por Sulamita Esteliam
“Quem não sabe de onde vem, não sabe pra onde vai?”, a pergunta que é parte do título do documentário ‘Origens’, do jornalista Ismael dos Anjos.
Lançado nesta terça no YouTube, diz muito da angústia da busca do pertencimento, sobretudo para a população afrodescendente.
O documentário mostra os testes de DNA de quatro artistas brasileiros que buscaram a origem de seus antepassados: Péricles, Mc Carol, Yuri Marçal e Eliana Alves Cruz.
Ismael tem-se se enveredado pelas trilha cinematográfica com grande acuidade, ele que é fotojornalista, com mestrado pela Universidade de Londres em fotografia documental, e também repórter-cronista, dos bons.
Esse casamento resulta num trabalho arguto, delicado e pleno de humanidade a um só tempo. Sem contar que ele próprio carrega a interrogação que atiça boa parte, se não todos, de nós.
Depois do” Silêncio dos Homens”, lançado em 2019, coordenado por ele, Origens mexe com as entranhas da gente.
Mesmo quem não partilha a cor da pele, nem sofre o que Ismael define, apropriadamente, como o “mais bem sucedido projeto político de racismo no mundo”. Sim, ele se refere à “grande e complexa mentira da democracia racial brasileira”.
Só quem é preto pode falar com propriedade. Mas não é preciso ser negro para ter olhos para ver.
Com a palavra, o autor do documentário, com a devida autorização:
De de onde você veio?
por Ismael dos Anjos – no Instagram
“De onde você veio?”. Eu vim de Rosa e Tarciso. Tarciso? De Leontina e Vicente. E Vicente, por sua vez? Veio de João e Jovelina — e a história para por aí. Minha bisavó, de quem sei pouco mais que o nome e a cor da pele, nasceu “de ventre livre”. Filha de negros escravizados na fazenda que vovô João herdaria se não tivesse se engraçado com a negrinha, a ideia dessa bisavó é o que me resta para entender de onde veio parte importante do que me constitui enquanto homem negro nesse país.
Essa ausência é dor coletiva, compartilhada por 56% da população brasileira. Estreou hoje, terça feira, o documentário “ORIGENS – Quem não sabe de onde vem, não sabe pra onde vai?”, que dirigi para o selo de documentários do @uoloficial. A escritora @elialvescruz é a autora da frase marcante que abre o doc. “Sentimento de solidão é algo que a gente conhece muito. ‘Solidão’ é uma palavra que a gente conhece mais profundamente do que a palavra amor”. Por esse passaporte, veja bem, ninguém briga no consulado.
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Depois de gerações se agarrando à oralidade para preencher partes dessa colcha de retalhos, agora temos os testes de DNA como ferramentas que ajudam a reparar parte do apagamento e entender um pouquinho mais sobre o que a gente vê no espelho. Vão lá no link da bio e assistam. Também entrevistei @mccaroldeniteroioficial, , @oyurimarcal, e @pericles, que disse o seguinte sobre o que o resultado que a ciência lhe proporcionou: “Eu me senti acolhido, essa é a sensação que dá: de alívio. Nós viemos de algum lugar, temos uma raiz. Saber de onde veio dá um sentimento de pertencimento”. Antes de tudo, esse filme é uma conversa sobre direito à memória.
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Espero que ressoe por aí. A fotografia e edição são das maravilhosas da @pujanca, a arte incrível que você vê acima é do @nedango. Equipe de maioria negra, construída a partir de um convite de @agagomes, @fabiuchi, e @ligiacarriel.
Assista: “ORIGENS – Quem não sabe de onde vem, não sabe pra onde vai?”
Obrigado pelo carinho com o trabalho e por tudo mais, Sula. Seguimos pelos caminhos 🙂
Obrigado pelo carinho com o trabalho e por tudo mais, Sula. Seguimos caminhando 🙂
Tamos juntos.