por Sulamita Esteliam
Está pronto e disponibilizado em PDF o Manual de Defesa Contra a Censura nas Escolas. É uma construção coletiva, e chega assinado por mais de 60 entidades e organizações voltadas para a educação e livre manifestação do pensamento, incluindo o Fundo Malala – lista completa ao pé da postagem.
Chega em boa hora, não obstante seja extremamente revelador e triste do momento que sofremos no Brasil. Em pleno Século XXI temos que recorrer a estratégia e ferramentas que nos defendam do obscurantismo e da barbárie.
Eis o link para baixar a versão em PDF no sítio da iniciativa: Manual de Defesa das Escolas.Org/
A ideologia da ignorância campeia feito a besta do Apocalipse. Não basta o desgoverno que não termina, outro já se anuncia para nos levar ao fim dos tempos.
O Manual se estrutura em torno de 11 casos reais envolvendo perseguições, intimidações e assédio a professores e/ou escolas. A partir deles desenvolvem-se estratégias político-pedagógicas e jurídicas para enfrentar ofensas semelhantes,
A ameaça da dita “escola sem partido”, alunos são estimulados a gravar e dedo-durar professores.
Pais acusam escolas que escolheram para formar seus filhos de praticar atos contrários à família, a sociedade, os bons costumes.
Custa-me crer, por exemplo, que uma instituição tradicional, e conservadora pois de inspiração religiosa, como o Colégio Santo Agostinho, de Belo Horizonte, Minas Gerais, esteja sendo alvo do Ministério Público mineiro, por suposta prática de ideologia de gênero. A denúncia é de 2017, levada a cabo por um grupo de pais.
Vai na contramão da própria Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão e do Ministério Público Federal, que apoiam o Manual, por exemplo.
A história mal-enjambrada ganha corpo, agora, nos vãos e ritmos da ópera dos horrores que assistimos catônicos.
E que porcaria é essa de ideologia de gênero? Ensinar na escola que é preciso respeitar o outro ou a outra, vista calças ou saia, seja menino ou menina em paz ou em dúvida ou negação com a sua identidade, ou aquela que pais e a própria sociedade, escola incluída, enxergam ou desejam para a criatura em formação?
Não falta o conluio do sistema de justiça para corroborar o obscurantismo.
As sugestões do material de orientação a escola e professores privilegiam o enfrentamento político-pedagógico dos problemas ao invés de soluções judiciais individualizadas, tão ao gosto dos censores, explica o texto de divulgação.
Parte do princípio de que há que se discutir a falta de confiança nas relações entre os atores escolares, prioritariamente e como sempre foi, nas escolas. E a partir do marco de uma gestão democrática comprometida com a defesa do direito à educação amplo, geral e e irrestrito.
No limite, propõe encaminhamentos diferentes do que se verifica em outros materiais de apoio ao professorado:
“Por exemplo, qual é o papel das instituições de ensino, públicas e privadas, frente ao assédio individual sofrido pelos professores?
Há uma dimensão coletiva, da esfera do trabalho (e da Justiça do Trabalho), que deve ser invocada quando professores e professoras são agredidos.
As escolas precisam defender seus professoras de tentativas de cerceamento de suas liberdades constitucionais. No caso da educação pública, o Estado precisa começar a defender seus professores.
Menos medo e defesas individuais, mais comprometimento coletivo com a educação, com as escolas, com professores e professoras.”
Assinam o Manual de Defesa contra a Censura nas Escolas: