por Sulamita Esteliam
O Brasil e a América Latina que se importam dormiram felizes neste domingo, embalados pelo verbo esperançar. Precisamos muito voltar a conjugá-lo em todos os tempos: trazer para o presente os bons fluidos do passado para tecer nosso amanhã.
E não apenas pelas celebrações múltiplas, nos sete cantos do país e mundo afora, do aniversário de Luiz Inácio Lula da Silva, que oficialmente completou 74 anos neste 27 de outubro. É o segundo aniversário que Lula passa encarcerado num cela da Polícia Federal em Curitiba.
Mas celebrar e resistir é preciso. Foi lindo e energizante, como se pode depreender pelas fotos e vídeos que circulam nas redes desde ontem. Posto aqui algumas do Recife, enviadas pelo amigo jornalista Ruy Sarinho; e também a do bolo para Lula em Beagá, da lavra do também jornalista e amigo, Marcos Barreto
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Capturei, também, um vídeo da celebração na Vigília Lula Livre em Curitiba, ao longo do dia, em frente à sede da PF onde Lula está encarcerado há 568 dias, completados nesta segunda:
Ocorre que na vizinha Argentina, los hermanos e las hermanas houveram por bem dar a vitória à oposição nas eleições presidenciais.
Alberto Fernandéz foi eleito em primeiro turno, trazendo na vice a ex-presidenta Cristina Kischnner. Na estrutura portenha, como nos Estados Unidos, a vice-presidência chefia o Senado da República, onde os peronistas também tornaram-se maioria.
E celebraram, candidato e povo com votos de Lula Livre. O presidente eleito está convencido de que sua visita ao ex-presidente brasileiro, que considera preso político, em agosto passado, fortaleceu sua candidatura.
A eleição dos peronistas para os principais postos do Executivo e Legislativo argentinos escancara as janelas de novos tempos para a América Latina.
Para começar, pode influenciar positivamente o resultado eleitoral no vizinho Uruguai, em segundo turno, por exemplo. Lá a Frente Ampla, que tem o ex-presidente José Mujica candidato ao Senado, ficou em primeiro lugar no turno realizado também neste domingo, contra as forças neoliberais.
Vem somar-se à vitória de Evo Morales, reeleito na Bolívia semana passada. E à derrota de Álvaro Uribe, na Colômbia, líder das forças conservadoras – na verdade a extrema direita – que perdeu as eleições municipais e para governadores naquele país, também neste domingo.
Tudo isso e mais as revoltas populares no Equador e no Chile, obrigando os governos de direita recuarem, em maior ou menor grau, nas suas antipolíticas sociais genocidas.
Resumo da ópera: todos os aliados preferenciais do bolsonarismo neofacista, estão derrotados, o que o deixa isolado geopoliticamente. E, embora fanfarrão delirante, suas reações imediatas, tipo birra, revelam que ele sente que o abismo também para ele pode ser profundo.
Aliás, comentava com meu companheiro ontem à noite – e ninguém pensa sozinho neste Universo – que o capiroto que desgoverna o Brasil está para a política assim como o roqueiro Mike Jagger está para o futebol: quem ele apoia perde.
Quanto ao Brasil, o chamado efeito Orloff, como se dizia em tempos idos – “eu sou você amanhã”, nos termos da propaganda da vodka nos anos 80-90 do século passado -, depende da nossa capacidade de união.
Taí um bom desafio.
É fundamental pressionar as instituições a tomar as atitudes legais necessárias para frear o desmanche em estado bruto em que nos metemos, ou nos meteram, há exatamente um ano. Enquanto é tempo.
Caminhamos a passos largos para nos tornarmos, não uma Venezuela como arrotaram os diletantes que nos desgovernam e sua massa de robótica, mas um Chile em proporções gigantescas.
Terão as esquerdas e os democratas brasileiros a mesma capacidade de união para enfrentar o neoliberalismo acachapante? Quem vai liderar a rebelião popular?
De qualquer forma, a derrota das forças neoliberais de ultra-direita na América Latina é para traduzir mudança salutar no estado de ânimo das forças populares e de esquerda nestas plagas.
A percepção não é apenas desta velha escriba, mas de analistas melhor aquinhoados, como o editor do Ópera Mundi, Breno Altman. Confira:
Este perfeitissimo documentário relata a diferença entre a democracia social e a extrema direita