por Sulamita Esteliam
O assunto do dia nas Minas Gerais e Brasil afora é a postura vergonhosa da Fiemg – Federação das Indústrias de Minas Gerais, em nota que, pretensamente em defesa da liberdade de expressão, junta-se à artilharia da milícia que desgoverna o país contra as instituições e a democracia.
Em nota divulgada neste primeiro de setembro, a entidade defende o direito à mentira como meio de expressão política. Direitos individuais acima de tudo e de todos.
O “Manifesto pela Liberdade” seria cômico se não fosse trágico. Revela a que ponto pode chegar a manipulação alçada à condição de baluarte do Estado Democrático de Direito. Linco ao pé da postagem.
A Casa do Jornalista de Minas soltou Nota de Repúdio, que inclusive foi lida no plenário da Câmara pelo deputado Rogério Correia (PT).
O amigo jornalista Orion Teixeira publica a íntegra da nota da entidade em seu blog e também no site Além do Fato.
Escreve ele:
“Sob o pomposo nome “Manifesto pela Liberdade”, a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) aproveitou-se do racha do empresariado nacional e divulgou nota em tom crítico ao STF. Como o governador Romeu Zema (Novo) assumiu o lado contrário da defesa das instituições democráticas, como o Supremo Tribunal Federal, atacadas por Bolsonaro. Ministros do STF são constantes alvos de ameaças bolsonaristas, que até ameaçam invadir a sede do Poder Judiciário, e dos atos do próximo dia 7 de setembro.
De uma semana para outra, Zema trocou a posição de ficar em cima do muro, contra “intrigas palacianas”, para defender Bolsonaro dos “defeitos do STF e do Congresso Nacional”. No momento em que instituições democráticas e republicanas defendem a independência de julgar do Supremo, a Fiemg adotou outro argumento. E o chamou de defesa da liberdade de expressão, que tem sido usada em larga escala para propagar fake News e ameaçar a democracia.”
O link está mais abaixo.
Na verdade, a Fiemg não surpreende. A entidade é conservadora, desde sempre, ou quase. Apoiou o golpe civil-militar de 1964, que nos jogou 21 anos no limbo autoritário. Depois fingiu que não era parte do problema.
Há exceções a serem louvadas. Em 2016, por exemplo, o então presidente da entidade, Olavo Machado Júnior, se recusou a assinar o manifesto pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff, capitaneado pela Fiesp e seu pato amarelo.
Os dois mandatos de José Alencar Gomes da Silva à frente da Fiemg, de 1988 a 1994, são outro exemplo, digamos, de progressismo,
O futuro vice-presidente do Brasil nas gestões Lula – 2003 a 2010 -, declarou publicamente que Collor de Mello não teria seu voto para presidente em 1989. Na contramão da classe que dirigia, disse também, a esta velha escriba, que não via razões para se temer o ex-metalúrgico.
A nota da Fiemg repercutiu mal nacionalmente. Até por, supostamente, estar na contramão de outras entidades empresariais, como a Fiesp e a própria Febraban. Esta semana a organização paulista ameaçou soltar nota em apoiou à estabilidade democrática.
Recuou, valendo-se da desculpa de colher mais assinaturas. De fato, o PIB nacional está em polvorosa, mas deve lembrar-se muito bem do que fez no inverno, primavera, verão e outono passados.
II Manifesto dos Mineiros
Agrego pós-publicação, por que revela-se importante contradição, a mostrar que nem tudo é treva no mundo empresarial das Gerais.
Na terça-feira, 31 de agosto, a Associação Comercial de Minas Gerais divulgou o que define como sendo o segundo II Manifesto do Mineiros. O primeiro foi em 1943 contra a ditadura imposta por Getúlio Vargas no chamado Estado Novo.
Getúlio voltaria em 1947, eleito democraticamente, tornando-se, o “pai dos pobres”, até ser levado ao suicídio pela elite político-empresarial representada pela UDN, na voz troante do deputado carioca Carlos Lacerda.
Bom, o manifesto de agora, tem a lavra do presidente da ACMinas, José Anchieta da Silva e objetiva, segundo ele, “recuperar a democracia do país”.
Pede reformas do Estado, amplas, gerais e irrestritas, da política-eleitoral à tributária, da educação, da segurança e constitucional.
Reconhece, todavia, que “a Constituição de 1988 já cumpriu seu papel histórico de assegurar a democracia e valorizar a cidadania”.
O documento reúne 212 assinaturas e pretende chegar a 300, em homenagem ao tricentenário mineiro. Está registrado em cartório e deve ser entregue às autoridades neste 7 de setembro, quando se comemora a Independência do Brasil.
Está publicado no jornal Diário do Comércio, reproduzido no site da ACMinas. Link abaixo.
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Fontes requisitadas:
Blog do Orion : Fiemg exibe alinhamento a Bolsonaro e Zema em nota crítica ao STF
(notícia publicada também no Além do Fato)
Fiemg: Manifesto pela Liberdade
Luiz Muller em 13.04.2016: A Federação das Indústrias de Minas Gerais é contra o golpe
Diário do Comércio/ACMinas: Mineiros lançam manifesto pela democracia brasileira