Precisamos brigar pelo Censo 2020, alerta Eneida da Costa

por Sulamita Esteliam

A jornalista mineira Eneida da Costa, minha irmã por escolha mútua, chama a atenção para o que pode estar por trás da proposta do governo de adiar, mais uma vez, e desta vez para 2022, a realização do Censo 2020.

Lembra da importância estratégica da contagem populacional para o planejamento do Estado, além de determinar o número de cadeiras nos Legislativos federal, estadual e municipal.

Tem razão quando ressalta que o Censo 2020 é ainda mais importante para determinar o impacto da pandemia que nos assola, e nos priva da vida de mais de uma centena de milhares de pessoas, levadas, muitas delas pelo descaso do governo central nas medidas sanitárias de contenção. 

Sugere a urgência de que façamos barulho pela realização da contagem, pois é fundamental “saber quantos somos, quantos deveríamos ser e quantos sobrevivemos à pandemia”.

À crônica:

SOBRE NEGROS, ABELHAS E CENSO

por Eneida da Costa – no Grisalha/FB

Em 1851, no Segundo Reinado, um decreto imperial determinava a contagem da população brasileira. Seria o primeiro censo demográfico. Seria.

Os proprietários de escravos se opuseram ferozmente ao decreto. É que o tráfico foi proibido pela famosa Lei para Inglês Ver de 1831 e os então traficantes, agora contrabandistas, continuavam com seu negócio de vender gente.

Além de negociar negros trazidos diretamente do continente africano, os contrabandistas sequestravam os livres e libertos e os vendiam para as fazendas de café no Vale do Paraíba.

A elite escravista não queria passar informações para o Estado e, com sua máquina de propaganda, convenceu os negros que o censo era uma armadilha.

Esse movimento de oposição à primeira contagem da população brasileira ficou conhecido como “Revolta do Ronco da Abelha”. Foi um movimento armado que conseguiu impedir o primeiro censo.

O nome se dá à falação, ao zum-zum-zum produzido pelos militantes contra o censo nas feiras, procissões e em todo lugar onde houvesse aglomeração.

Quase 170 anos depois, o governo brasileiro, mais retrógrado que Dom Pedro 2º e tão manipulador quanto os escravistas, anuncia que em 2020 não haverá censo, como acontece a cada dez anos, desde 1936, quando foi criado o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

Pandemia e falta de dinheiro são as alegações. Será?

O Censo Demográfico do IBGE é uma ferramenta estratégica para planejamento do Estado. É também o parâmetro que indica a quantidade de cadeiras os estados ocupam na Câmara Federal. Determina o número de deputados estaduais e vereadores.

O Censo de 2020 tem uma importância maior: determinar o número de mortos nesse ano de pandemia e o impacto dessas mortes na população.

Diante de tantas denúncias de manipulação do número de vítimas do Coronavírus e da Covid-19, estaria o governo tentando esconder os verdadeiros dados da pandemia? Seria essa a alegação oculta para não realizar a contagem da população? O que mais esses números revelariam?

Passados mais de um século e meio, as abelhas precisam fazer o contrário do que fizeram há dois séculos. Reunir o enxame e fazer barulho pela realização do Censo. Saber quantos somos, quantos deveríamos ser e quantos sobrevivemos à pandemia.

Urgente e necessário saber quantos de nós foram contrabandeados, sequestrados pela manipulação dos dados, sequer citados em uma estatística e enviados para o vale da indigência. 

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