PT elege uma mulher para dirigir o partido em Garanhuns e, no Brasil, segue a trilha apesar de…

Foto: PT-PE
por Sulamita Esteliam

Hoje deveria ater-me ao processo municipal e zonal de escolha de dirigentes do Partido dos Trabalhadores. Todavia, há muitos zumbidos nos ares, e não se restringem aos aviões de carreira. Então, vou tricotar, como de hábito.

Aconteceu no último domingo em todo o Brasil, o PED 2019 – Processo de Eleição Direta, onde a base filiada escolhe quem vai conduzir o partido local nos próximos três anos e elege seus representantes aos respectivos congressos estaduais.

Só em Pernambuco foram 105 PEDs, e em um deles, justo na aristocrática Garanhuns, no agreste pernambucano, o resultado é uma mulher presidenta do PT Municipal.

Lá venceu a professora Lucimar Oliveira, tida como militante firme e combativa. É a boa notícia do dia. Muito boa sorte para ela, a primeira mulher a dirigir o partido na terra que pariu Lula, mas que, na boca de amigos pernambucanos, “tem uma elite metida a besta, como em poucos lugares”.

O ex-presidente, na verdade, nasceu no distrito Caetés, que hoje é município autônomo. Mas em sua certidão é Garanhuns que consta. E de lá ele saiu menino, com sua mãe e irmãos num pau de arara, expulsos pela miséria da seca.

O partido ainda contabiliza os resultados dos processos. Por isso, torno ao assunto com a devida propriedade mais adiante.

O Congresso Estadual, em Pernambuco, acontece dias 19 e 20 de outubro. Por sua vez, escolhe a direção regional e define quem vai representar o estado no agora 7º Congresso Nacional do PT – Lula Livre!, que se dá nos três dias que vão de 22 a 24 de novembro, em São Paulo, quando se escolhe a futura direção Brasil.

A pauta foca no que interessa em três pontos básicos:

a) A luta por um mundo sem exclusão, sem fome, sem desigualdade e sem guerras. A Política Internacional do PT

b) A alternativa democrática e popular para o Brasil. Programa, Estratégia, tática e alianças

c) A organização do PT como partido socialista democrático e de massas. Funcionamento Interno.

A disputa interna é uma tradição democrática no PT. São várias tendências, que debatem, colocam suas propostas e vão às urnas, periodicamente, para renovar suas direções nos três níveis – municipal, estadual e federal.

Muitas vezes o pau quebra pra valer, mas tudo se reorganiza, passada a refrega. É parte do processo, e é o que diferencia o PT do resto.

Foi assim, com amplo trabalho de base, ene disputas, perdas e ganhos que o primeiro partido brasileiro de origem popular logrou ascender ao mais alto posto da República, em tempo histórico recorde, 20 anos.

Uma ascensão em que conquistou a tal da hegemonia, que hoje é seu calcanhar de Aquiles. Não lhe perdoam ter alcançado o que sempre todos brigaram por ter. 

Vão me dizer que o PT se perdeu com o alcance ao poder. Ou como repete, como mantra, Mino Carta: no poder o PT se comportou como os demais.

Sim e não.

Houve erros, tropeços, equívocos e escorregões, sim. Mas nunca dantes neste país o Zé e a Maria Povinho, sobretudo, teve tanta centralidade como nos 12 anos de governos petistas. Nunca como dantes neste país, o Brasil foi tão soberano e respeitado em todo o mundo, e o brasileiro teve tanto orgulho de ter um país para chamar de seu.

Ora direis: não se pode referendar o “rouba, mas faz”…

Concordo plenamente. Quem roubou tem que pagar, mas primeiro é preciso provar quem, o que e quanto roubou, antes de achincalhar, e condenar, e prender e impedir. Vale para todos, não apenas para alguns.

Esta é a questão. A justiça do inimigo não serve à ninguém, principalmente à democracia. Se hoje é o Lula, o Zé Dirceu, o Vacari, amanhã pode ser você, Euzinha, qualquer um de nós.

Aliás, já está acontecendo, e não apenas nas hostes da Lava Jato inquisitorial e abusiva: Preta Ferreira, do movimento por moradia em São Paulo, está encarcerada há mais de 70 dias, acusada sem fundamento. Lembra-se do Robson, aquele preso com uma garrafa de Pinho Sol nas manifestações de 2015, no Rio? E do Amarildo, quem pode esquecer?

Quando a democracia é violada, todo mundo chora e ninguém tem razão.

Daí que, de volta ao PT, escrevi hoje no Twitter, em resposta a acusações sobre a tal hegemonia do PT e a centralidade na campanha Lula Livre: não se pode pensar um movimento pelas liberdades democráticas e pelo Estado de Direito com Lula preso político; e não se pode imaginar uma frente de luta por direitos que exclua o maior partido de esquerda da América Latina, justo o que mais fez para promover esses direitos..

Qual a lógica?, questiona Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do partido, no Twitter: 

“O PT esteve no Fórum da Oposição, na Greve Geral, Tsunamis da Educação, Frente da Soberania, Grito dos Excluídos, Ato pelo Nordeste em Monteiro e c/ 12 partidos no STF em defesa de Lula. C/ o povo e a democracia sempre. Qual a lógica de quem nos acusa de isolamento e hegemonismo?”

Fernando Haddad também responde no Twitter:

“O PT dá a mão a progressistas na defesa dos direitos sociais, ambientais e trabalhistas; e dá a mão a democratas na defesa dos direitos civis e políticos. O resto a gente enfrenta há quarenta anos. Parabéns PT!”

O resto é incompreensão do que está em jogo, do processo histórico – como bem destacam Arnóbio Rocha, em excelente análise em seu blogue, e  Francisco Celso Calmon, do Fórum da Verdade e da Justiça do Espírito Santo, em artigo no Jornal GGN -; ou dor de cotovelo.

 

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