por Sulamita Esteliam
Para começar, devo desculpas pela ausência prolongada. Estou em processo de mudança, física mesmo, de moradia, não interior – que essa é permanente.
Há três dias só faço selecionar e rasgar papéis para reduzir o volume de coisas a transportar.
É um trabalho pessoal, penoso para quem, como eu, sou “acumuladora” de lembranças tangíveis e documentos de toda sorte. Não vivo sem papel. Todavia, chega uma hora que é preciso praticar o desapego.
Descobri, talvez um tanto tardiamente, que sobrevivo sem escrever ou acessar o portátil. Mas não posso olvidar do que é meu dever e cidadã que só vale pelo que escreve.
A coisa anda tão sombria e rasteira, porém, que optei por manter certo distanciamento do fazer cotidiano. Tentativa de preservar minha saúde mental e emocional, que falam diretamente pelo meu corpo.
Pronto. Dito isso, é impossível fazer de conta que não tomei conhecimento da Portaria 666, do Ministério da Justiça. Prestou atenção ao número?
Isso mesmo, o ex-juiz-chefe da Lava Jato, que ainda ocupa o posto de ministro, evoca o número da besta, Apocalipse 13:18, pretensamente, para dizer quem manda.
É uma marca sintomática. Fala muito do caráter do autor. E aponta a serventia como direção. Cá pra nós, alguém tem que brecar esse sujeito.Com a palavra a OAB, a PGR, ?o STF, o Congresso, os partidos… E o povo, e o Queiroz, cadê!?
Pausa para rir da música que me vem cabeça:
“Besta é tu, besta é tu…/Não viver nesse mundo…/Se não há outro mundo…”
Novos Baianos, nos anos 70. Composição de Antônio Pires, Luiz Galvão e Pedro-Pepeu Gomes.
O alvo, no caso, seria o jornalista Glenn Grewnwald, fundador e editor do The Intercept Brasil. O site que pendurou o ex-todo-poderoso Moro – e seus procuradores adestrados – na boca do abismo profundo em será tragado.A dedução parece óbvia: tentativa vã de intimidar quem o deixa nu frente à opinião pública mundial.
E é uma grande mancada, além disso.Como ex-juiz e ministro da pasta mais importante do sistema, Sérgio Moro tem obrigação de saber que portaria é um instrumento administrativo que não pode alterar lei.
Ademais, como não saber que a Lei da Migração e dos Refugiados protege-os contra o totalitarismo!?
Quem diz isso não é esta reles escriba, mas gente do ramo ouvida por Carta Capital, por exemplo. A Portaria 666 trata de expulsão de estrangeiro flagrado em atividade ilegal, grosso modo.
Numa palavra, deportação. Que não pode acontecer com Greenwald, se é o caso, pois que ele, dentre outras coisas, é casado com brasileiro e pai de duas crianças brasileiras.
Dura lex, sed lex. A lei é dura, mas é a lei.
E vale também para ex-juiz e ministro; principalmente para juiz, procurador e policial, e até presidente da República. Bom não esquecer.
Fica tudo ainda mais sombrio a cada capítulo divulgado, e já são 13, entretanto. Desde junho, com a participação do jornalista, ex-esquerda-direita-esquerda-volver!, Reinaldo Azevedo, da Veja-Óia e da Folha de São Paulo.
Escancaram-se todas as manobras e ilegalidades praticadas por Moro e a Força Tarefa de Curitiba, supostamente coordenada por Deltan Dallangnol.
O chefe, quem não desconfiava agora sabe, era o juiz-inquisidor.
Moro deixou a toga, mas não larga o vício. Seria ele um amoral, sem noção das imoralidades que pratica? Na verdade, sofre da vocação inarredável para xerife.
Claro que a mulher dele lhe reserva nada menos que o lugar de Imperador supremo. O faraó de Maringá, com poderes divinos.
“Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, porque é número de homem; e seu número é seiscentos e sessenta e seis.” (Apocalipse 13:18)
Só que, quanto mais o homem se acredita dono do pedaço, mais vai se afundando no pântano que ele mesmo encharcou.
A invenção do hacker, que era russo mas foi preso em Araraquara, não é apenas piada pronta. É, sim, a pronta confissão de que as conversas apreendidas e divulgadas pelo interceptador são reais.
Prontamente corroboradas pela atitude do mesmo juiz. Ligar para supostas autoridades hackeadas e garantir que as provas seriam destruídas.
Como se ele pudesse fazê-lo – ligar e/ou destruir as provas, instrumento de uso judicial, antes de ser policial – e Moro não é uma coisa nem outra.
Como se, ao menos, pudesse conhecê-las em sendo investigação sob sigilo. Mas o que é segredo de Justiça para quem tem hacker à sua disposição!?
Afinal, o que projetou a Lava Jato senão o vazamento amplo, geral e irrestrito, inclusive do grampo nas conversas telefônicas da própria presidenta da República?
Quem senão o então juiz de Maringá a autorizar grampo e vazamento para a parceira Globo de TV?
Como se fosse capo ou don de famiglia da máfia italiana, ou chefe de milícia fluminense, que encastela, está enfronhada – diria minha tia Mundica, se viva estivesse – no desgoverno caótico, marmoteiro e venenoso.
Assim, Moro conseguiu que a OAB, que já sugeriu sua renúncia, questione suas atitudes junto ao Judiciário. O PT também acionou, no caso o Ministério Público Federal, na figura da PGR, para resguardar as provas.
Mas, aí, eis que o hacker usa a palavra mágica: Manuela ‘Ávila, ex-candidata a vice na chapa de Fernando Haddad para a Presidência da República. E a fala, sob sigilo, ecoa nos estúdios de onde?, da Globo News.
Pronto, está invertida a pauta. Manuela é jornalista, está no exterior e, pelo Twitter, divulgou nota à imprensa, clareando a tentativa de obscurecer os fatos. Quem não deve, não teme.
Como se vê, se perder o emprego e escapar da prisão e da degradação pública, Sérgio Moro pode arrumar emprego no quadro de roteiristas de novelas na Globo; ou quiçá na concorrente Record, do bispo da ideologia da prosperidade a qualquer preço.
Aguardemos os próximos capítulos.
Transcrevo a íntegra: