por Sulamita Esteliam
Não assisto TV, mas tenho acompanhado pelas redes a repercussão do caso Drauzio Varela e a presidiária trans, Suzy, personagem da reportagem exibida pelo Fantástico (quase que vai com minúscula…).
Condenada por assassinato de uma criança, foi julgada e condenada, e cumpre pena em presídio masculino, o que desrespeita seus direitos, como mulher trans.
Vou abster-me de comentar a “peculariedade” de um médico atuando como repórter, até porque não é novidade, desde quando nosso diploma e nossa regulamentação profissional valiam alguma coisa para o patronato.
E o personagem em questão se tornou famoso exercitando seus dotes profissionais no rádio, e depois na TV, papel de outro profissional, que, definitivamente, ele não é. A despeito da simpatia e grande poder de comunicação, e embora seja um excelente contador de histórias, escritor reconhecido e laureado que é.
Paro por aqui.
De outra parte, depois de violada a Constituição, tudo é possível neste #Triste Brasil, onde o circo e o inferno são parte da mesma jornada rumo à barbárie. Inclusive naturalizar a intolerância.
Um texto maior, ainda que cirúrgico, exige postagem no A Tal Mineira. Recebi pelo zap-zap e pedi autorização ao mestre, Paulinho Saturnino, para replicar.
Ele é meu amigo, e foi meu professor no básico do meu curso de Comunicação/Jornalismo, de verdade. Mas é sociólogo dos bons, entrevistador sagaz, e dono de uma ironia e de um humor refinados.
por Paulinho Saturnino, no zap-zap
“A subitamente famosa detenta Suzy, mulher trans que cumpre pena por crime bárbaro, se submete atualmente a todos os preceitos e restrições impostas pela legislação brasileira, a que todos estamos sujeitos, nos termos da Constituição.
O que mais a parte irada e irracional da população, em especial os que ora atacam o Drauzio, exige de Suzy? Que ela se suicide no cárcere, se possível com transmissão direta, e, melhor ainda, na hora da janta familiar?
Em seu sadismo coletivo, onde compaixão é piada de mau gosto, essas pessoas sonham com a Suzy sendo retirada à força do presídio e, também ao vivo, sendo entregue a um selecionado grupo de bons cristãos que, munidos de porretes e pedras, a façam em pedaços, e se exibam na TV com as mãos, e talvez as bocas, cobertas de sangue.
Talvez até perdoassem o Drauzio depois de saciadas com o sangue da vingança. E poderiam (após lavar bem as mãos, inclusive no dorso, entre os dedos e unhas) voltar à vida pacífica e ordeira de bons cidadãos. Mugindo, sem constrangimento, até o próximo fornecimento de ração.”
Em tempo: a charge acima Carlos Latuff usou em seu perfil no FB para mostrar que não é dele a autoria de outro desenho que circulou pelas redes: “A imagem que circula nas redes sociais atribuída a mim, que faz um ataque a Drauzio Varela e a Rede Globo, NÃO é de minha autoria./Mas esta é!”.
Isso, até charge fake é usada para satanizar – ou seria capirotar – a tal da empatia.
Francamente, passa muito longe do traço do cartunista carioca! Assim como o capiroto está a léguas de exercer o posto para onde chegou com ´mentiras e falcatruas de toda sorte. Eita, Brasil!
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Postagem revista e atualizada dia 12.03.2020, às 9:20: correções no visual do texto e de informações sobre a postagem do Latuff.