por Sulamita Esteliam
A comunidade universitária da UFPE se uniu em um grande abraço ao CFCH – Centro de Filosofia e Ciências Humanas, em apoio aos docentes, pesquisadores e alunos citados em texto apócrifo divulgado na terça.
Organizado pela Adufepe – Associação de Docentes da universidade federal pernambucano, a manifestação é uma resposta à tentativa de aterrorizar a comunidade universitária, a partir de ameaças ao seu centro de estudos e debates humanitários.
Leia nota do sindicato ao pé da postagem.
Na terça, o panfleto anônimo foi deixado no centro de estudos acadêmicos da CFCH, e postado e viralizado nas redes sociais. Acusa duas dezenas de professores e pesquisadores de serem “doutrinadores socialistas”, “petistas”.
Alunos e alunas seriam “veados”, “feminazi”, “prostitutas”, “invasores”, “comunistas”, “degenerados” e coisas do gênero, bem ao estilo dos adoradores do inominável.
Ganhar a eleição para essa gente não é suficiente, é preciso seguir barbarizando. Até porque, desconhecem o lado civilizado da força.
Recebi a imagem do panfleto pelo zap-zap, de diferentes fontes, ainda ontem, mas só visualizei hoje pela manhã. Ando me abstendo das redes para desopilar.
De qualquer forma, não o publicaria na íntegra, pois seria expor ainda mais as pessoas citadas. Além de dar corda aos bárbaros que, entretanto, são covardes, pois não assinam o que pregam.
Embora deixem pistas. O título do panfleto apócrifo é “Doutrinadores e alunos que serão banidos do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) em 2019”.
À guiza de assinatura, em caixa alta para ecoar o grito: “VOCÊS SERÃO BANIDOS, ESCÓRIAS. O MITO VEM AÍ!’
Tipo vira-latas, que ladram, ladram, ladram à exaustão. Mas se escafedem a qualquer passa fora.
De qualquer forma, nesse aspecto, concordo plenamente com o professor José Luiz Simões, um dos alvos: dar publicidade a panfletos apócrifos é vulnerabilizar ainda mais as vítimas.
É preciso estar atento e forte, entretanto. Os ataques ao pensamento, ao debate e à livre circulação de ideias, além das ameaças às liberdade individuais grassam país afora, e incluem racismo, misoginia e ameaça de morte.
A Revista Fórum publica denúncia grave nesse sentido, na Universidade de Sorocaba, tendo como alvo uma líder estudantil negra e feminista. O caso já está aos cuidados da polícia.
Os ataques não se restringem à universidades. Em Porto Alegre, a diretora de uma escola pública estadual foi agredida por uma mãe de aluno. É o terceiro caso em 13 dias na capital gaúcha, conta o Sul21 em matéria na qual divulga nota do sindicato dos professores.
Transcrevo um trecho, pelo simbolismo:
“Vivemos um impasse de primeira ordem. É a escola pública que forma a imensa maioria da população para viver, sonhar e construir, literalmente, o futuro do país. Ou a sociedade une forças e forma um front civilizatório em defesa da escola pública, ou retrocederemos muito rapidamente à barbárie. Não há nação no mundo que tenha chegado a patamares elevados de desenvolvimento social e econômico sem investimentos pesados em educação e sem valorizar seus trabalhadores(as).
Ninguém solta a mão do(a) educador(a). Quando nós cairmos, caem todos(as).”
No Recife, o professor Luiz Raton é referência no estudo da segurança pública. E tem sido exemplar na resposta ao ataque, na empatia com os alvos e na exigência de que a UFPE e todas as instituições da sociedade civil repudiem a ofensa.
Diz o professor em texto postado em seus perfis nas redes sociais:
“Pessoal, todxs já devem estar sabendo do panfleto sem assinatura distribuído hoje no CFCH com ameaças a estudantes e professorxs da UFPE. Informo que providências legais estão sendo tomadas institucionalmente para proteger todxs. Não é a primeira vez que isto acontece na história do Brasil, nem será a última. O que cabe a nós é resistir de maneira racional, coletiva, sensata e firme, com estratégias de ação democráticas e cuidando muito uns dos outros. Vale lembrar que a construção da universidade pública e gratuita no Brasil é fruto da luta de mulheres e homens de várias gerações que nos antecederam e que continuam nos inspirando.
Os ataques dirigidos a nós são, fundamentalmente, ofensas às várias e desejáveis formas de afirmação da cidadania brasileira, à autonomia da universidade pública, às liberdades civis, à democracia. O objetivo destes grupos não democráticos é espalhar pânico e desinformação em um momento tão crítico da história do país. Não podemos cair nestas armadilhas, mas também não podemos permitir retrocessos e ameaças.
Serenxs e altivxs, vamos continuar pesquisando, estudando, ensinando, aprendendo, participando, exigindo nossos direitos e vivendo nossas vidas. Exigimos que as autoridades superiores da UFPE e dos governos estadual e federal cumpram suas tarefas definidas pela lei.
Lembremos Drummond:
“Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.”
Bora galera, de mãos dadas! Atentxs e fortes!
Abraço forte em todo mundo!
José Luiz Ratton
Professor do Departamento de Sociologia da UFPE
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPE
Sintam-se à vontade para compartilhar.
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#UFPEpelaDemocracia”
Nesta quarta, a reitoria da UFPE anunciou , em nota, que pediu ao Ministério Público e à Polícia Federal que investigue a ameaça sofrida por professores, pesquisadores e alunos “devido ao seu posicionamento político-ideológico, à orientação sexual e à etnia”.
A Universidade repudia os ataques na mesma nota:
A UFPE não admite, sob qualquer hipótese, que a violência ameace a liberdade de cátedra e individuais. A universidade defende a academia como espaço para o pluralismo de ideias.”