O inverno chegou para Moro nos odores da #VazaJato, com mídia, com tudo…

por Sulamita Esteliam

Comecei este texto no final útil da semana que passou. Para não dizer que não falei de inverno, na virada da estação que existe na forma líquida neste ponto dos trópicos mais próximo da linha do Equador… e que há sinais de realinhamento no planeta midiático.

Entretanto, não tive energia para seguir em frente, e fui salva pelo rascunho. Os fatos do início da semana só fazem corroborar o que havia escrito. 

Dizia que, depois da família Saad, do grupo Band, via Reinaldo Azevedo e BandNews – cornetas do golpe – no caso do jornalista, até a prisão ilegal de Lula – eis que também a família Frias, ou o que restou dela, entram no jogo virtuoso da #VazaJato ou #MoroGloboGate.

Ontem uns, hoje outros, formalizam parceria com o The Intercept Brasil na divulgação do jogo sujo e impróprio da operação limpa-fossa da corrupção, a pretensa Lava Jato – com mídia, Congresso, com Supremo, contudo.

Ora, ora, ora… que surpresa! 

Antes da audiência, tiragem ou número de leitores ou internautas, a mídia nativa, venal historicamente, tem instinto de sobrevivência. Simples assim.

Mas, viva! Se é para o bem que venham, não importa quem. E antes tarde do que nunca.

A propósito, dois artigos demolidores sobre o caráter da imprensa tupiniquim contribuem para a reflexão do que parece ser uma guinada do jornalismo, a bem da nação, que naturalmente é uma expansão do umbigo próprio de cada um.

O primeiro texto é do jornalista Mário Vitor Santos, do Jornalistas pela Democracia, ex-ombudsman da Folha de São Paulo e do Portal IG, ex-secretário de Redação e diretor da sucursal da Folha em Brasília.

Transcrevo um trecho do artigo cujo título preciso é A Miséria do Jornalismo Brasileiropublicado pelo 247, que pode ser lido na íntegra clicando aqui:

“A publicação das mensagens trocadas pela força-tarefa da Lava Jato com o então juiz Sérgio Moro, pelo site The Intercept Brasil,  do qual o jornalista norte-americano Glenn Greenwald é um dos fundadores e diretores, representa o momento mais constrangedor da história dos meios de comunicação do Brasil. Desse episódio é impossível outra constatação: os grandes jornais, revistas, redes de rádio e televisão do país fracassaram e estão desmoralizados.            

Do ponto de vista da razão maior de sua existência jornalística, a busca da verdade, os grandes meios, com suas equipes de diretores, editores e repórteres, foram ‘furados’ e estão todos a reboque de um site diminuto, com uma equipe reduzida de cerca de dez jornalistas com base no Brasil.            

Mais do que isso, o furo do Intercept Brasil revela uma verdade que fez subitamente jogar no lixo anos de cobertura avassaladora dos grandes meios de comunicação. A verdade apareceu: o jornalismo brasileiro ao longo dessa cobertura, com raras exceções, não passou de propaganda. Enquanto abandonavam a independência e envergavam a camisa de torcedores de Sergio Moro e da Lava Jato, cantando em coro que ela era uma operação judicial angelicalmente isenta, “técnica”, apolítica e afinal salvadora de um país imerso na  corrupção, o furo agora revelado por Glenn Greenwald e sua equipe escancarou uma realidade oposta.            

A Lava Jato é essencialmente uma ação de velhacos atuando à socapa, à margem da lei, comandada por justiceiros sedentos de cargos e poder, executando um projeto político na verdade “isento de isenção”.

(…)”

O outro texto é do colega Luis Nassif, editor do portal GGN, contemporâneo em meus anos de Brasília e a quem respeito e admiro: A operação PF-Intercept e cenas do Puteiro Brasil. O título já prenuncia que Nassif, habitualmente equidistante, não anda mais disposto à santa paciência que procura exercitar.

Diz, no melhor trecho – a íntegra aqui no GGN:

“Desde 1964, não se viu jornalismo tão infame, tão covarde, ajudando a espalhar o medo, o terror. Bastava uma nota plantada, para intimidar qualquer crítico. Principalmente porque o Supremo Tribunal Federal havia liberado tudo, permitindo criminalizar qualquer conduta, ainda que sem nenhum respaldo nas leis e nos códigos.

Era o próprio Robespierre encarnado na figura de provincianos, sem nenhum brilho, nenhum compromisso, mas autorizados a matar com as armas emprestadas pela mídia.

No puteiro Brasil, celebrou-se a grande festa pagã, entre parças jornalistas, donos de puteiro, saudando puteiros mais elevados, todos enrolados na mesma bandeira, celebrando a selvageria, a vingança, a destruição dos direitos e das leis.

(…)”

Costumo dizer, e converso a respeito com meus amigos coleguinhas, que o patrão dispõe do capital. Nós, jornalistas, do conhecimento sobre o valor da informação.

Fazer o que é devido é tarefa profissional nossa, a despeito do patrão. Brigar por isso é um dever que, no limite, vale a perda do emprego ou o famoso uso do boné, no linguajar do gueto.

Significa que nossa obrigação é fazer direito, a despeito de. É preciso empurrar o carro quando emperra, há caminhos para não se perder sem se locupletar. Mas, se quebrar de vez, a porta da rua é a serventia da casa.

Portanto, como diria um personagem humorístico da Escolinha do Professor Raimundo, “não me venha com chorumelas!”.

Tinha parado aqui e, pensando bem, não entendo por que não publiquei… Creio que estava por aqui!

Contudo, atualizemos.

Nesta terça – para nós que habitamos o Nordeste é o começo da semana, pois São João é feriado na maioria dos estados dessas plagas – Glenn Greenwald foi à Câmara, a convite da Comissão de Direitos Humanos, e fez o que tinha que fazer, inclusive encarar os homofóbicos, plantonistas de carteirinha.

Enquanto Sérgio Moro fugiu para os Estados Unidos, para prestar contas ao patrão.

A 2ª Turma do STF, num jogo manjado demais para surpreender, negou liberdade provisória para Lula, adiando o julgamento do mérito do recurso de suspeição sobre o ex-juiz, ora ministro da Justiça, que o condenou. Requisição anterior às denúncias da #Vazajato, mas reforçada por elas.

Favas contadas. Covardia em estado bruto.

 

Vou me poupar de tecer observações além do vômito.  Recorro à análise, de novo, do Nassif, com novo xadrez, parte da série com que os brinda desde o começo dos tempos do golpe parlamentar-jurídico-midiático que nos trouxe ao fundo do abismo.

Transcrevo a abertura e a conclusão. Entre uma e outra, o jornalista deduz, antecipa o jogo – e tem acertado na mosca de como cada peça se nove no que ele define como Xadrez dos 4 Ms – Moro, mídia, milícias e ministros do STF. Ao pé do último trecho, deixo o acesso à íntegra:

“Nosso Xadrez ganhou uma complexidade à altura do caos que se instalou no país.

Há quatro personagens diretamente envolvidos com a Lava Jato e, seguramente, fazendo parte do dossiê Intercept: a Lava Jato, o Supremo Tribunal Federal (STF), Mídia e Milícias (entendido aí, o grupo diretamente ligado à eleição de Bolsonaro).

Todos eles tiveram papel central na era da ignomínia da democracia brasileira, uma mancha na história de cada um, com exceção obviamente das milícias, as vitoriosas.

Em outros tempos, a revisão histórica se daria após o fim do período de exceção, com justiça de transição, obras desnudando os personagens. E, em geral, cobrindo de vergonha apenas os descendentes dos principais personagens.

No entanto, na era da Internet e das redes sociais, o tempo político acelera-se enormemente. A trágica resultante do jogo – a ascensão de Jair Bolsonaro, ameaçando jogar o país na era das trevas – acelerou enormemente o revisionismo. Jornalistas, celebridades, alguns veículos que foram peça central na desmoralização da democracia, trabalham, hoje em dia, em um aggiornamento a jato, menos de dois anos após delatarem adversários, estimularem o ódio, defenderem as ações de exceção da Lava Jato.

Especialmente porque emergiu dessa zona um Brasil do baixo clero, com a opinião se fazendo ao largo da mídia, das análises técnicas e da Bastilha dos poderes constitucionais. Abriram a jaula, liberaram os bárbaros. A recuperação da influência dependerá, portanto, da retomada da legitimidade perdida.

Por outro lado, a recuperação dos princípios democráticos poderia trazer Lula de volta à arena política. Como se equilibrar nesse dilema, entre a cruz e a caldeirinha? Especialmente porque o dossiê do Intercept, se divulgado na integra, revelará:

      • Pecados específicos da operação.
      • Acertos com jornalistas e veículos.
      • Conversas mencionando acertos nas instâncias superiores, podendo chegar até o STF.

É nessa arena que se dará os próximos embates entre os quatro Ms.

(…)”

“Conclusão

O sistema – entendido como o conjunto de forças que influi nas decisões de poder – já rifou Sérgio Moro.

Confira-se o inexpressivo senador David Alcolumbre, alçado à presidência do Senado por uma articulação de anti-PMDB e partidos bolsonarianos, afirmando que, fosse político, Moro estaria sem cargo e preso. Usou Moro de escada para levantar sua reputação. Na Câmara, a cada dia que passa Rodrigo Maia atua mais e mais como freio às pirações de Bolsonaro. A própria Cãmara, valendo-se das revelações do Intercept, ressuscitou a lei anti-abuso das autoridades, uma lei que, ao pé da letra, poderá comprometer até a parte saudável da atuação do Ministério Público Federal.

Ou seja, as duas casas legislativas recuperam seu protagonismo. Enquanto isto, as Forças Armadas dão um sinal forte de impedir a contaminação de sua imagem por Bolsonaro, recusando a promoção de um dos militares da ativa que foi servir o governo.

De algoz inclemente, Moro caminha para ser o bode expiatório do sistema. Será usado pela mídia para purgar seus pecados, de apoio à desestruração do país. Pelo Congresso, como forma de recuperar seu protagonismo. Pelo Supremo, para mostrar-se defensor das leis e do direito, desde criancinha. Será mantido em formol por Bolsonaro, para mostrar-se solidário com os soldados caídos no campo de batalha.

Daí, começará uma segunda revisão desses tempos bicudos, demonstrando que Moro, Dallagnol, Janot e companheiros eram apenas instrumentos, pessoas sem dimensão intelectual e social, provincianos deslumbrados, brinquedos de um poder maior, daqueles que se usa e se joga fora.”

A íntegra inclui cinco movimentos ou “protagonistas”, como o autor define:

Protagonista 1 – Glenn Greenwald e o The Intercept

Protagonista 2 – Mídia

Protagonista 3 – Os Milicianos

Protagonista 4 – Os Ministros do Supremo

Protagonista 5 – Moro

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