
por Sulamita Esteliam
O mundo busca meios para barrar a expansão, que parece inexorável, do coronavírus. De Whuan, capital da província de Hubei, o vírus se espalha em proporções epidêmicas pela Ásia. Há 35 milhões de chineses em quarentena. Alguns países da Europa e da América do Norte também já identificaram casos da doença.
No Brasil, já há três pessoas que se enquadram nos sintomas: o caso de uma estudante de 22 anos em Belo Horizonte/MG, confirmado; e duas outras sob suspeitas em Porto Alegre/RS e Curitiba/PR.
Todas elas viajaram à China, recentemente, e apresentam febre e ao menos um sinal ou problema respiratório.
Leio na Agência Brasil, via 247, que o Ministério da Saúde conta 7.036 suspeitas avaliadas no período de 03 a 27 deste mês. Todavia, apenas 127 do total requereram aprofundamento nas investigações, resultado no caso da moça internada em Beagá.
Na linha do descaso e da incompetência que presidem este desgoverno, o Ministério da Saúde omite detalhes, e o titular se limita a recomendar que brasileiras e brasileiros se eximam de viajar para a China:
“Nós desaconselhamos e não proibimos as viagens para a China. Não se sabe, ainda, qual é a característica desse vírus que é novo; sabemos que ele tem alta letalidade. Não é recomendável que a pessoa se exponha a uma situação dessas e depois retorne ao Brasil e exponha mais pessoas. Recomendamos que, não sendo necessário, que não se faça viagens, até que o quadro todo esteja bem definido.”
Luiz Henrique Mandetta é o nome dele. Segue a iluminação do chefe-capiroto, presidido pelo despudor da indiferença tosca e da irresponsabilidade corrosiva para com a gente para a qual deveria governar.
Sem esquecer que há brasileiros e brasileiras tanto na China, como em outros países asiáticos atingidos pelo coronavírus.
A preocupação de qualquer governo digno do nome seria retirar seus cidadãos e protegê-los, montando suporte emergencial para recebê-los e evitar o contágio. Como se preparam para fazer, ou já estão fazendo, governos da França, Alemanha, Japão e outros mais.
O contrário é fato, pois sob o reino do descaso. Previsível, porque é o modus operandi da horda desgovernativa. E de nada resulta gritar por socorro.
Paro por aqui. Sobre o assunto, compartilho o texto abaixo, do economista Carlos Fernandes, articulista do DCM.
Coronavírus: ao abandonar uma família à própria sorte, Bolsonaro mostra sua covardia

por Carlos Fernandes – no DCM
Não é fácil classificar os atos do presidente Jair Bolsonaro por ordem de trapalhadas, grosserias, cafajestagens e incongruências.
Mas, de todos eles, talvez o cúmulo da insensibilidade humana tenha se dado com o caso da família de brasileiros que encontra-se em observação e isolamento nas Filipinas com suspeita de infecção pelo coronavírus.
Optando pela fácil – e vergonhosa – “solução” de simplesmente lavar as mãos para o drama de cidadãos brasileiros em território estrangeiro, o chefe do executivo nacional defende a sua indiferença sob o signo do medo.
Nas suas próprias palavras:
“Não seria oportuno retirar de lá, com todo o respeito. Pelo contrário. Não vamos colocar em risco nós aqui por uma família apenas”.
É inacreditável como o homem responsável por decisões capitais de uma República de mais de 200 milhões de pessoas pode estar equivocado de tantas maneiras numa única frase.
Primeiro que não se trata de uma questão de ser “oportuno” ou não o resgate de cidadãos em meio a um surto epidemiológico internacional. Trata-se simplesmente de uma obrigação do Estado brasileiro.
Segundo que a decisão de abandoná-los sob o argumento de que o seu resgate traria “risco” a “nós aqui”, só prova a completa incompetência do governo na condução dos protocolos de emergência, contenção e tratamento de eventos dessa natureza.
Prova maior disso, é que diversos países do mundo, a exemplo de França e Japão, estão caminhando no sentido exatamente oposto ao Brasil e organizando missões para retirar seus cidadãos das zonas de risco do vírus.
Trata-se, antes de qualquer coisa, de respeito e solidariedade.
E terceiro, ao justificar a sua omissão pelo caso envolver “uma família apenas”, Bolsonaro demonstra um traço típico de personalidades doentias: a de não enxergar vítimas como seres humanos, mas tão somente como números.
É realmente constrangedor de inúmeras formas – para as forças armadas brasileiras, que fique claro – o fato de sua “formação” ter sido “construída” nos meios militares.
Por cada decisão que toma em falso desde que assumiu o cargo de Comandante-em-Chefe desse país, a única conclusão que se pode tirar de um capitão com as deficiências morais, éticas e intelectuais como Jair Bolsonaro, é a de que simplesmente nenhum combatente, acima ou abaixo de seu posto, teria a coragem de confiar a sua vida a este homem.
Por motivos que já se mostraram mais do que suficientes, é forçoso afirmar que o que temos na verdade na presidência da República é um ignóbil que ultrapassa os limites da incompetência para se esconder nos bueiros escuros da covardia.
Alguém que ao ver um semelhante em situação de risco, simplesmente vira as costas e bate em retirada.