“AQUI O CENÁRIO É DE GUERRA: O Amapá em protesto por água e energia. O Amapá é banhado pelo maior rio de água doce do mundo, Rio Amazonas. E não temos água potável. O Amapá tem 5 hidroelétricas que fornecem energia para outros estados. O Amapá com uma energia absurdamente cara e não temos para-raios. O Amapá localizado exatamente no meio do mundo e somos tratados como se fossemos o fim do mundo. Eu não tenho mais palavras. ”
Elton Sandokan Ribeiro, no Facebook
por Sulamita Esteliam
O desabafo de Sandokan, um subtenente da Polícia Militar do Amapá, no Facebook, dá a medida da excrescência, da indignidade a que está submetida a população do estado do Norte do Brasil.
Desde a terça-feira, 3 de novembro, 700 dos 800 mil habitantes da capital Macapá e mais 12 municípios dos 16 que formam o estado estão sem energia elétrica, e tudo o mais que dela depende para funcionar, a começar pela água.
Isso em plena pandemia de coronavírus. Sem luz, sem água, sem telefonia, internet, comunicação com o mundo. Sem comida, sem direito à vida.
A Eletrobras, a estatal a que pertencia ao sistema, foi chamada a fazer o que a Isolux, empresa espanhola que herdou a substação que serve ao Amapá na privatização destrambelhada do sistema elétrico, não tem competência para fazer.
No domingo, iniciou-se um sistema de rodízio para restabelecer o fornecimento de energia, mas ele atende, preferencialmente, os bairros mais centrais de Macapá.
Por exemplo, o bairro Trem, recebe energia de seis ao meio dia e de seis da tarde à meia noite. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre é morador do bairro, mas deve ser coincidência.
Na periferia, nadica. A CEA admite ao Estadão que a diferença de tratamento existe, mas se explica pelo fato de que os hospitais estão na região central. Ah, tá!
Os moradores estão nas ruas. Usam o fogo para bloquear as estradas em protesto contra o descaso.
E a polícia, a PM do mesmo Sankokan indignado, entra em ação, e ele próprio justifica em sua postagem de fotos, “porque é preciso manter a ordem”; de arma em punho contra o direito de reivindicar cidadania.
O fogo, o elemento que desencandeou o apagão é a arma do protesto, além da desesperança na tal ordem estabelecida.
Resumo da ópera, bufa e trágica: um dos três transformadores que deveriam manter o abastecimento de energia se incendiou e explodiu; o outro foi avariado e o reserva está fora de combate há seis meses.
Palavra do senador Randolfe Rodrigues (Rede), que é da terra, mas lá não mora mais, vive no Rio. Lançou um apelo dramático ainda na terça-feira para que as autoridades locais e federais tomassem providências.
A palavra é negligência, e das graves por parte da Isolux. Tem razão o senador.
É nisso que dá privatizar o patrimônio público, entregue, sempre, a preço de banana. O capital fica com o bônus e o povo com o ônus.
O poder público, que deveria ao menos fiscalizar, não está nem azul, como diria minha mãe encantada.
O Ministério das Minas e Energia falou em 10 dias para botar ordem na casa, com boa vontade. Como se vê, o descaso é a régua.
Junto com o deputado-representante da terra, João Capiberibe (PSB), o senador Randolfe também acionou a Justiça.
A Federal fixou prazo de três dias, a contar desta segunda, para restabelecimento da energia, sob pena de multa de R$ 15 milhões ao dia à Isolux.
A ver no que vai resultar. Mas o outro nome disso é excrescência, e também indignidade.
Em tempo: o irmão de Alcolumbre, Josiel Alcolumbre, é candidato a prefeito de Macapá pelo DEM. A intenção do senador em amaciar a cama para 2022 fica um tantinho mais difícil.
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Fontes, além das citadas:
- Agência CUT
Apagão no Amapá é culpa de empresa privada, mas conserto é feito pela Eletrobrás
- Revista Fórum
Rodízio de energia no Amapá chega ao bairro de Alcolumbre, mas deixa periferia no escuro
- Gazeta do Povo
Com candidatura do irmão em Macapá, Davi Alcolumbre busca ampliar influência em 2020
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