por Sulamita Esteliam
Moraes Moreira encantou-se, aos 72 anos, no Rio, de infarto agudo do miocárdio.
Estrela sempre foi, e de primeira grandeza na arte e no caráter, que o diga o mestre Tom Zé, que o homenageia em postagem no FB, reproduzida pelo DCM.
Deixa-nos os frutos de seu imenso talento musical, obra que bebeu em fontes profundas e que atravessa gerações – em melodias e versos. Davi Moraes, o filho, na foto de show recente, que abre a postagem segue a trilha do pai.
Tomo emprestado o tributo de três carturnistas de peso , dois mineiros e um carioca, ao eternamente novo baiano.
Vamos em ordem alfabética, porque talento não tem escala: Aroeira, Genin e Latuff.
Há três semanas, no Instagram, Moraes Moreira postou sua última obra, com um recado de seu engajamento no combate à praga desses tempos:
Oi pessoal estou aqui na Gávea entre minha casa e escritório que ficam próximos, cumprindo minha quarentena, tocando e escrevendo sem parar. Este Cordel nasceu na madrugada do dia 17, envio para apreciação de vocês. Boa sorte
Quarentena (Moraes Moreira)
Eu temo o coronavirus
E zelo por minha vida
Mas tenho medo de tiros
Também de bala perdida,
A nossa fé é vacina
O professor que me ensina
Será minha própria lida
Assombra-me a pandemia
Que agora domina o mundo
Mas tenho uma garantia
Não sou nenhum vagabundo,
Porque todo cidadão
Merece mas atenção
O sentimento é profundo
Eu não queria essa praga
Que não é mais do Egito
Não quero que ela traga
O mal que sempre eu evito,
Os males não são eternos
Pois os recursos modernos
Estão aí, acredito
De quem será esse lucro
Ou mesmo a teoria?
Detesto falar de estrupo
Eu gosto é de poesia,
Mas creio na consciência
E digo não a todo dia
Eu tenho medo do excesso
Que seja em qualquer sentido
Mas também do retrocesso
Que por aí escondido,
As vezes é o que notamos
Passar o que já passamos
Jamais será esquecido
Até aceito a polícia
Mas quando muda de letra
E se transforma em milícia
Odeio essa mutreta,
Pra combater o que alarma
Só tenho mesmo uma arma
Que é a minha caneta
Com tanta coisa inda cismo….
Estão na ordem do dia
Eu digo não ao machismo
Também a misoginia,
Tem outros que eu não aceito
É o tal do preconceito
E as sombras da hipocrisia
As coisas já forem postas
Mas prevalecem os relés
Queremos sim ter respostas
Sobre as nossas Marielles,
Em meio a um mundo efêmero
Não é só questão de gênero
Nem de homens ou mulheres
O que vale é o ser humano
E sua dignidade
Vivemos num mundo insano
Queremos mais liberdade,
Pra que tudo isso mude
Certeza, ninguém se ilude
Não tem tempo,nem.idade