por Sulamita Esteliam
Bem que a gente merecia cultivar a dose de felicidade que mulheres e homens atletas nos proporcionaram ao longo das Olimpíadas de Tóquio. As mulheres, então, fizeram história, e o Nordeste também, sobretudo a Bahia. Salve, salve!
Mas parece impossível a gente ser feliz de novo, ao menos enquanto formos desgovernados pela aberração que ocupa o palácio presidencial.
Não basta ser genocida de mais de meio milhão de brasileiras e brasileiros pelo descaso e irresponsabilidade no controle da pandemia de Covid-19.
O semestre já virou e ainda não chegamos a um quarto da população brasileira imunizada com as duas doses mais dose única de vacinas. E a primeira dose só chegou a metade do povo acima dos 18 anos.
Não basta manter milhares de compatriotas – já que mastigam o sentido da palavra e obram sobre ela dia e noite, cotidianamente – famintos, sem teto, sem horizonte.
Se o Congresso não tomar tento, ainda que tardiamente, daqui há pouco não se tem direito a carteiro batendo em sua porta, já que até os Correios o Centrão aceita vender em troca de benesses umbilicais.
Tem que matar a esperança também.
Tem que pisotear a dignidade.
Tem que cachoalhar todos os fantasmas e exibi-los à luz do dia, como títeres do precipício trevoso.
Se é blefe, canalhice ou balbúrdia, trapaça ou palhaçada, passou de todos os limites.
Colocar tanques e armamentos na Esplanada dos Ministérios, na Praça dos Três Poderes no dia previsto para a votação da PEC do voto impresso no plenário da Câmara, é mais do que provocação inconsequente ao Congresso: é intimidação golpista, claramente.
Não se pode fazer de conta que é brincadeira, levadeza de um desmiolado.
É ameaça, e é crime. É violar a Constituição que deveria ser o guia de qualquer governante com um mínimo de compromisso democrático.
O Congresso vai aceitar?
Quem da minha geração tem memória, ou fez o dever de casa no estudo da História deste país, há de se lembrar ou saber: em 1984, o projeto da Emenda Dante de Oliveira – nome do deputado autor da PEC que restabelecida eleições diretas para presidente – foi derrotado por 298 votos a 6 mais 3 abstenções.
Dois dias antes, o general Newton Cruz, chefe do SNI, comandou um desfile de 6m mil soldados e 116 tanques e blindados pela Esplanada dos Ministérios, sitiando o Congresso Nacional.
A pressão surtiu efeito e 113 deputados se ausentaram da votação. Apesar da maioria obtida, seriam necessários 320 votos para a emenda constitucional passar pelo crivo do Senado.
Bravata, intimidação ou arruaça. Ou, ainda, como quer o presidente da Câmara e chefe do Centrão, Arthur Lira (PP-AL), “trágica coincidência”.
Seja o que for, alguém precisa mostrar ao capitão e seus generais mamulengos, que esse país não aceita mais ditadura e já se cansou da exibição cotidiana no picadeiro.
E as Forças Armadas, tão vetustas e ciosas de seus deveres para com a nação brasileira, quem diria, se prestam, como bem define o colega Fernando Brito, ao papel de “soldadinhos de chumbo” do – aí digo Euzinha – capiroto travestido de comandante de si mesmo.
Do que li, a única voz do Parlamento a reagir energicamente ao absurdo foi a do vice-presidente da CPI do Genocídio, senador Randolfe Rodrigues:
Sim é o Tijolaço, o blogue do Brito, que capturei a imagem que abre esta postagem.
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Fontes requisitadas:
Jornal GGN
Ameaça? Bolsonaro planeja desfile com tanque de guerra no dia da votação do voto impresso
Estadão vê “ameaça de golpe” e Folha pede o impeachment de Bolsonaro
Tijolaço
Militares seriam ‘soldadinhos de chumbo’ de Bolsonaro?
Jornalistas pela Democracia/Helena Chagas
Bolsonaro, encurralado, só quer Tumultuar
Agência Senado
Senadores repudiam desfile militar anunciado por Bolsonaro
Agência Câmara
Lira afirma que desfile de tanques na Esplanada nesta terça-feira é uma ‘trágica coincidência”
Câmara pode votar PEC do voto impresso nesta terça-feira
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Postagem atualizada em 11.08.2021, às 21:33 horas: correção de erros de digitação e de ortografia.