
por Sulamita Esteliam
Escrevi mais cedo no Instagram que não deveríamos nos iludir sobre uma possível autorização da Justiça curitibana para que o ex-presidente Lula pudesse se despedir do irmão Vavá, em São Paulo. Ele faleceu nesta terça-feira, vítima de um câncer.
Afinal, essa gente, que diz entender de lei, e deveria principalmente respeitá-la, descarta a lei a seu bel prazer político. Não sabe o que é compaixão.
Escrevi, também, que até poderia até morder a língua, mas lamentavelmente não.
Oito horas após o pedido, a juíza Carolina Lebbos, da Vara de Execuções Penais, o negou. Escudou-se na falta de logística alegada pela Polícia Federal para garantir escolta para Lula.
E, pasmem, chegam a desplante de usar o desastre da Vale em Brumadinho, Minas Gerais, como desculpa para a falta de estrutura.
Ah, sim, as forças israelenses não trouxeram helicópteros na bagagem!
Haja desfaçatez!
Leia a íntegra da decisão, via Carta Capital.
Assim, Vavá será enterrado às 13 horas desta quarta-feira, em São Bernardo do Campo e seu irmão mais novo não estará presente.
Perdõe, Vavá, perdõe, Lula, mas eles acham que sabem o que fazem.
O voo de Curitiba a São Paulo não leva hora e meia. E estrutura é problema do Estado, que tem que se virar para garantir direitos dos cidadãos.
É desculpa esfarrapada, ancorada na maldade. E dizem que as instituições no Brasil funcionam normalmente e, portanto viveríamos em democracia.
Lula tem o direito de ir ao funeral do irmão. Isso nem deveria ser questionado, se vivessemos um Estado de Direito.
E olha que se trata de um ex-presidente da República.
Justamente o que mais fez por este País, inclusive para a polícia e o Sistema de Justiça que hoje o sequestra, isola e interdita, em nome da ideologia da ganância. E, se puder, vai crucificá-lo até a morte.
Eis a verdade que não se consegue camuflar.
Em abril de 1980, em plena ditadura civil-militar, o metalúrgico Luiz Inácio da Silva, o Lula, deixou a prisão no DOPs em São Paulo para acompanhar o enterro da sua mãe, dona Lindu, vítima de um câncer.
À época, Lula estava preso por liderar greves dos metalúrgicos no ABC Paulista. Os militares permitiram que ele acompanhasse o velório e o enterro da mãe. Cumpriram a lei.
E Lula foi saudado pelo povo aos gritos de “Queremos Lula livre. Lula é nosso líder!”. , como mostra o recorte do Jornal do Brasil de então:

Pouco menos de 40 anos depois, Lula é preso político novamente, e o governo foi eleito pelo povo. Mas, como bom desgoverno, que apenas muda de mão, mas mantém o açoite, o impediu de ir ao enterro do irmão mais velho, que tinha na conta de pai-substituto.
A gente sabe muito bem do que eles têm medo.
São covardes, toscos demais para encarar a realidade e fazer de conta que tudo funciona como uma democracia, mesmo de araque.
O Judiciário, o sistema de justiça e a Polícia Federal, sob o comando do ex-algoz de Lula, o ex-juiz-inquisidor Sérgio Moro, que ora preside, este o verbo, o Ministério da Justiça e da Segurança Pública, se negam o elementar: cumprir a lei.
Não há disfarce.
Isso tem nome: arbítrio ou, se preferem, no que se refere a Lula, lawfare – o uso avesso da lei para perseguição política.
Diz o Artigo 120, Inciso I da Lei 7210/84 das Execuções Penais
SUBSEÇÃO I
Da Permissão de Saída
Art. 120. Os condenados que cumprem pena em regime fechado ou semi-aberto e os presos provisórios poderão obter permissão para sair do estabelecimento, mediante escolta, quando ocorrer um dos seguintes fatos:
I – falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão;
II – necessidade de tratamento médico (parágrafo único do artigo 14).
Parágrafo único. A permissão de saída será concedida pelo diretor do estabelecimento onde se encontra o preso.
O nome do delegado da PF de Curitiba que se recusou a cumprir a lei é Luciano Flores de Lima, superintendente da Polícia Federal do Paraná.
Genival Inácio da Silva, o Vavá , tinha 79 ano, e há tempos lutava contra um tipo raro de câncer linfático. Seu passamento é misericórdia, mas Lula tem o direito de desperdir-se do irmão, repito.
Vavá também era metalúrgico em São Bernardo. Por ser irmão de Lula, assim como o ex-presidente, sua mulher dona Letícia e os filhos, foi perseguido e acusado de malfeitos com dinheiro público. Injustamente, como provado ficou.
O tempo e a História se encarregam de botar as coisas em seu devido lugar.
Mas o nome do que fazem com Lula e com o Brasil não pode ser outro que não sacanagem, da grossa. É pura canalhice.
Digo, porém que, assim como há um céu sobre as nossas cabeças, um dia, quem deve há de pagar por isso.
O Universo não perdoa dívida.
E que Euzinha não morda a língua.
Descanse em paz, Vavá!
Força e consolo, querido presidente Lula!
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