por Sulamita Esteliam
Que o Nordeste do Brasil é outro país, sempre se disse, muitas vezes de forma pejorativa. Pois Euzinha, que habito com parte da minha família esse naco suculento do território brasileiro há pelo menos 25 anos, digo sem medo de ser feliz: podem se orgulhar!
Claro, nada é tão bom que não caiba imperfeições e críticas. Mas, pare e pense, compare com o que se dá no restante do país.
Falo de governança, embora Euzinha mesma não engula marketismo de coxia, prática em que uns e outros são mestres. Em terra de cego, lembra meu companheiro desta jornada junto à Linha do Equador, quem tem olho é rei.
No entanto, é preciso reconhecer atitude, mesmo sob risco de errar. Só acerta quem ousa, tenta, busca caminho. Se não dá certo, sacode a poeira e inventa outra, até que a pedra fure.
O Consórcio Nordeste, criado no final de julho, reúne os governadores dos nove estados do Nordeste. União para furar a bolha do nada consta que valha à pena e da discriminação do desgoverno central. Agora também no que diz respeito ao meio ambiente.
Confira a matéria que o A Tal Mineira transcreve do Jornal GGN, editado pelo colega Luis Nassif, cujo trabalho respeito muito, há décadas. Via coluna da Patrícia Mello, na Folha de S.Paulo:
Estados brasileiros se insurgem contra decisões políticas de Bolsonaro

Governadores articulam acordos com a China e países europeus, contrariando discurso e prática de Bolsonaro na ONU
No mesmo dia em que o presidente Jair Bolsonaro discursava na ONU desferindo ataques ao “colonialismo” da França e contra ambientalistas e indígenas que, segundo ele, são usados como “massa de manobra” na Amazônia, governadores brasileiros realizavam encontros com lideranças internacionais relacionados ao Meio Ambiente. A informação é da coluna de Patrícia Campos Mello, na Folha de S.Paulo.
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, participou de um encontro representando 10 estados brasileiros (os nove da região Nordeste e o Espírito Santo) num evento em Nova York para falar sobre o papel do grupo no cumprimento do Acordo do Clima.PUBLICIDADE
Em abril deste ano, esses estados lançaram o movimento Governadores pelo Clima com o objetivo de levar adiante a implementação dos princípios do Acordo do Clima de Paris. “Diante dos riscos de retrocesso por parte de nosso governo nacional, os estados brasileiros decidem assumir resolutamente seu papel”, declarou Câmara.
Já o governador do Amapá, Waldez Góes, teve um encontro com o presidente da França, Emmanuel Macron. O assunto era a viabilidade de recursos para o Consórcio da Amazônia Legal, presidido por Góes, e que reúne todos os estados brasileiros com áreas no bioma (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins).
“Uma das possibilidades, segundo Waldez disse à Folha, seria financiar diretamente os estados, uma vez que o governo federal vem bloqueando iniciativas”, escreve Patrícia.
No início deste mês, os governadores do consórcio Amazônia se encontraram com embaixadores dos países que mais doaram recursos para o Fundo Amazônia, entre eles, Noruega, Alemanha, França e Reino Unido. Em outubro, deve acontecer uma nova reunião para discutir a manutenção do fundo e realização de outros programas de financiamento à proteção ambiental.
Já o Consórcio Nordeste, lançado oficialmente no final do julho, trabalha para atrair investimentos de empresas chinesas de tecnologia, entre elas estão Huawei, ZTE, Dahua e Hikvision. Todas sofrem do governo Donald Trump, que vem pressionando Bolsonaro a tomar a mesma iniciativa.Leia também: Vaza Jato: diálogos mostram que Barroso orientou Deltan na Lava Jato
Em entrevista para a Folha de S.Paulo, no final de agosto, o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), disse que a “Huawei e a ZTE estudam as etapas de tele-educação, tele segurança e tele saúde, e estão muito interessadas no projeto Nordeste Conectado”.
O estados ainda estudam a compra conjunta de sistema de monitoramento para a segurança pública da Dahua Technology e Hikvision, que hoje dominam tecnologias capazes de detectar expressões, tipo e cor de roupas usadas e idade aparente.
“Essa rebelião dos estados brasileiros é semelhante à movimentação de governadores e prefeitos americanos, que se insurgiram contra algumas políticas do presidente Donald Trump”, destaca Patrícia.
“Um total de 24 estados, entre eles a Califórnia e Nova York, comprometeram-se a continuar seguindo as orientações do Acordo do Clima de Paris, apesar de Trump ter retirado os Estados Unidos do tratado”, completa a colunista.
Ela pontua ainda que cidades e estados daquele país estão enfrentando o governo federal também em relação à política para migrantes. O governo Trump tentou cortar recursos para os governos locais que decidiram receber e proteger migrantes, mas foi impedido por uma decisão judicial.
*Clique aqui para ler a coluna de Patrícia Campos Mello na íntegra.