por Sulamita Esteliam
Olha, não quero jogar água na fervura do entusiasmo em torno da bendita vacina, fundamental na tentativa de barrar o avanço cada vez mais acelerado do Coronavírus sobre a população brasileira. Manaus é apenas a ponta do caos sanitário que ameaça desabar sobre nós.
Longe de mim o negacionismo. Como diz o frevo composto pelo Chico César em dezembro passado, mas que cabe como luva à ocasião, “estou já de braço esticado, com o muque amarrado para tomar esse pico”.
Sim, quando chegar minha vez, “eu vou tomar vacina, quem não quiser que tome cloroquina/não vou passar vergonha, quem não quiser que escute esse pamonha”.
Postei lá no canal A Tal Mineira TV, que anda um tantinho abandonado. A letra está ao pé desta postagem. Acompanhe:
Ótimo, não é!? Só que não dá para fugir aos fatos
Foi lindo e emocionante ver uma mulher negra, trabalhadora da linha de frente no combate ao Covid-19 no Hospital Emílio Ribas, Mônica Calazans, receber a primeira dose da vacina.
Emocionou, da mesma forma, ver uma mulher indígena Kaimbé, a também enfermeira Vanuzia da Costa Santos, de Garulhos, ser vacinada.
João Dória é profissional de Marketing e deu um chocolate na incompetência negligente do desgoverno genocida. Embora ninguém se esqueça de que lado joga o governador paulista, que entretanto conta com a expertise e a excelência dos servidores públicos do Butantan.
Depois da euforia, justificada, com o início simbólico do processo de vacinação no domingo, em São Paulo, entretanto, o que se tem?
Primeiro, as trapalhadas do desgoverno e seu ministro da Saúde supostamente especializado em logística. A convocação às pressas dos governadores para entrega simbólica da parte que caberia a cada estado nesse primeiro momento foi patética.
Atrasos sucessivos e lógica invertida fizeram com que o Rio de Janeiro, por exemplo, que está a menos de uma hora de voo de São Paulo, só recebesse seu lote à noite, depois de Belo Horizonte e Salvador.
Os governadores que atenderam a convocação a Garulhos, saíram de lá sem um esboço de calendário para se prepararem para as próximas etapas do processo. Simplesmente porque não há qualquer coisa parecida com planejamento, que dirá uma planilha com escalonamento.
Na verdade o desgoverno sequer tem noção de como vai obter vacinas para imunizar a população do grupo de risco depois dessa primeira fase – que inclui profissionais de saúde, indígenas, quilombolas, idosos acima dos 60 anos em lares coletivos e acima dos 75 anos.
Até o marqueteiro Dória reconhece que não há garantia de insumos para seguir com a produção que atenda às necessidades do programa de imunização. Mesmo em São Paulo, sequer de parte da aplicação da primeira dose está garantida.
É que os insumos ainda estão na China, o que também impossibilita a Fiocruz de produzir a Aztrazeneca/Oxford, em parceria com a Índia, que também usa insumos chineses.
No caso da CoronaVac, além das 6 milhões de doses remetidas prontas pela Sinovac, apenas 4,8 milhões envazadas pelo Butantã estão garantidas. Desde que a Anvisa aprove o uso emergencial como no primeiro lote; o pedido foi protocolado nesta segunda.
Só para entender: o acordo com a Sinovac, segundo o Butantan, prevê 46 milhões de doses na forma concentrada para serem envazadas em São Paulo. Outras 56 milhões de doses seriam produzidas pelo próprio instituto, graças à transferência de tecnologia.
Estamos, portanto, nas mãos da China.
Quer dizer, o restante do acordo do laboratório chinês com São Paulo soma apenas 40 milhões de doses. E a produção depende de liberação daquele país, que é tratado com a delicadeza peculiar no desgoverno – do despresidente aos filhos desse entulho autoritário que nos atravanca a vida.
Até quando a gente há de penar, não sei, não sabe ninguém… Talvez depois que as instituições deixarem de funcionar normalmente.
O que inclui as Forças Armadas no seu papel constitucional, como bem lembra o professor Fernando Haddad, que bem poderia ser nosso presidente. Provocado pelo estrupício-genocida, a escorar a falta de vergonha em nova ameaça de golpe, respondeu com a classe que lhe é própria.
Pico
Chico César
eu vou tomar vacina
quem não quiser
que tome cloroquina
não vou passar vergonha
quem não quiser
que escute esse pamonha
estou já de braço esticado
com o muque amarrado
pra tomar esse pico
se o vírus me pega e me agarra
cadê minha marra
como é que eu fico?
– não brinco o carnaval nem um tico
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Outras fontes citadas:
Instituto Butantan
Jornal GGN
Revista Fórum
Tijolaço