por Sulamita Esteliam

O 25 de Novembro é Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher. Marca o início de 16 dias de ativismo pela causa, campanha internacional puxada pela ONU Mulheres. Retomo o assunto hoje, porque domingo foi meu dia de folga e, para Euzinha que vos falo, o ócio tem sido, cada vez mais uma benção indispensável.
Pois bem, mulheres são alvo preferencial desde que o mundo é mundo. E a gente sabe bem a raiz desse câncer que nos consome, a despeito de todas as campanhas, leis e batalhas.
E quando a gente pensa que pode melhorar, eis que a humanidade entra no rubicão do retrocesso, e diz que não, tudo pode sempre ficar pior.
Na véspera, no Rio de Janeiro, estação primeira deste Brasil cada dia mais triste, foi palco de ato que reflete exatamente o que somos, ou no que nos transformamos.
Printei a foto da postagem de Jorge Lourenço, profissional de Comunicação, em postagem no Facebook, que me chegou via grupo Coração Falando, que posto ao lado – para a gente não se cansar de indignar-se.
Diz o texto:
“Hoje, a minha esposa Deborah foi agredida no Centro do Rio de Janeiro. Em tratamento de um câncer de mama, ela voltava da radioterapia quando, por conta da queda de cabelo da quimioterapia, foi confundida por um imbecil com uma transsexual. Foi empurrada, ameaçada e xingada de “viado de merda” por essa pessoa depois de sair do carro. A situação só não foi pior porque o guardador de carros impediu. Mas sim, está tudo bem com ela, apesar do susto.
Infelizmente, vivo no meio de gente imbecil que relativiza machismo, homofobia e transfobia. Que ainda fala de “mimimi”, que ainda fala que o Brasil é sim um país tolerante. Homens inseguros ou fundamentalistas religiosos que normalizam o discurso de ódio, o tipo de coisa que permite imbecilidades como essa continuarem se repetindo por aí. De novo e de novo.
Não se engane você não, que é cis-hétero normativo e imagina que a onda de ódio que certos políticos e pastores pregam nunca vai chegar até você, seus parentes ou seus amigos.
Hoje, eu só agradeço por não estar do lado de Deborah quando isso aconteceu. Porque aí a intolerância ia ser da minha parte.”
Nesta segunda, visitando o perfil do autor, encontro apelo que me faz admirá-lo ainda mais, embora não o conheça e nem faça parte, ainda, do seu circuito de “amigos” nas redes.
Particularmente porque, como se pode ver em seu perfil, é um rapaz jovem, naquela faixa de idade onde costumamos nos sentir o centro do Universo. Todavia, revela maturidade que exala humanismo e olhar necessário para o próximo, o entorno, o todo. É o que nos diferencia do estado de animalidade pura.
Transcrevo a postagem:
“Eu e Deborah ficamos tocados com toda a conscientização que esse caso está trazendo a algumas pessoas, e como mostra que essa onda de ódio pode alcançar qualquer um.
Mas a gente ficaria ainda mais feliz se toda essa indignação também se mostrasse presente sempre que um transsexual ou homossexual é atacado na rua.
Sabemos que boa parte da comoção se deve à situação de aparente fragilidade que ela tem no momento (mas eu garanto, de frágil ela não tem nada). Mas também choca por ser uma pessoa cis sofrendo um tipo de ataque geralmente destinado a segmentos bem específicos. Choca porque mostra que nem só quem sempre foi vítima do ódio pode ser atingido.
Se você ficou chocado ou tocado com tudo isso, peço que aproveitem a oportunidade e conversem com seus amigos LGBTQ. Escutem as suas histórias.
De como é sofrer ataques como esse de forma cotidiana. De como é sentir a sua vida em risco só por dar a mão a alguém na rua. De como é ter que esconder a sua vida amorosa da família ou do meio profissional por medo da reação das pessoas.
Não caiam no conto do “vitimismo”, do “mimimi” e de que “pessoas desse tipo sofrem violência porque andam em ambientes promíscuos”, como certas personalidades públicas gostam de apontar.”
Encerro por aqui. Boa semana para nós, apesar de…