por Sulamita Esteliam
Maio é mês de campanha antimanicomial, com dia de luta fixado no dia 18, desde maio de 1987. As atividades acontecem em todo o país, e este ano desafiou a criatividade dos organizadores, por conta das restrições de convívio social e de aglomerações devido à pandemia de Covid-19 causada pelo novo Coronavírus.
O que tradicionalmente ganha as ruas expandiu-se digitalmente, em debates e até desfile via redes sociais, com direito a transmissões ao vivo. De live em live, a vida segue nas telinhas dos smartphones, computadores e que tais.
A Reforma Psiquiátrica Brasileira foi estabelecida pela Lei 10.216 de 6 de abril de 2001. É o que os profissionais da área chamam de “consenso possível” em torno de novas bases para o tratamento clínico das pessoas em sofrimento psíquico, modo a garantir a elas cidadania e respeito individual.
Implica eliminar gradualmente a internação, substituída por uma rede de atenção psicossocial, que estimula a reeintegração familiar e à comunidade. A rede inclui os Caps – Centro de Atenção Psicossocial e os Centros de Convivência e Cultura Assistidos, além de cooperativas de trabalho, oficinas de geração de renda e residências terapêuticas. Tudo integrado ao SUS.
Minas Gerais carrega décadas de tradição nessa luta, e o Fórum Mineiro de Saúde Mental coordena debates e atos sobre o assunto.
A base da proposta, a despeito da Reforma Psiquiátrica Brasileira, questiona as relações de estigma e exclusão social e cultural impostas às pessoas portadoras dos ditos “transtornos mentais”. Restrições, diga-se, que se estendem a quem com elas convivem.
Falo sobre Minas, porque é a partir de lá que me insiro no mundo. Naturalmente.
Então, parte indissociável desta luta Por Uma Sociedade Sem Manicômios, há 21 anos a capital Belo Horizonte assiste ao desfile da Escola de Samba Liberdade Ainda que Tam-Tam. Este ano, obrigada a erguer seu estandarte de 21 anos no mundo virtual.
Mas o samba-enredo, produzido por grupo dos Centros de Convivência Oeste/Barreiro/São Paulo e Pampulha, regionais de Beagá, ficou uma beleza.
Louve-se a inserção no contexto da pandemia e do pandemônio impostos ao Brasil e seu povo. Registro: nesta quarta, a contagem macabra chega a 18.859 mortos, 888 deles nas últimas 24 horas. Há outras 3.483 mortes em investigação.
Com subnotificação, manipulação, com tudo, o país está em terceiro lugar no mundo em contaminação pelo Coronavírus. A soma total é de 291.579 casos de Covid-19 informados pelo Ministério da Saúde. Quase 20 mil deles anotados nas últimas 24 horas.
Capetão Pandemia
Tantas almas de Dandaras e Zumbis a Guajajaras
Eu sei bem de suas lutas das histórias mal contadas
Eu que vi um Dom Quixote Corpo Nise da Silveira
Sou criança no presente carregando um delírio
da mais profunda razão:
Libertar a verdade dos muros da prisão
Todo dia Liberdade pro juízo da Nação
Foi parido na mentira que um tirano apareceu
Enganador, falso traíra!
será que o povo se esqueceu
de um tempo de opressão e violência
onde toda divergência foi calada com a dor?
E hoje a liberdade ameaçada, a verdade apagada
tudo em nome do Senhor!
Brasil, que bicho te mordeu
você caiu na armadilha da ilusão?
um rei mau coroado te convenceu
a vender toda riqueza da nação
Não vai ter perdão pra desonestidade da razão
A loucura vem cobrar
mas a história é quem vai te castigar
Hoje é o soberano, capetão pandemia
amanhã soldadinho que mia
E não há qualquer milícia
Nem tampouco Tio Sam
que lhe tire dessa fria