por Sulamita Esteliam
Na semana que antecede o 8 de Março, dia que marca a luta internacional das mulheres por igualdade e direitos, protestos estão definidos pelos sete cantos do Brasil e avançam até o dia 18. E aqui, em meio a motivações específicas, de mulheres e homens de todos os quadrantes, a principal trincheira é em defesa da democracia, violada e cada vez mais ameaçada pelo autoritarismo endêmico do desgoverno de plantão.
As mulheres e os vulneráveis sempre pagam o preço mais caro em qualquer regime totalitário. Não apenas com o recrudescimento da violência em todos os níveis, como também pelo histórico de cuidados com a família que sempre pesa mais sobre seu lombo, e fica quase que inviável quando a crise se aprofunda.
Mais uma vez, a rua é o lugar de quem se respeita e quer um pais menos desigual, mais solidário e em sintonia com a maioria de sua gente. Ou vamos para a rua, ou nos engolem vivos, ou em picadinho se assim desejarem. Do jeito que está é que não pode ficar.
Não bastasse toda sorte de atropelos de direitos elementares, a começar pelo trabalho, e também a saúde, educação, segurança, cultura. A fome avança em proporção avassaladora nas camadas mais carentes. A mortalidade infantil espreita em cada lar periférico e entre indígenas.
A violência doméstica é cada vez mais patológica, 1310 mulheres foram alvos de feminicídio em 2019, assassinadas por serem mulheres; em 2018 foram 1222, números oficiais, segundo levantamento da Folha.
Os jovens negros e os pobres seguem sendo abatidos feito formigas e a censura e a barbárie se tornaram moeda de troca em que a força entra com a cara…
A milícia fardada e encapuçada arreganha os dentes, estimulada e aplaudida pelo Estado em desgoverno. O Ceará do motim policial é apenas a face mais podre da banda. Nada menos do que 241 assassinatos em nove dias de paralisação ilegal da PM, nada menos que 26,7 pessoas mortas por dia. Balanço preliminar aponta que 20 dos mortos eram menores de idade.
E o ministro da in-Justiça, ex-juiz inquisidor, que negociou a lei pelo posto diz que não são bandidos os policiais que dispararam dois tiros num senador da República. Na contrapartida de perseguir artistas e proteger o laranjal enquanto lhe guarda à sombra.
Generais que deveriam estar de pijama, assumem postos de ministro e desrespeitam o cargo e a República, como fez o general Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, em ataque à Câmara e ao Senado. Aliás, as bancadas do PT o denunciam ao STF por crime de responsabilidade, a ver no que dá.
Mas este é o país em que o titular da República endossa convocação em rede de seus seguidores para se manifestar no 15 de março em afronta às instituições como o Congresso Nacional e a Corte Suprema! O vídeo, registre-se, foi gravado pelo chefe da comunicação da Embratur, autarquia governamental responsável pelo turismo.
Não é demais imaginar-se o que pode advir de eventual sucesso desse desmantelo. É bom se preocupar de verdade com a possibilidade de uma intervenção militar, conforme alertam diferentes analistas do processo de afundamento brasileiro.
Um golpe, dentro do golpe que os levou ao poder, alimentando e comendo pelas beiradas o desastre bozo que, era de se prever, conduz o desmanche.
Impeachment para quê, se falta apenas a cadeira presidencial?
No vão do deboche aparente e do destempero provocativo, e estudado, porém, se amoita o temor de ser desmascarado e apeado do poder.
Sou obrigada a assinar embaixo do que escreve Malu Ayres, uma jovem colunista festejada pelas esquerdas, sobre os ataques do capiroto et caterva à jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha: ela tirou o véu que encobria os malfeitos do ora presidente na campanha eleitoral.
Isso, se o TSE tiver peito para fazer o que precisa ser feito para vigorar a lei.
É impressionante como essa discussão não está na pauta dos partidos do PT, do próprio Lula, dos partidos de esquerda e dos movimentos sociais. Qual é…? Têm medo do quê, de serem chamados de golpistas!?
Não se trata de “tirar um presidente por que não se gosta dele”, como bem assinala Lula, e nisso está certíssimo. Foi o que fizeram com a presidenta Dilma, armaram para cima dela porque não abaixava a crista.
Trata-se de fazer valer o que é direito: e a lei veda o disparo em massa de mensagens em campanha eleitoral, pior, mentirosas e caluniosas. E mais grave, financiadas indevidamente pelo empresariado podre deste país.
E tudo isso sem falar naquela facada que para mim é mais fake do que cavalo alado.
Lula que me desculpe, mas este país não aguenta quatro anos. Mas o impeachment também não nos serve, pois nos colocaria no colo do Mourão, o vice, e da matilha de maus bofes que o cerca.
Em qualquer democracia séria, os fatos expostos até as vísceras pelas reportagens da colega da Folha, ameaçada, seriam suficientes para invalidar a eleição. As reportagens de Patrícia Mello fornecem material abundante para o TSE se embasar.
E a Constituição é clara: na hipótese de anular eleição até o final do segundo ano de mandato, assume o presidente da Câmara ou do Senado ou do STF, na impossibilidade de um e outro, e convoca-se novo pleito em três meses.
O nome disso é restaurar a democracia pelo voto popular, desrespeitado quando se manobrou com ilícitos para desvirtuar sua vontade. Eis o “Fora Bolsonaro” que precisamos.
Nesta terça, as organizações que integram a Frente Brasil Popular – centrais sindicais e movimentos sociais – definiram, enfim o calendário de protestos da banda esquerda do espectro: 08 – Dia Internacional da Mulher; 14 – dois anos do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes; 18 – pela Educação e em Defesa do Estado Democrático.
Para o bem geral da Nação, melhor que tenham fôlego e instrumentos para encher as ruas e mostrar que já deu, basta!
A propósito, está no ar o Diário dos Ataques à Democracia, um sítio na internet que elenca os “principais ataques aos direitos, garantias e liberdades constitucionais e aos princípios de uma sociedade plural e livre”.
Iniciativa do Pacto pela Democracia para explicitar a escalada de fatos que atentam contra as liberdades democráticas e a cidadania, e degradam o Estado de Direito no país.
A história está na Folha, e fez Euzinha pensar que nem tudo está perdido, enquanto houver mulheres dignas do gênero.