por Sulamita Esteliam
Pernambuco entra em quarentena na quinta-feira, 18. Só funcionam os serviços tidos como essenciais. As aulas, enfim voltam a estar suspensas. Praia, parques e academias também fecham. Antes tarde, e ainda que timidamente, dada a gravidade da situação.
Na Bahia, no Ceará, em São Paulo, Minas e Mato Grosso, no Distrito Federal e outros, governadores e prefeitos encaram a necessidade de endurecer as medidas para conter a circulação de pessoas e salvar vidas.
Em boletim divulgado nesta terça, a Fiocruz aponta o colapso do sistema de saúde do Brasil pelo agravamento da pandemia: 24 estados e mais o DF estão com lotações de UTI acima de 80%, alguns acima de 90%, como é o caso de Pernambuco onde a taxa é de 96% para cima.
O vírus tem se mostrado rápido, matreiro e voraz, sem distinção de idade, atingindo adultos jovens e até crianças em números alarmantes.
Tudo, na proporção do genocídio patrocinado pelo governo federal; e da irresponsabilidade coletiva de cada negacionista que se comporta como se fora invulnerável e não transmissor , também.
Assistimos a sucessivos e desesperadores recordes. Nesta terça, contamos 2.842 mortos em 24 horas e ultrapassamos 280 mil vítimas fatais da Covid-19. Os dados são do Conass – Conselho Nacional de Secretários de Saúde.
A saber se é “situação extrema” suficiente para o novo ministro Marcelo Queiroga, tomar atitude, recomendar, estimular e apoiar o dito lockdown amplo, geral e irrestrito, ou ao menos onde a situação exige?
Restringir a circulação de pessoas, além das medidas de profilaxia e, óbvio, da vacinação massiva e rápida são fundamentais para barrar o avanço do vírus. Menos para conter o ser que desgoverna este país.
Dois em cada dois infectologistas e cientistas como Miguel Nicolelis, por exemplo defendem as medidas. Ele, inclusive, celebra no Twitter a decisão do governo de Pernambuco, apesar da demora.
Minha visão de leiga é fundamentada, portanto. Toque de recolher e restrições de fim de semana é lockdown de cabaré.
Pego carona nas excelentes reportagens da equipe do Marco Zero Conteúdo que traçam o quadro sanitário real do estado, ouve profissionais de Medicina que estão na linha de frente das pesquisas e do enfrentamento da pandemia. Linco ao pé da postagem.
O sítio alternativo pernambucano faz jornalismo na veia, com compromisso com os fatos e a cidadania.
As UPAS, porta de entrada do SUS estão em colapso. Faltam leitos nas UTIs, faltam macas e há filas à espera de ambulância e de pontos de oxigênio.
O governo não consegue abrir leitos suficientes na medida do avanço da doença. E, para conter o vírus, é preciso coragem para enfrentar as pressões, não ter medo de cara feia, e ousadia para fazer o que é preciso ser feito.
Mirem-se no exemplo de Araraquara, no interior de São Paulo, governada por Edinho Silva, do PT: fechamento total por duas semanas, até de supermercado, o transporte coletivo foi suspenso e a circulação de pessoas proibida por 15 dias.
Um chega pra lá no seu corona, que enfim recuou em 50%. É exemplo a ser seguido, aponta a própria Fiocruz.
Não se pode dar ouvidos à imbecilidade que reina nas ruas, inclusive com carreatas contra a quarentena, como se viu no fim de semana.
Se apenas os energúmenos sofressem as consequências da própria ignorância, talvez até ajudasse a conter a peste, e a limpar o ambiente da contaminação virótica da anomalia, mas não é o que acontece. São bombas ambulantes contra a saúde física, política e mental.
Mas não estão sós. Aqui, também, as entidades empresariais chegaram ao extremo de, horas antes do anúncio das medidas, convocar coletiva de imprensa para tentar intimidar o governo a não endurecer nas restrições de convívio social.
E não são poucos os prefeitos que nadam contra o vento do bom senso, também. Como se a economia pudesse funcionar sem gente viva e saudável.
Falsa dicotomia apontada pelo epidemiologista Rafael Moreira, entrevistado pela reportagem citada. Pesquisador da Fiocruz e professor da UFPE, ele considera que as medidas restritivas vieram tarde, são brandas e com duração insuficiente.
“As pessoas associam a pressão econômica ao fato de que as pessoas, sem trabalhar, vão morrer de fome. Isso é uma falácia. A pressão econômica tem que ser pela vacinação rápida, porque isso é que vai permitir que o lockdown não ocorra. Temos que ter manifestações é por medidas de auxílio econômico e pela compra de vacinas.”
A médica sanitarista Bernadete Perez, vice-presidente da Abrasco – Associação Brasileira de Saúde Coletiva, também ouvida pelo MZ Conteúdo, defende a quarentena ainda que tardia. Ela reconhece as pressões econômicas e “a sabotagem do governo federal” nos protocolos e no suporte técnico, político e financeiro, mas é demolidora na crítica à atuação do governo estadual:
“O foco em abertura de leitos temporários de UTI em hospitais também temporários não diminui a circulação do vírus. Pernambuco ignorou completamente a importância da Atenção Básica e da vigilância epidemiológica ao não fazer busca ativa de casos suspeitos nas comunidades, não fazer testagem em massa nem isolar os casos confirmados e de pessoas que tiveram contato com doentes.”
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Fontes recorridas
Marco Zero Conteúdo
Rede Brasil Atual
Revista Fórum