

A origem do sábio ou do sapo?

A que se destina a sina assassina do homem

E do seu destino no vácuo?

De que princípio é feito o homem?

De um início que se nivela ao fracasso

Ou de um sarcófago embrenhado em um saco?

De que assunto é feito o homem?

Uma desdita em cima, outra em baixo

Um oitavo sentido que já nasce do faro

De que comida é feito o homem?

Uma argamassa que não se separa do barro?

Se até o que come mostra conquista e desamparo?

De que amor é feito o homem?

A maneira de amar como se fossem passos

Com cada vez mais espinhos cravados?

De que matéria é feito o homem?

Se até em buracos somos desiguais

Se a praia não é conquista de todos

Se para outro só sobra o ar inexpugnável

Sempre no mesmo descompasso

Até o último tiro disparado

Até a morte mostrar seu rabo?

(Carlos Barroso / 2013).

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