por Sulamita Esteliam
O mais novo escândalo da República mostra o ministro da Justiça valendo-se da Polícia Federal, sob suas ordens, para perseguir o jornalista que o acusa – incluindo sua família na retaliação. As conversas divulgadas pela #VazaJato, comprovam que o ex-juiz usou a toga corrupta e politicamente para falsear acusações, condenações e eleições.
A atitude do ministro – que se recusa a responder sobre a ordem – não é apenas violar, mais uma vez, a Constituição, fraudar as leis; é prevaricar descaradamente: uso da função pública em benefício próprio. É totalitarismo fascista.
É ilegal e imoral. É inadmissível. É nojento, sobretudo.
Na terça-feira, Moro foi fustigado, desafiado a abrir o sigilo telefônico, confrontado e até chamado de “juiz ladrão” por deputados que o interrogaram na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, de onde saiu escorraçado aos gritos de “fujão!” e… (Aroeira traduz à perfeição. Obrigada, conterrâneo.)
O Meteoro Brasil resume os #PioresMomentos:
Enquanto isso, no Mineirão, durante o intervalo da partida Brasil e Argentina, convidado a receber placa da CBF, o chefe de Moro era vaiado em coro:
E olha que os apupos partiram de um público capaz de pagar 300 reais, em média, pelo ingresso no jogo da Copa América. E num estado em que logrou obter, métodos à parte, maioria de votos nas eleições presidenciais.
Moro está pendurado na brocha, e leva o capitão-fake-delirante a tiracolo. Ou vice-versa?
Os escândalos estão na imprensa internacional, que protesta em uníssono contra a perseguição a Glenn Greenwald, um dos criadores do The Intercept Brasil, que aqui simboliza a liberdade de imprensa.
Fustiga, com a atitude ilícita, mais uma, um precioso mito da democracia de todos os tempos.
Veja o manifesto da ACE – Associação de Correspondentes Estrangeiros, que publico a partir do Tijolaço
A Associação de Correspondentes Estrangeiros (ACE), que reúne jornalistas da imprensa internacional, em São Paulo, manifesta a sua extrema preocupação com as informações veiculadas na imprensa brasileira, sobre as investigações que a Polícia Federal está realizando sobre a situação financeira do colega Glenn Greenwald, que configuram pressão por conta da série de reportagens desenvolvidas pelo The Intercept, em colaboração com destacados veículos nacionais, entre eles, o maior jornal do país.
A investigação formal de Greenwald por parte de uma entidade subordinada ao ministro Sérgio Moro, principal citado nas reportagens, é grave e fere a liberdade de imprensa, situação que não corresponde à de um governo eleito democraticamente.
Este tipo de intento de desestabilizar e intimidar um jornalista estrangeiro por fazer o seu trabalho, configura uma violação grave no seu direito de investigar jornalisticamente, além de ser um abuso de poder sem cabimento, especialmente, partindo de uma autoridade que representa a justiça.
Pedimos ao ministro Sérgio Moro, que reconsidere e suspenda imediatamente esses procedimentos por ferirem os princípios da democracia.
Luis Nassif, editor do Jornal GGN, faz análise precisa do episódio. Evoca, antes, todo o trabalho de distorção e manipulação dos fatos amplamente retroalimentado na parceria Moro-Força Tarefa da Lava Jato-Mídia Venal para destruir reputações, derrubar governo, desmontar o PT, condenar e prender Lula.
No seu entender, o ex-Juiz, ora ministro da Justiça, quando parte para retaliar o jornalista, “atravessou o Rubicão”, e isso coloca, tem razão, a mídia nativa diante da “escolha de Sofia”.
Parceira diletante do golpe político-jurídico-parlamentar que nos trouxe ao inferno em vida, a mídia tenta camuflar o indisfarçável. Ela tem que escolher se vai para o suicídio coletivo ou dá meia volta e critica o monstro que ajudou a criar;o que implica autocrítica – sem precisar esperar 50 anos, como fez a Globo em relação à ditadura de 64.
Reproduzo um trecho do artigo Nassif, clique para ler a íntegra:
“Agora, a mídia entra na sua escolha de Sofia. Sérgio Moro é acometido pela síndrome do escorpião e atravessa o Rubicão, valendo-se do COAF para retaliar o jornalista que divulga suas falas. É o mais grave atentado à liberdade da imprensa desde a redemocratização, porque se valendo do poder de Estado, do comando da Polícia Federal, para interromper a divulgação de notícias de interesse público. E eles sabem disso. Pior: eles sabem que os leitores também sabem disso.
E agora? O Globo esconde a informação, o Estadão esconde, a Folha caminha sozinha para recuperar a aura das diretas, perdida nos últimos anos.
Em parceria com a Globo, a Lava Jato tenta de todas as maneiras criar uma contra narrativa. Desenterra as delações de Palocci, sustentando que Lula era o comandante, tudo isso depois do The Intercept revelar como eram feitas as salsichas das delações premiadas.
A reconstrução da mística jornalística ficará pela metade. Os jovens repórteres, inebriados com congressos em que os colegas mais velhos discorrem sobre as virtudes do jornalismo, apagando uma história de infâmia muito recente para ser esquecida, não terão nem o consolo da hipocrisia para manter a chama acesa.
Esta é a maldição final, terrível, dolorosa, o desafio final a ser enfrentado pela mídia. Calando-se, ante a investida de Moro, revelará toda sua impotência, sua fragilidade, na defesa de suas próprias prerrogativas. E o país está coalhado de inimigos, à esquerda, mas, principalmente, à direita, esperando o primeiro sinal de fraqueza para avançar.”
Vale à pena ler o rol de 13 pontos, que, provavelmente, constarão das próximas revelações da #VazaJato do The Intercept Brasil. São listados pelo Jornal GGN em postagem colaborativa datada de 26 de junho deste ano. A conferir.
Fico por aqui.
Buenas!