O novo ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, começou mal. Seu estímulo à celebração do golpe civil-militar e empresarial de 64 caiu na própria esparrela.
Falhou a tentativa de aplicar o inadmissível, em sintonia com o capiroto-presidente e o vice Mourão, o parcimonioso de fachada. O “escorpião”, como é definido pelo colega brasiliense, Luiz Costa Pinto, errou o bote.
O que não significa que se pode deixar de ficar de olho nele. Aliás, o que esconde o general sobre a execução de Marielle e Anderson? Era ele o interventor no Rio de Janeiro, há três anos.
De volta ao 31 de Março de 2021, o nível de repercussão nas redes sociais foi um fiasco perceptível a olho nu. A narrativa bolsonarista foi engolida pelos protestos contra a ditadura civil-militar, a tortura e as restrições de liberdade impostas pelo totalitarismo.
E é o que revela o monitoramento diário que atribui menos de 20% de agregação de usuários e 27% das conexões. Palavra de Pedro Barciela, especialista em dados consultado por Carta Capital – link ao pé da postagem.
Perdeu, general!
É a boa notícia de um dia tenso por natureza: maioria no ativismo digital em defesa da democracia, isso sim, é para ser celebrado. Euzinha mesma vou ter que botar as garras no gelo para conseguir pegar no sono.
A ditadura civil-militar foi um período trevoso, de terror continuado, que durou 21 anos, e deixou sequelas profundas, que o país precisa resgatar. Só não se compara à herança nefasta dos 300 anos de escravidão.
Os abusos de toda sorte da repressão, inclusive de crianças, além das restrições severas de liberdade, censura, perseguições e assédios moral, prisões, exílio, estupros, tortura e morte não podem ser esquecidos.
A charge de Carol Cospe Fogo, que abre esta postagem, traduz à perfeição. Obrigada.
Sorte é que algumas das pessoas submetidas ao flagelo estão vivas para manter ativa a memória. A começar pela presidenta Dilma Rousseff, que amargou três anos de prisão e tortura, por se opor ao regime.
Outra sobrevivente dos porões da Oban – Operação Bandeirantes, de triste memória, é Amelinha Teles, presa junto com o marido Cesar, nos anos 70. Ela foi torturada pelo mesmo algoz de Dilma Roussef, à época o major Carlos Alberto Brilhante Ustra, herói do capiroto-genocida que desgoverna o Brasil.
A entrevista abaixo é de 2013, ao colega Luiz Carlos Azenha, do Vi o Mundo:
A jornalista Rose Nogueira também sobreviveu para contar os horrores da repressão a partir de 1964. Ela trabalhava na Folha de São Paulo e era militante da ALN – Ação Libertadora Nacional quando foi presa ,em 4 de novembro de 1969, na capital paulista.
Trecho em que relata tortura e abusos em sua prisão no Doi-Codi de São Paulo circulou intensamente na rede, nesta quarta, aniversário da deflagração do golpe de 1964, consolidado no dia 1º de abril.
É parte do seu depoimento ao livro Tiradentes, um presídio da ditadura, de Alípio Freire, Expressão Popular, 1997.
Transcrevo:

por Rose Nogueira – nas redes sociais
‘Sobe depressa, Miss Brasil’, dizia o torturador enquanto me empurrava e beliscava minhas nádegas escada acima no Dops. Eu sangrava e não tinha absorvente. Eram os ‘40 dias’ do parto.
Na sala do delegado Fleury, num papelão, uma caveira desenhada e, embaixo, as letras EM, de Esquadrão da Morte. Todos deram risada quando entrei.
‘Olha aí a Miss Brasil. Pariu noutro dia e já está magra, mas tem um quadril de vaca’, disse ele. Um outro: ‘Só pode ser uma vaca terrorista’.
Mostrou uma página de jornal com a matéria sobre o prêmio da vaca leiteira Miss Brasil numa exposição de gado. Riram mais ainda quando ele veio para cima de mim e abriu meu vestido.
Picou a página do jornal e atirou em mim. Segurei os seios, o leite escorreu. Ele ficou olhando um momento e fechou o vestido. Me virou de costas, me pegando pela cintura e começaram os beliscões nas nádegas, nas costas, com o vestido levantado.
Um outro segurava meus braços, minha cabeça, me dobrando sobre a mesa. Eu chorava, gritava, e eles riam muito, gritavam palavrões.
Só pararam quando viram o sangue escorrer nas minhas pernas. Aí me deram muitas palmadas e um empurrão.
Passaram-se alguns dias e ‘subi’ de novo. Lá estava ele, esfregando as mãos como se me esperasse. Tirou meu vestido e novamente escondi os seios.
Eu sabia que estava com um cheiro de suor, de sangue, de leite azedo. Ele ria, zombava do cheiro horrível e mexia em seu sexo por cima da calça com um olhar de louco.
No meio desse terror, levaram-me para a carceragem, onde um enfermeiro preparava uma injeção. Lutei como podia, joguei a latinha da seringa no chão, mas um outro segurou-me e o enfermeiro aplicou a injeção na minha coxa.
O torturador zombava: ‘Esse leitinho o nenê não vai ter mais’. ‘E se não melhorar, vai para o barranco, porque aqui ninguém fica doente.’
Esse foi o começo da pior parte. Passaram a ameaçar buscar meu fillho. ‘Vamos quebrar a perna’, dizia um. ‘Queimar com cigarro’, dizia outro.
*ROSE NOGUEIRA, jornalista, ex-militante da Ação Libertadora Nacional (ALN)
Foto capturada no DCM
Clique para ler a íntegra do depoimento de Rose Nogueira.
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Fontes requeridas
Carta Capital
Bolsonaro derrete e não emplaca celebração à ditadura nas redes
Tijolaço
Luís Costa Pinto: Braga Netto, o escorpião
Estado de Minas
Novo Ministro da Defesa, general Braga Netto, pede celebração do golpe de 1964
Vi o Mundo
Esquerda Online
Amelinha Teles, sobrevivente de Ustra: “Minhas crianças me viram sendo torturada”